Longe da correria intensa da cidade, rodeado pela natureza e descobrindo novas formas de aproveitar os recursos naturais. É assim que o sobradinhense Francisco Zuchetto, de 33 anos, segue seu dia a dia na localidade de Rincão de Segredo, no interior de Sobradinho. Técnico agrícola por formação, resolveu repaginar sua vida e buscar novas perspectivas de cultivo e valorização do meio ambiente. A relação de Francisco com a natureza vem de família. O pai dele sempre gostou de chás naturais, e começou a mostrar as ervas ao filho, que guardou na lembrança cada relato e começou a cultivar as plantas.
O jovem vem de uma família de fumicultores e se dedicou ao cultivo do tabaco por vários anos junto aos pais. Contudo, nos últimos anos, Francisco começou a se questionar sobre o seu envolvimento na produção de tabaco, pensando, principalmente, em relação à qualidade de vida. Muito dessa dúvida do sobradinhense vinha pelo seu envolvimento com a permacultura e seu desejo de trabalhar o cultivo na lavoura de uma forma diferente.
Francisco buscou um local retirado na propriedade dos pais, no meio do mato, onde iniciou a construção de sua casa. “Arregaçou as mangas” e está organizando a idealização de seu sonho através de um abrigo que leva em conta a bioconstrução. “Esse é um dos ramos da permacultura, quando utilizamos do barro, da madeira, de tudo o que a gente tem na propriedade para construir nossa casa. Quando comecei a construir ainda não conhecia muito sobre, por isso eu usei concreto na estrutura, mas os tijolos são de demolição, as madeiras foram retiradas da propriedade, a mão de obra foi minha e sigo fazendo vários testes em busca da conclusão”, destaca.
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Conforme ele, quando pensou em fazer sua casa já visualizou um projeto mais sustentável, fazendo com a própria mão de obra e com o tempo disponível. “Faz sete anos que eu estou trabalhando nela e quatro que já moro aqui. Ainda pretendo adequar mais algumas coisas para ficar do jeito que eu quero. A permacultura tem isso, de observar as necessidades. Primeiro observar o que realmente precisa ser feito para evitar precisar fazer novamente alguma coisa que não ficou como queríamos”, salienta.
Entre muitas coisas que chamam a atenção na casa, há um forno de barro construído por Francisco e um amigo. Ele destaca que trabalhar com o barro traz uma conexão forte com a terra, além de o produto estar disponível em qualquer lugar e não ser necessário pagar por esse material. O interior da casa também abriga muitos artefatos interessantes, como uma poltrona feita com o tronco de uma árvore caneleira, que segundo Francisco, quando foi necessário ser extraída da natureza, deveria ter em torno de 400 anos. Da mesma madeira, o tronco também dará vida a sofás que estão em processo de adequação.
Em 2021, Francisco decidiu parar de trabalhar com o tabaco e se dedicar ao sistema agroflorestal. Em um local estratégico, o jovem plantou várias espécies como bananeira, eucalipto, árvores frutíferas, entre outras. “Essa é uma forma de cultivo inspirada nos processos que ocorrem na natureza. Eu conheci esse sistema agroflorestal faz uns dois anos e me interessei por isso, porque é uma forma diferente de ver a agricultura, uma forma que vai regenerando o solo, protegendo e tirando o sustento para o agricultor”, disse.
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O jovem explica que o sistema agroflorestal não trabalha com insumos. O adubo são os próprios resíduos de poda. “Por exemplo, o eucalipto está ali para ser podado e assim as podas vão cobrindo o solo, e essa matéria orgânica serve de alimento para a vida do solo que vai se desenvolvendo e vai liberando nutrientes para as plantas. A bananeira é rica em potássio, dando uma cobertura muito boa, doando água para as plantas, servindo de ‘mãe’ para as outras plantas que estão do lado dela. Temos também frutíferas, têm várias espécies que vão se ajudando, tirando esse senso de competição entre as plantas, porque elas estão todas conectadas através das raízes, nós não enxergamos isso, mas elas estão conectadas, elas doam nutrientes umas para as outras”, frisa.
