Polícia

Perícia em garrafa de vodka foi peça-chave em processo que condenou assaltantes

As três pessoas responsáveis por um dos assaltos mais surpreendentes registrados em Santa Cruz do Sul nos últimos anos foram condenadas pela Justiça. Bruno Emanuel Pires de Barros, vulgo Capiroto, de 23 anos, foi sentenciado a 15 anos e 27 dias de prisão e está detido no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul; Rutiele Rodrigues, a Ruti, 22, pegou 14 anos e nove meses de reclusão e está presa no Presídio Estadual Feminino de Rio Pardo; e Wellinton Rocha, o Chucky, de 30, foi condenado a 17 anos, quatro meses e 13 dias de prisão, e está em uma cela da Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva).

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Capiroto, Ruti e Chucky foram identificados como envolvidos em um assalto ocorrido em 12 de julho de 2021. Na ocasião, criminosos armados, dizendo-se integrantes da facção Bala na Cara, invadiram uma residência em Linha Santa Cruz, nas imediações da RSC-287, e ameaçaram cortar a língua de um homem de 38 anos, que foi torturado. Chamou a atenção a quantidade de itens roubados: dois veículos, R$ 3.170,00, três notebooks, duas televisões e amplificadores, além de tablet, celulares, roçadeira, motosserra e outros bens.

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O inquérito policial, a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Santa Cruz do Sul, tinha 210 páginas e detalhou minuciosamente a participação dos envolvidos, com provas robustas. Destas, a mais inusitada foi a amostra coletada no bocal de uma garrafa de vodka Absolut, consumida durante o assalto por Chucky e deixada na residência. Ela foi apreendida e apontou perfil genético compatível com o acusado, comprovando de forma inequívoca sua participação na cena do crime.

O laudo técnico na garrafa de vodka foi realizado pelo posto de criminalística do Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Santa Cruz do Sul, a pedido da Draco. Chucky era morador do Bairro Esmeralda e tinha graves antecedentes em sua ficha. Era foragido da Justiça na época do delito, pois tinha rompido a tornozeleira eletrônica no dia 2 de julho de 2021. Depois, foi preso em flagrante por um roubo a estabelecimento comercial no dia 26 de julho, no interior de Teutônia. Desde então, segue detido.

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Capiroto, Ruti e Chucky responderam pelos crimes de extorsão e roubo duplamente majorado pelo concurso de agentes e uso de arma de fogo. O caso correu na 2ª Vara Criminal de Santa Cruz do Sul, que tem como titular o juiz Assis Leandro Machado. O autor da denúncia foi o promotor Eduardo Ritt. O processo ainda foi analisado pela 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, tendo como desembargadora Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak.

Vítimas ficaram amarradas com fios de telefone

O crime aconteceu em uma noite de segunda-feira, 12 de julho de 2021, por volta das 20h30. Inicialmente, os bandidos invadiram a casa de uma mulher de 56 anos, hoje com 58. Renderam a vítima, pediram por ouro e perguntaram por um suposto cofre que ela teria na residência. Também a questionaram a respeito de um inquilino, morador de uma casa no mesmo terreno.

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O trio de assaltantes foi até essa outra residência levando a mulher amarrada pelos pulsos. Lá chegando, renderam o homem de 38 anos, que hoje tem 41, colocaram uma arma em sua cabeça e o ameaçaram de morte. Um dos criminosos ainda disse que iria cortar a língua do rapaz, enquanto afiava uma faca. O pai do homem, que é idoso e acamado, estava na casa durante a ação criminosa.

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Após ser agredido a chutes e golpes com objetos, sendo torturado, o rapaz foi obrigado a realizar uma transferência via Pix no valor de R$ 2,2 mil. Antes de saírem, por volta de meia-noite, os bandidos roubaram mais R$ 800,00, uma televisão de 43 polegadas e um notebook, além de outros aparelhos eletrônicos e celulares. Da casa da mulher, foram levados dois notebooks, amplificadores, uma televisão de 12 polegadas, um chip de celular e R$ 170,00.

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O veículo da aposentada, um Citroën C4 branco, com placas de Santa Cruz, e o do homem, um Honda City preto, com placas do município, também foram roubados. As vítimas ficaram amarradas com fios de telefone e fitas adesivas. Depois de um tempo, o homem conseguiu se soltar e acionar a Brigada Militar (BM). Na ocasião, os policiais fizeram buscas, mas não foi possível localizar os assaltantes. Os dois carros foram recuperados posteriormente, um no interior de Rio Pardo e outro no Distrito Industrial de Santa Cruz.

