Na primeira visita a Riga, fiz questão de iniciar pelo enorme Mercado Central, o maior da Europa. É no mercado público que a cidade se apresenta por inteiro e é onde conhecemos muito da alma do povo e os seus costumes, em especial nos países do leste europeu e da Ásia.
Entre vestuário, flores, carnes, queijos e outros produtos típicos, as pessoas interagem com entusiasmo, sem a máscara de formalidade dos locais mais turísticos. Ali, na observação e nas conversas com os nativos, a cidade simplesmente é.
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Como os demais países bálticos, a pequena Letônia passou grande parte de sua existência envolvida em alguma turbulência política. O país foi conquistado e reconquistado tantas vezes que, até hoje, em mais de oito séculos, só foi independente por meros e intermitentes 54 anos. O orgulho patriótico, contudo, é evidente, simbolizado na bandeira nacional mais antiga do mundo, em uso desde 1280.
A metade dos 1,8 milhão de letões reside na capital Riga, uma cidade cosmopolita que esbanja vida cultural e econômica. Música, teatro, museus e igrejas medievais pontuam o centro antigo, famoso por sua arquitetura, com mais de 800 prédios no estilo Art Noveau. O design letão, aliás, já esteve agarrado a muitos de nós.
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Em 1872, o alfaiate Jacob Youphes, um nativo de Riga, combinou rebites de cobre e costuras alaranjadas em um tecido reforçado de algodão, inventando as calças jeans ou de brim. Jacob, recém-chegado nos Estados Unidos, propôs o design a outro imigrante, o alemão de origem judaica Levi Strauss, que iniciou a fabricação em massa. O sucesso das calças Levi’s dispensa comentários.
Um bom ponto de partida na cidade é o Monumento à Liberdade, chamado carinhosamente pelos nativos de “Milda”. Ainda estão presentes dezenas de estátuas no estilo realista soviético, como o monumento que homenageia os soldados da segurança de Lênin. Cerca de 30% dos habitantes da Letônia são de origem russa, o que faz da língua eslava a segunda mais falada do país, depois do letão, que é uma fusão do lituano, do extinto prussiano e de línguas fino-ugrianas (finlandês, estoniano, húngaro).
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Na praça da prefeitura, uma bela construção conhecida como Casa das Cabeças Pretas, foi construído em 1344 e reconstruído após a Segunda Guerra Mundial. Na imponente catedral de Riga, destaca-se um magnífico órgão com 6700 tubos. Em outro templo próximo, a Igreja de São Pedro, têm-se a melhor vista aérea da cidade e do Mar Báltico, do topo da torre de 123 metros.
O local em que hoje está o Teatro Nacional foi onde, em 1918, foi declarada a primeira independência da paciente nação. A soberania, contudo, durou pouco. Em 1939, Alemanha e União Soviética assinaram o Pacto de Não Agressão de Molotov-Ribbentrop, que, secretamente, dividiu o leste e o norte europeu em território nazista e soviético.
A Letônia ficou com a União Soviética, porém, em 1941, os nazistas iniciaram a Operação Barbarossa, avançando sobre todo o leste europeu. Os alemães invadiram Riga e de lá só saíram no final da guerra, deixando um triste saldo de mais de 200 mil letões mortos, incluindo mais de 75 mil judeus que viviam no país. Com o final da guerra, a ocupação pelas tropas de Stalin durou até a queda da cortina de ferro e, em 1991, o país pôde finalmente reconquistar sua independência.
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Espelhando o que vi e ouvi no Mercado Central de Riga, a Letônia convive em harmonia com povos dos quais poderia ter certo ressentimento, como no caso de russos e seus descendentes. Idiomas, denominações religiosas e hábitos culturais se entrelaçam e constroem juntos, não apesar de, mas a partir de qualquer diferença.
A Letônia, como os demais países bálticos, soube canalizar forças distintas em torno de objetivos comuns e hoje colhe os frutos, como uma pequena, porém pujante nação, desenvolvida, democrática e progressista.
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