Sabe uma coisa que me incomoda em alguns oradores? O uso excessivo de perguntas retóricas. E o que são perguntas retóricas? São questionamentos que não demandam resposta. Para que servem, então? Para chamar a atenção dos interlocutores para algum ponto.
Às vezes até me faço de bobo e quando alguém diz “sabe o que me aconteceu hoje?”, respondo “não, não sei”, apenas para retardar a história que vem a seguir, já antes atrasada pelo próprio contador, ao fazer uma desnecessária pergunta da qual ele já sabia a resposta.
Não é que precisemos ser assim tão econômicos com as palavras. O exemplo citado acima, numa conversa cotidiana, não chega a ser um uso excessivo. Mas quando quem fala é algum palestrante, youtuber ou algo do gênero, e a toda hora um relato é interrompido por uma pergunta, eu fico incomodado.
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Também sobre perguntas desnecessárias, há aquelas questões que introduzem questões, como se uma pergunta fosse um tipo especial de comunicação, que precisa que soem as trombetas do “posso lhe fazer uma pergunta?”, antes que ela adentre a conversa. Quase um oposto das perguntas retóricas excessivas. Como diz um ditado sobre covas e vingança, quem pergunta se pode fazer uma pergunta deve pedir autorização para fazer duas perguntas.
Claro que não tenho pretensão de questionar padrões de comunicação. Quem sou eu para dizer como é bom e como é ruim falar? Só me diverte prestar atenção em como as pessoas se comunicam e, de vez em quando, apontar algumas coisas que me chamam a atenção ou incomodam.
Dia desses, por exemplo, gastei um tempo refletindo sobre como surgem os ditados. Ou como surgiram, já que o que me inquietou foi justamente não conseguir pensar em algum ditado que eu tenha visto nascer. São quase sempre “velhos ditados”. Parece que todas essas frases prontas que carregam profundos ensinamentos vieram de um passado distante em que as pessoas eram mais geniais para se expressar e suas frases de efeito ficavam gravadas para a eternidade.
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Quem terá dito pela primeira vez “vão-se os anéis, ficam os dedos”, ou “quem tudo quer, tudo perde”, ou ainda “uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco”? Deve haver uma história para todos esses, que eu não conheço. De qualquer forma, me pergunto: ninguém mais diz esse tipo de coisa? Talvez tanto já tenha sido dito que não haja mais sabedoria útil que valha resumir em uma frase fácil que ainda não tenha passado por esse processo. Ou dizemos coisas demais e fica difícil separar o que merece se perpetuar? Ou será que fazemos perguntas demais para as quais nem esperamos resposta?
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