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Pesquisa no RS mostra como empresas respondem à crise provocada pela pandemia

Levantamento inédito, realizado no Rio Grande do Sul, mapeou as principais decisões que as empresas gaúchas estão tomando para enfrentar a crise do novo coronavírus. Realizada em junho, a pesquisa consultou mil companhias de diferentes ramos de atuação e de todas as regiões do Estado. A iniciativa foi do escritório Biolchi Empresarial, consultoria especializada em reestruturação de empresas e superação de crises, com coordenação do Instituto Index.

Na avaliação da sócia-diretora da Biolchi Empresarial, Juliana Biolchi, os resultados aferidos formam o retrato de uma economia que ainda não percebeu todos os efeitos negativos da crise – e precisa se preparar para o que vem pela frente. “Os números nos mostram que muitos empresários seguem preocupados em vencer as contas de um dia para o outro, mas ainda não estão tomando as atitudes necessárias para o futuro”, alerta.

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Um dos aspectos que reforçam essa percepção é o do aumento do endividamento: apenas 26,3% das empresas contraíram dívidas no sistema financeiro. Segundo a especialista, ao contrário do que possa parecer, esse número deveria ser maior.

“Quando estoura uma crise, as companhias precisam de caixa. Caso contrário, morrem sufocadas. As boas práticas de gestão de crise recomendam a formação de um colchão de recursos para contingências, o que é, em boa parte, feito com recursos do sistema financeiro. O que muitas estão fazendo é apenas postergar a dívida por alguns meses. Isso significa apenas ‘trocar a parede de lugar’, embora a batida seja inevitável”, observa Juliana.

Uma das explicações para isso, na avaliação dela, é que os empreendedores chegam até os bancos sem projetos que comprovem sua viabilidade. “Há dinheiro na praça. O que falta, muitas vezes, é planejamento.”

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Empresários preferem a negociação

Buscar a Justiça para recuperar as empresas ainda parece não estar no horizonte das companhias gaúchas. De acordo com o levantamento da Biolchi Empresarial, apenas 5,7% delas consideram a recuperação judicial, enquanto a possibilidade de falência é admitida por 4,6%. “Os empresários preferem negociar e estão obtendo resultados. O ambiente é de diálogo e transparência. Nesse cenário, há outras ferramentas que podem ser consideradas, e que são inclusive mais efetivas”, aponta Juliana.

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Embora pouco conhecida, a recuperação extrajudicial – chamada de “recuperação branca” – está prevista na lei brasileira. “O devedor em crise negocia diretamente com os credores um plano de pagamento, coerente com seu fluxo de caixa projetado, que, no contexto atual, deve ser ajustado para uma nova realidade”, explica a especialista. Essa é uma alternativa levada em conta por 6,4% das companhias ouvidas.

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Estiagem e coronavírus afetam setor do agronegócio

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Responsável por mais de um terço do PIB gaúcho, o agro vive um momento delicado não apenas pelo novo coronavírus. Em função da estiagem, os negócios do campo enfrentam dificuldades. Na pesquisa da Biolchi, o setor foi o que mais demitiu: 83,8% das empresas diminuíram o número de funcionários. “Vivemos um momento de profissionalização da atividade rural. Mas isso não pode ocorrer apenas nas técnicas de produção: deve também se refletir na gestão interna dos negócios”, alerta Adriano José da Silva, sócio-diretor da Biolchi.

Para o especialista, o elevado número de demissões pode estar relacionado a diversos fatores. A quebra da safra agrícola e a menor necessidade de uso de mão de obra intensiva em função da tecnologia são alguns. “Nesse contexto, é imperativo profissionalizar a gestão. Há muitas oportunidades de captar recursos a juros acessíveis, seja para novos investimentos, seja para mudar o perfil da dívida”, ressalta.

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Segundo ele, para a manutenção da operação e dos empregos é necessário buscar apoio externo para calcular riscos e avaliar ações. “Por falta de conhecimento, muitos produtores não aproveitam oportunidades que surgem. Há linhas de crédito, iniciativas de reestruturação de dívidas e outras dinâmicas que podem garantir o fôlego necessário nesse momento de crise dupla”, afirma.

Mesmo com todas as dificuldades, o especialista ainda vê o setor como um oásis de oportunidades. “A seca ocorreu aqui no Rio Grande do Sul, mas os demais estados são consumidores potenciais da nossa indústria de máquinas e equipamentos. O segmento de proteína animal vive um momento único: somos um dos principais players em exportação mundial, e os gaúchos têm uma participação importante nisso. Mesmo com a crise, é possível creditar ao agronegócio o caminho para a retomada”, conclui Adriano.

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Trabalho

O impacto nos empregos também já é uma realidade para 27,3% dos negócios – que admitiram ter demitido pelo menos um funcionário. A suspensão de contratos de trabalho chegou a 33,9%, enquanto a redução de carga horária e salários atingiu 32,1% dos entrevistados. O percentual aumenta na relação com fornecedores: 38,7% dos entrevistados relataram renegociações nesse âmbito.

Para o advogado trabalhista Flavio Ordoque, o percentual de empresas beneficiadas pelas medidas propostas pelo governo federal poderia ter sido maior. “Surpreende que esse número seja tão baixo. Talvez não imaginássemos que duraria tanto tempo”, indica o especialista. Com as Medidas Provisórias 927 e 936, o Palácio do Planalto buscou auxiliar as empresas com a expectativa de uma retomada em breve, possibilitando antecipação de férias, feriados, redução de carga horária e salário proporcional.

“Pode ser que essas ações tenham sido tomadas muito cedo em relação ao momento da chegada efetiva do coronavírus e seus problemas no País. Isso causou uma sensação de certo conforto antes da hora”, indica Ordoque. Na avaliação dele, a pesquisa revela certo otimismo da indústria – que pode ou não se confirmar.

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RETRATO DA SITUAÇÃO

Na avaliação do diretor do Instituto Index, Caco Arais, essa é a pesquisa mais abrangente sobre os impactos do coronavírus entre empresas gaúchas desde o início da crise. “Foram mil entrevistas ao todo, o que nos dá um panorama completo e representativo da economia do Estado.” Os contatos foram por e-mail e telefone.

A margem de erro é de 2,8%, para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. Segundo Juliana Biolchi, os dados coletados esclarecem quais os principais efeitos da crise na economia real. “Vivemos uma crise causada por um inimigo invisível, traiçoeiro e ainda pouco conhecido. É difícil prever o futuro diante dessas condições, e a pesquisa demonstra que as empresas gaúchas ainda estão com dificuldade de saber quais medidas tomar.”

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