Confissão ao compartilhar matéria

Na investigação da Draco citada na denúncia do Ministério Público, consta que a mentora do crime foi Rutiele, moradora do Bairro Esmeralda, ex-namorada do rapaz assaltado, com quem teve um relacionamento de cinco meses. Na época da apuração, o delegado Marcelo Chiara confirmou que o envolvimento da mulher havia sido indireto.

Rutiele foi presa em uma pensão no dia 2 de abril, por uma equipe da Brigada Militar

“Não estava no local no momento do assalto, mas as provas que foram coletadas levam ao indiciamento dela pela participação nessa empreitada criminosa”, disse em maio de 2022. Diversas evidências técnicas foram levantadas para comprovar a vinculação de Rutiele no crime contra seu ex. Além disso, um indício citado pela polícia no caso é relacionado a uma entrevista com o delegado Marcelo, divulgada no Portal Gaz, sobre o desfecho da investigação.

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A matéria foi compartilhada por Rutiele em uma rede social, em que ela comenta justificando suas ações no caso. Para os investigadores, a publicação, que depois foi excluída pela ré de sua página (mas antes foi registrada pela polícia), soava com uma confissão. Após a confirmação das condenações pela Justiça, tanto Ruti como Capiroto, que respondiam ao processo em liberdade, foram capturados pela Brigada Militar durante a Operação Proscriptus, na manhã de 2 de abril deste ano.

A mulher de 22 anos apontada como a mandante foi presa às 9 horas, em uma pensão no Bairro Esmeralda. Já Capiroto foi detido em uma situação inusitada. Após a BM realizar buscas em sua casa, o pai do acusado afirmou que ele estaria na casa de uma namorada, mas não soube informar o endereço. Tempo depois, quando a guarnição estava na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) apresentando a prisão de Ruti, o homem foi até o local para saber por que estava sendo procurado. Foi então cientificado do mandado e preso.

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A investigação da Draco identificou Chucky e Capiroto como executores do assalto. Um quarto investigado, sendo um terceiro na cena do crime, chegou a ser levantado como suspeito, mas não houve provas suficientes para indiciá-lo e processá-lo. Sabe-se, porém, que é um homem de 24 anos ligado à criminalidade. Atualmente, está detido no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul após se envolver em um assalto recente que gerou repercussão na cidade.

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Foi ele quem tentou roubar um carro no Bairro Esmeralda, na manhã de 26 de março, no momento em que uma mãe estacionou em frente a uma escola municipal de Educação Infantil (Emei) para deixar o filho de 1 ano de idade. Na oportunidade, a vítima entrou em luta corporal com o criminoso e ele foi preso posteriormente pela Brigada Militar. Seu nome não foi divulgado pela polícia.

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Cristiano Silva

Cristiano Silva, de 35 anos, é natural de Santa Cruz do Sul, onde se formou, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 2015. Iniciou a carreira jornalística na Unisc TV, em 2009, onde atuou na produção de matérias e na operação de programação. Após atuar por anos nos setores de comunicação de empresas, em 2013 ingressou no Riovale Jornal, trabalhando nas editorias de Geral, Cultura e Esportes. Em 2015, teve uma passagem pelo jornal Ibiá, de Montenegro. Entre 2016 e 2019, trabalhou como assessor de imprensa na Prefeitura de Novo Cabrais, quando venceu o prêmio Melhores do Ano na categoria Destaque Regional, promovido pelo portal O Correio Digital. Desde março de 2019 trabalha no jornal Gazeta do Sul, inicialmente na editoria de Geral. A partir de 2020 passou a ser editor da editoria de Segurança Pública. Em novembro de 2023 lançou o podcast Papo de Polícia, onde entrevista personalidades da área da segurança. Entre as especializações que já realizou, destacam-se o curso Gestão Digital, Mídias Sociais para Administração Pública, o curso Comunicação Social em Desastres da Defesa Civil, a ação Bombeiro Por Um Dia do 6º Batalhão de Bombeiro Militar, e o curso Sobrevivência Urbana da Polícia Federal.

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Cristiano Silva

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