Francisco conta que dessa forma a produção é otimizada, seguindo a inspiração da permacultura, que se fundamenta na otimização do espaço que temos, envolvida tanto em um terreno de fundo de quintal, quanto em espaço mais extenso, como um sítio.
O sobradinhense salienta que na permacultura tudo é recurso. “Estou fazendo um canteiro que é uma pilha de pau podre intercalada com terra entre meio as madeiras, fazendo um canteiro elevado que é uma técnica alemã. Vou fazendo os montes e cobrindo com palha e se der para reunir terra, reúne. Para plantar é preciso observar bem o andamento do processo, geralmente se demora meio ano. Esse pau podre vai liberar nutrientes para cinco, dez anos para as plantas. Às vezes é colocado fogo nessas madeiras, e no canteiro elas estão servindo de suporte”.
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Mesmo diante de todo seu entendimento sobre o assunto, Francisco conta que o conhecimento sobre permacultura é recente. Quando descobriu essa área começou a questionar sobre o que está sendo feito, sobre os pensamentos e a agricultura tradicional. “Estou tentando me desconstruir a respeito do que eu aprendi até hoje. A permacultura leva sempre a esse caminho de preservação do meio ambiente, preservação dos animais, da água, da terra, levando também para o lado social, trabalhando em mutirões e reunindo as pessoas para trocar aprendizados em ações coletivas que geram experiências. Às vezes não adianta julgar as pessoas que destroem o meio ambiente, porque pode ser que elas não conhecem esse outro lado, eu também a um tempo atrás tinha ações diferentes”, diz.
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Francisco expõe que não critica a agricultura convencional, que é fonte de renda para muitas pessoas que vivem do tabaco, por exemplo – inclusive os pais dele investem nessa cultura. “Estou tentando algo alternativo. Tenho muito respeito pelo fumo, trabalhei muito nesse cultivo, o agricultor que planta fumo é muito forte, mas estou apostando nessas ações um pouco mais diferentes”, enfatiza.
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A fonte de renda de Francisco, por enquanto, vem da plantação de kiwi. Ele também trabalha com extração de mel. O jovem pretende investir cada vez mais na plantação de produtos orgânicos.
Francisco também está investindo no ecobloco, uma prática usada na biocontrução, que consiste em colocar o lixo seco dentro de garrafas pet. “Se coloca o material dentro de garrafas pet deixando o lixo o mais compactado possível e depois se utiliza para a construção de paredes, servindo como tijolos. Elas não são paredes estruturais, por isso precisa de uma estrutura para fazer o preenchimento dos ecoblocos”, salienta.
Francisco destaca a importância de preservar o meio ambiente, já que “fizemos parte dele”. Conforme ele, a permacultura trabalha bastante com a inclusão da pessoa no meio, já com esse intuito educativo de mostrar e resgatar os conhecimentos ancestrais, resgatar plantas em extinção, falando também sobre a qualidade de vida que proporciona: “As pessoas muitas vezes têm medo do novo e essa novidade precisa ser apresentada às pessoas de uma forma concreta para que elas vejam que dá certo, que é possível estabelecer novas visões. Na permacultura cada um vai se utilizar de suas habilidades para construir um mundo mais sustentável”.
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As ideias futuras de Francisco são estudar mais sobre a permacultura, aplicando aos poucos e sentindo esse conhecimento; ampliar os sistemas agroflorestais; angariar voluntários que queiram aprender sobre a permacultura; e integrar as pessoas nesse modelo de trabalho com a natureza.
No seu recanto, Francisco encontra a tranquilidade e a paz que precisa. “É muito bom morar aqui. Não penso em ir para a cidade, aqui é o meu lugar, junto com a natureza, desenvolvendo essas ações. Para mim qualidade de vida é isso. Aqui nessa calmaria eu vou vivendo o presente, um dia após o outro”, finaliza. Para conhecer mais sobre o dia a dia de Francisco e se inspirar nas suas ideias visite o Instagram @maoverde2020.
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