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Pescadores se queixam da falta de peixes no Rio Pardinho

De hoje até 31 de janeiro, a pesca profissional ou com uso de redes está proibida. Durante os próximos três meses, ocorre o período de reprodução dos peixes. Nesta época, a concentração deles junto a barragens e nascentes de rios é muito maior. No entanto, no Rio Pardinho, uma crítica vinda dos ribeirinhos faz subir o tom no cuidado durante a piracema.

A subida das espécies para a desova tem como obstáculos a barragem de captação do Lago Dourado e a falta de um acesso confortável. “Antes desta barragem o nível do rio era outro. Com isso, a subida dos peixes era muito maior. Eles precisam da água rasa para desovar. Sempre se tinha peixe em abundância no Rio Pardinho”, relata Irineu Vilibaldo Becker, pescador desde a década de 1960.

Becker, que tem até carteira de pescador e, na piracema, recebia um salário-auxílio do governo federal para não pescar no Pardinho, é seguido por Renato Goetze e Hildor Oldemburg. O trio, que coleciona histórias, não vacila ao dizer que o Pardinho está quase sem peixes. “A gente pescava dourado, piava, grumatã e jundiá. Agora nem lambari sobe direito”, reclama Goetze, preocupado com a ausência dos peixes acima da barragem do Lago Dourado. “Está muito difícil, parece que o rio está morrendo sem os peixes na parte mais alta”, atesta.

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Para transpor a barragem, as espécies precisam de uma escada. Ocorre que o acesso feito pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), responsável pela área, é, segundo os pescadores, inadequado. “Os peixes não sobem por ela”, ressalta Becker.

Para agravar a situação, na área onde fica a barragem do lago o vigia que cuidava do espaço que dá acesso ao rio foi dispensado pela Corsan há mais de dois anos. “Parece que está tudo liberado aqui”, diz Oldemburg, referindo-se à fiscalização contra a pesca no local.

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Pesquisa atesta desequilíbrio

Conforme o professor de Biologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Kohler, há dez anos a instituição realizou um estudo junto ao Rio Pardinho. O levantamento tinha como objetivo verificar as populações de peixes no rio. Na época, o levantamento apontou que acima da barragem havia menos peixes. “Isto não significa que o rio está sem vida, mas sim que o sistema está em desequilíbrio. Existem espécies que não conseguem fazer a migração na barragem.”

O professor diz que não só a barragem e a escada – considerada inadequada à subida dos peixes – contribuem para o esvaziamento do Pardinho. Kohler revela que o uso de agrotóxicos nas proximidades do manancial também influencia.

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Sobre a interferência da redução dos cardumes na qualidade da água, ou na “vida” do rio, o professor conta que as propriedades físico-químicas da água não são alteradas por isso. “A redução de peixes impacta na atividade de pesca e na sobrevivência de outras espécies, como pássaros e mamíferos, que se alimentam deles. Na ausência dos peixes, estes animais também vão embora.”

Para o professor, a barragem e a instalação da escada, associadas ao uso de defensivos, prejudicam a pesca e a oferta de peixes no Pardinho. “Na época, nós alertamos o Município e a própria Corsan”, complementa Kohler.

Estado afirma que instalação é adequada

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A barragem para captação do Lago Dourado foi construída pela Corsan no fim da década de 1990. Questionada a respeito da reclamação dos pescadores, a Corsan disse à Gazeta do Sul, por meio de sua assessoria de imprensa, que a escada localizada junto à barragem de captação do lago já foi objeto de inquérito civil, arquivado em novembro de 2016. Segundo a estatal, no decorrer do processo, os técnicos do Ministério Público fizeram diversas sugestões de adequação para a escada de peixes e todas foram implementadas pela Corsan.

A empresa destaca que foi efetuado um levantamento do conjunto de espécies de peixes previamente à instalação da barragem e nos dez anos subsequentes. Com as informações desse monitoramento, concluiu-se que tanto a quantidade de peixes como as espécies encontradas não sofreram redução. Tampouco foram encontrados peixes de longa migração no manancial.

O comunicado ressalta ainda que a área da barragem, que está sem os serviços de vigilância, não se encontra abandonada. A nota frisa que o espaço está devidamente fechado, com acesso restrito e controlado pela companhia. A vigilância que existia está sendo substituída por videomonitoramento. A Corsan reforça, também, que é a responsável por monitorar e operar as estruturas da barragem, não o acesso ao rio.

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Prefeitura desconhece estudo sobre os problemas no rio

De acordo com o secretário Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Raul Fritsch, os técnicos da pasta desconhecem o estudo mencionado pelo professor Andreas Kohler. “Nós temos acesso a um levantamento que foi feito pela Universidade Federal de Santa Maria, a pedido da Corsan, sobre o repovoamento do Rio Pardinho”, confirma.

Conforme Fritsch, o estudo da UFSM teria dito que o repovoamento de espécies de peixes no Rio Pardinho só poderia ser feito com determinação do Estado. “Aquela é uma área de domínio do governo do Estado, por causa da Corsan”, argumenta.

Ainda com relação ao trabalho técnico desenvolvido pela Corsan, Fritsch salienta que o relatório teria apontado que são necessários monitoramento e um acompanhamento das populações de peixes no rio. “Nós não temos a informação de uma redução de peixes no Rio Pardinho.”

Segundo o presidente da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados de Santa Cruz do Sul (Agerst), Auro Schilling, embora a agência seja responsável por fiscalizar o contrato entre a prefeitura e a Corsan, a situação junto à barragem de captação do Rio Pardinho diz respeito à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade.

Inquérito

Em junho de 2018, a promotora de Justiça Vanessa Saldanha de Vargas, substituta da Promotoria de Justiça Especializada do Ministério Público (MP) de Santa Cruz do Sul, arquivou o inquérito que apurava irregularidade na barragem do Rio Pardinho.

A base foi uma análise feita pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que não foi conclusiva ao apontar a causa de uma possível redução de peixes no Rio Pardinho, a partir do uso da escada na barragem.

Na sua manifestação, a promotora apontou que como sugestão, a Fepam teria indicado o uso de câmeras para monitorar a subida de peixes na escada de acesso à barragem.

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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