Nascido em Praga, em uma família de tchecos judeus de classe média, ele foi forçado pelo pai a cursar Direito e trabalhou por toda a vida em uma companhia de seguros, deixando para as horas vagas a maior paixão: a escrita. Teve vida curta, falecendo de tuberculose aos 40 anos, na obscuridade e sem ter conseguido publicar suas melhores obras. Antes de morrer, pediu a um amigo que queimasse os escritos, algo que ele mesmo já tinha feito com 90% de seus registros literários. O amigo Max Brod, felizmente, não seguiu a ordem e, postumamente, Franz Kafka (1883-1924) se tornou um dos autores mais importantes do século 20. Com estilo obscuro, baseado no absurdo e no surreal, Kafka marcou para sempre a literatura, a filosofia e o estudo do comportamento humano.
Boa parte dos cenários imaginativos do autor de A metamorfose, O processo e O castelo podem ter derivado da encantadora paisagem urbana e da realidade geopolítica da cidade natal dele. Do sacro império romano até a União Soviética, passando por turco-otomanos, húngaros e nazistas, os tchecos sempre estiveram em um fogo cruzado de cultura e poder. Ao contrário dos vizinhos, os cidadãos do pequeno país sem litoral foram resilientes enquanto exércitos cruzavam as fronteiras, escolhendo mais a inteligência e menos as armas para enfrentar os invasores. O resultado dessa habilidade diplomática é que cidades e vilarejos tchecos estão hoje entre os mais conservados e fascinantes do continente europeu.
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Em Praga, reis medievais, artistas e arquitetos construíram um local à altura de uma sede do Sacro Império Romano. O labirinto de vielas, praças medievais, palácios monumentais e igrejas – românicas, góticas e barrocas – transpiram arte, e geraram lendas de demônios e forças ocultas, em uma cidade mística de sonhos que certamente inspirou os contos fantásticos de Franz Kafka.
Dividida pelo Rio Vltava, Praga oferece centenas de pontos de interesse em uma área central compacta e perfeita para ser explorada a pé. O portentoso rio separa a Cidade Velha (Staré Mesto) e a Cidade Nova (Nové Mesto), na margem leste, do Lado Menor (Malá Strana), a oeste. Tomada de turistas dia e noite, a Ponte Carlos é uma das marcas registradas de Praga, construída no século 14 em homenagem a Carlos IV (1316-1378), Imperador Romano-Germânico e Rei da Itália. Sobre a ponte, uma cruz com cinco estrelas marca o local onde São João Nepomuceno foi jogado fatalmente nas águas do Vltava a mando do Rei da Boêmia Wenceslau IV, em 1393. Seu crime: guardar segredo confessional sobre casos extramaritais da rainha.
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Perder-se entre ruas e alamedas estreitas da Cidade Velha é a melhor forma de explorar mais de mil anos de charme dessa parte da capital. O coração de Praga é a fascinante Praça da Cidade Velha, o melhor ponto de partida para iniciar a visita. A prefeitura e o relógio astronômico atraem turistas a cada hora cheia, quando um esqueleto com uma ampulheta, representando a morte, precedem uma procissão de apóstolos. Do lado oposto da praça, as torres da Igreja Tyn se destacam entre as casas medievais. No templo, jaz o famoso astronômo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Uma bebedeira em uma festa do imperador Rudolf custou-lhe a vida. Como era impróprio deixar a mesa antes do monarca, o pobre Tycho teve que ficar à mesa até a bexiga se romper. No centro da praça, figura uma estátua de bronze do teólogo Jan Hus, o mártir mais famoso do país.
Neste cenário mágico, Kafka, em vez de escrever coisas muito profundas, descreveu o mundano de forma profunda, em um sistema onde somos massas de manobra, sem saber para onde estamos indo e onde, afinal, não faz nenhum sentido ir para lugar algum. Mesmo assim, tentamos, porque talvez o sentido de tudo esteja na própria busca, e não em alcançar o que buscamos. A importância do autor tcheco gerou até um adjetivo usado na maioria das línguas: kafkiano, significando situações absurdas com base na realidade, em um processo complexo de um sistema opressor e confuso onde não se sabe exatamente o que está acontecendo. O nativo de Praga, em seus devaneios fantásticos, pode ter encontrado a melhor forma de definir grande parte de nossa existência.
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