Já contei aqui que fui o primeiro juiz de direito de Horizontina. E por que Horizontina, na fronteira com Misiones, Argentina? É que eu saíra há poucos anos da faculdade e havia áreas do Direito em que eu não estava bem preparado. Achei uma boa escolher Horizontina porque lá havia pouquíssimos processos em andamento. Isso me daria fôlego para estudar bastante. Corria o ano de 1972. Janeiro. Canícula, 43 graus. Horizontina deserta. Domingo. Todos nas praias do Rio Uruguai. Eu assumira, aos 26 anos, a Comarca.
Viera solito, não conhecia ninguém.
De manhã saí a dar umas voltas, ninguém nas ruas.
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Tomei uma ou duas “brahmas da antártica” e decidi lavar meu glorioso corcel I.
Só de calção e chinelos de dedos, mangueira na mão, umas duas da tarde, comecei a lavar meu carro ali no meio-fio.
De uma casa do outro lado da rua saiu uma guria e veio em minha direção.
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– Tá lavando o carro? Me perguntou uma voz feminina, juvenil, decerto recém-saída da puberdade.
Olhei e a guria de seus 16 anos, de shortinho, camiseta branca, sem nada por baixo.
Ainda segurando a mangueira, brinquei: “O que tu achas que estou fazendo?”. E ela: “Posso te ajudar?”.
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Agradeci, mas declinei. A guria insistiu. “E teu pai, quando vem?” Respondi polidamente que meu pai estava em Santa Cruz. E ela insistindo: “Tu não és filho do juiz?”.
Ao que eu lhe expliquei que o juiz era eu mesmo. A menina, então, para meu espanto, me disse que em Santa Rosa havia um restaurante chamado Gralha Azul, onde eu e ela poderíamos tomar uns chopes. Fechei a torneira e lhe falei com calma que fosse embora, que ela era menor. Redarguiu a adolescente que já que eu não queria sujar meu carro, então poderíamos tomar umas cervejas na casa dela, pois seus pais estavam numa praia do Rio Uruguai e ela ficara sozinha em casa. Fui enrolando a mangueira, mas ela insistia propondo então que tomássemos a cerveja na minha casa.
Comecei a entrar em pânico. Tudo que eu não queria era entrar em estágio probatório e já ir para a rua na semana seguinte. Quase fui meio ríspido e lhe disse que não me incomodasse. No outro dia eu estava despachando no meu gabinete, no primeiro dia de trabalho, quando chegou o escrivão, senhor Antônio Reck, me olhou meio matreiro e me disse: “Doutor, está aí uma menina que quer falar com o Ruy…”. Era a guria.
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Pedi ao meu escrivão que a levasse para a casa dos seus pais e lhes explicasse essa situação.
Imagine se eu tivesse me fresquiado com a jovem.
(Vou pedir licença aos meus leitores e me ausentar por uns tempos, para recarregar as baterias.)
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