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Perda de olfato pode perdurar mesmo depois da cura da Covid-19

Um dos sintomas mais comuns da Covid-19 é a perda olfatória. Estudos indicam que 80% dos pacientes apresentam alterações no olfato ou no paladar associadas ao coronavírus. No entanto, essas modificações nos sentidos não têm relação direta com a gravidade do quadro viral e, em alguns pacientes, os únicos sintomas do vírus são esses.

Conforme a otorrinolaringologista Ingrid Wendland Santanna, o olfato tem uma série de funções, que vão desde o prazer até a sinalização de perigo. O responsável por isso é um nervo craniano chamado nervo olfatório. O que ocorre basicamente é a transformação de estímulos químicos em estímulos elétricos, em áreas específicas do cérebro.

“Para que tudo isso funcione bem, é necessário uma boa passagem de ar pelo nariz. A área responsável pelo olfato se localiza no interior do nariz, bem na região superior. Ali estão os ramos do nervo olfatório. Quando estes são estimulados pelos vários odores, são enviados estímulos neurais a regiões específicas do cérebro e interpretados como diferentes cheiros. É um processo químico-sensorial”, explica a médica.

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A perda do olfato tem diversas causas. Na maioria das vezes é transitória e relacionada às doenças inflamatórias, como gripes, resfriados, sinusite ou rinite alérgica. “O epitélio olfatório fica no teto nasal e a porção posterior do septo nasal. Assim, sempre que essa região estiver bloqueada por obstrução ou secreção nasal, o olfato pode ser diminuído ou alterado. Nos resfriados comuns, gripe por influenza, rinites nasais, pólipos e tumores nasais, a captação das partículas olfatórias diminui, com perda do olfato”, diz Ingrid, que também é professora de Otorrinolaringologia no curso de Medicina da Unisc e presidente da Sociedade Gaúcha de Otorrinolaringologia.

O tratamento médico dessas condições pode resolver ou melhorar muito o olfato, mas com o coronavírus é diferente. No caso da Covid-19, mesmo quando a patologia viral é superada, a perda pode permanecer. “Observamos melhora total em alguns pacientes e em outros uma alteração com modificação da percepção olfatória, com hiposmia (diminuição do olfato) ou parosmia (sensação de odor desagradável para um aroma ou alimento normalmente agradável), ou simplesmente anosmia (perda total do olfato).”

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Segundo Ingrid, o comprometimento do nervo olfatório é mais intenso na Covid-19. Os tratamentos que costumam auxiliar na obstrução nasal e melhora do olfato também têm se mostrado menos eficazes nos casos de anosmia. “Os sprays tópicos nasais, que ajudam muito no resfriado comum e rinite alérgica, necessitam de doses muito mais elevadas que as habituais. O início do uso de tratamento deve ser mais precoce”, observa.

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Reaprender a sentir cheiros

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Alguns pacientes estão desde março sem olfato ou paladar e, conforme a otorrinolaringologista, as possibilidades de recuperação são quase nulas. “Nesses casos, o tratamento sugerido é o treinamento olfatório. Nele, durante 10 segundos inalamos, por exemplo, essências ou odores conhecidos, como café, hortelã e mel, para ‘aprender’ novamente.” Outros medicamentos são utilizados, mas cada caso deve ser individualizado. Por isso a importância de procurar o médico otorrinolaringologista e fazer uma avaliação.

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A perda de olfato pode acontecer por diversas razões. Conforme Ingrid Wendland Santanna, o uso de drogas ilícitas inaladas nas narinas pode causar perda parcial ou total do olfato, por lesão da mucosa e inervação. Também produtos químicos – tintas, solventes, derivados de petróleo, pesticidas, entre outros – podem causar o problema. Outra situação é a perda da discriminação olfatória ou memória olfatória, por doenças no sistema nervoso central, como isquemias, AVC, traumas ou tumores neurológicos.

Em torno de 2% da população abaixo dos 65 anos tem algum problema de olfato. Acima dos 80 anos, o número sobe para mais de 75%. Esse tipo de transtorno é causado por vários fatores, desde o declínio da função dos receptores olfatórios até o declínio das funções cerebrais.

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Assim como a visão e a audição, um certo grau de perda do olfato ocorre com o passar dos anos. Isso é variável e depende de predisposição genética. Doenças neurológicas como Parkinson ou Alzheimer podem apresentar, entre outros sintomas, a perda do olfato.

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Existem ainda casos de perda irreversível. “Exemplo clássico é uma pessoa que sofreu um traumatismo na face ou na cabeça e teve lesão nas áreas responsáveis pelo olfato. Essas pessoas devem ter cuidado especial para evitar intoxicação com gases, como o de cozinha, ou com comida estragada”, salienta Ingrid.

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Toda pessoa que sofre de alterações olfativas deve ter seu nariz examinado por um otorrinolaringologista. “Através de um exame simples, chamado de endoscopia nasal, é possível constatar diversos problemas que, se bem tratados, melhoram ou mesmo são curados. Além disso podem ser necessários outros exames, como de imagem e neurológicos, para a detecção da causa do problema”, explica a médica. Investigar o motivo da perda do olfato é essencial para que se consiga tratá-la adequadamente.

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