Recebi a notícia de que, na semana passada, alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Willy Carlos Fröhlich (Polivalente) discutiram um texto meu em sala de aula, na disciplina de Filosofia. Fico feliz por ter sido digno da atenção da turma 304, pelo fato de alguns estudantes terem se identificado com o que escrevi. Curiosamente, o texto em debate foi um dos mais pessoais que divulguei aqui, sobre um episódio que me fez pensar na natureza precária e frágil da vida, a minha e de qualquer um.
Pensamento que voltou com toda a força no início desta semana. Difícil de entender. Como alguém que você conheceu, com quem conversou várias vezes, riu, trocou ideias, gostos em comum (por exemplo, a literatura), alguém que fez parte do seu mundo deixou de existir? Ontem estava por perto, agora não está mais. De uma hora para outra.
Rodrigo Bartz tinha 39 anos. Tinha de morrer? Não há respostas. Só a pergunta, esse pensamento enorme que, por vezes, somos obrigados a repensar.
E o que fica? Mais vale falar da vida. Porque alguma coisa sempre permanece, se acreditarmos no que diz Carlos Drummond de Andrade em Resíduo. De tudo vai restar algo – por exemplo, “um pouco do teu queixo no queixo de tua filha”. Algo vai ficar na memória dos que seguirão em frente; e, quando nem isso houver, restarão vestígios da passagem, dispersos pelo mundo. “Se de tudo fica um pouco / mas por que não ficaria / um pouco de mim?”, indaga o poeta. Outra pergunta imensa.
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Vou insistir um pouco na literatura, porque sei da importância que ela tinha para o Rodrigo. De certa forma, isto é uma despedida, então que seja assim. O argentino Jorge Luis Borges escreveu a respeito do “fato notório de que ninguém pode morrer”, e de como isso o maravilhava. “Como pode morrer uma mulher ou um homem ou uma criança, que foram tantas primaveras e tantas folhas, tantos livros e tantos pássaros e tantas manhãs e noites”, ponderou, em um breve texto intitulado Abramowicz. Isso não parecia razoável para Borges.
O que fazia sentido para ele é que, neste mundo, nada pode deixar de projetar sua sombra ou sua luz. Nada pode, definitivamente, morrer.
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