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Pergunte ao Tabajara

O escritor Tabajara Ruas estará hoje e amanhã na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, na condição de patrono. Mais conhecido por obras que falaram sobre a Guerra dos Farrapos, como Os varões assinalados e Netto perde sua alma, Ruas também é autor de um dos melhores romances sobre os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. Chama-se O amor de Pedro por João e foi publicado em 1982. A história de militantes da luta armada que são derrotados e terminam no exílio reflete um pouco a trajetória de vida do autor. Gaúcho de Uruguaiana, ele também se envolveu perigosamente com a política no fim dos anos 60 e experimentou o exílio em países como Chile, Argentina, Dinamarca e Portugal.

Não há nenhum Pedro na trama, que eu recorde, e o “amor” do título diz mais respeito àquele sentimento solidário, altruísta, alimentado por utopias. Os personagens procuram o exílio no Chile para fugir da repressão e acabam encurralados por mais um golpe militar: desta vez, o que vai derrubar o presidente Salvador Allende em 1973, abrindo caminho para o general Augusto Pinochet. O amor de Pedro por João é um emocionante mosaico de dramas humanos, inspirados em histórias que o escritor ouviu falar ou acompanhou de alguma forma.  

Pois Ruas, que também é diretor de cinema, estará em Santa Cruz hoje. E, pensando nisso, eu lembro – desafortunadamente – de um sujeito chamado Mirosmar José de Camargo, mais conhecido como Zezé di Camargo. Aquele cantor sertanejo, filho de Francisco. Em entrevista para um programa no YouTube, Zezé afirmou que nunca existiu uma ditadura militar depois de 1964. 

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“…muita gente confunde militarismo com ditadura. Nós não vivíamos numa ditadura, vivíamos num militarismo vigiado”, diz ele, sem deixar claro se eram os militares brasileiros os vigiados ou se eles vigiavam alguém. Depois explica: “Ditadura é Venezuela, Cuba viveu com Fidel Castro e até hoje vive (…) Coreia do Norte, China, esses são realmente ditadores. O Brasil nunca chegou a ser uma ditadura daquela de ou você está a favor ou está morto”. Portanto, nunca houve desaparecidos, covas clandestinas, torturas, paus-de-arara, choques elétricos e essas coisas feias. O deputado federal Rubens Paiva, o jornalista Vladimir Herzog, o operário Manoel Fiel Filho e muitos outros morreram, provavelmente, de causas naturais.

Nada de surpreendente nessas declarações, numa época em que virou moda atribuir à esquerda tudo o que é ruim e à direita, tudo de maravilhoso. Nessa ótica, até Hitler já virou comunista, a Ku Klux Klan tem origem “esquerdopata” e as ditaduras militares, pensando bem, nem eram ditatoriais. Fico pensando o que nosso patrono, que não deixou de falar sobre tortura e morte nos porões de O amor de Pedro por João, diria para Zezé Di Camargo – se tivesse paciência, é claro. Quem sabe, só de curioso, eu pergunte ao Tabajara.

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