Cultura e Lazer

Pelo mundo: Petra, Jordânia

Ao sul da capital Amã, em vez de tomar a moderna Rodovia do Deserto, escolhi percorrer cerca de 300 quilômetros por uma das estradas mais antigas do mundo, citada no Antigo Testamento como a rota seguida por Moisés e pelos israelitas no êxodo do Egito (Números, 20:17-21:22). Ligando Heliópolis (Cairo) a Damasco, na Síria, a Estrada do Rei conduz a um dos locais mais extraordinários que conheci e, possivelmente, o mais incrível legado urbano para a humanidade: a cidade de Petra.

Por 700 anos, Petra foi uma cidade perdida, exceto para algumas famílias que guardavam seu segredo. No início do século 19, o explorador Johann Burkhardt escutou beduínos falando do lugar e desconfiou se tratar da lendária cidade bíblica (Reis, 14:7) de Sela, em hebraico, ou Petra, em grego (pedra). Disfarçado de peregrino árabe, Burkhardt convenceu um beduíno a guiá-lo até a bíblica capital de Edom, um lugar mítico que muitos pensavam nem existir.

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Em 22 de agosto de 1812, o suíço caminhou os quase dois quilômetros de trilhas e estreitos desfiladeiros que constituíam a única entrada de Petra. Abismado com a magnificência do que viu, ele julgou precisar revelar ao mundo sua descoberta. Nos últimos dois séculos, a cidade tem sido admirada por arqueólogos, historiadores e levas de turistas, servindo ainda como cenário de filmes como Indiana Jones e a Última Cruzada, de 1989.

Construído há 2 mil anos, Tesouro é o monumento mais famoso e bem conservado em Petra | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior
O desfiladeiro que dá acesso à cidade desemboca no Tesouro, uma tumba real | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior
A bíblica Estrada do Rei foi percorrida por Moisés durante o êxodo do Egito | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

A presença humana em Petra iniciou-se pelo menos no século 8 a.C., com os edomitas. Dois séculos depois, há o primeiro registro da ocupação pelos nabateus, tribo de nômades árabes que tomou gradativamente o controle do comércio entre a baixa Arábia e as terras às margens dos rios Nilo, Tigre e Eufrates. A protegida capital floresceu, chegando a ter 30 mil habitantes. Por três séculos, os nabateus esculpiram templos monumentais nas rosadas montanhas areníticas, inspirados em estilos aprendidos de egípcios, gregos e romanos.

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A partir do ano 100, terremotos e a mudança nas rotas de comércio deterioraram gradualmente a cidade nos séculos seguintes. Após invasões romanas, bizantinas, árabes e finalmente dos cruzados, o declínio se acentuou e Petra foi praticamente esquecida e abandonada, restando apenas alguns beduínos no local. Hoje, a maioria de seus descendentes reside na cidade adjacente de Wadi Musa. Alguns ainda habitam as cavernas esculpidas, vendendo lembranças, oferecendo passeios em jumentos e pastoreando as milhares de cabras que saltitam pelas íngremes encostas.

Os nabateus tinham apenas dois deuses: Dushara, deus da força, simbolizado pelas pedras esculpidas, e Al Uzza, deusa da fertilidade, representada pela água. A quantidade de templos e tumbas de Petra, contudo, parece infinita. Antes de entrar na cidade, ao longo do vale pontuado por câmaras mortuárias e templos esculpidos na rocha, observei os engenhosos aquedutos que portavam canos de cerâmica, levando água para o centro urbano e para a agricultura.

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Os paredões de pedra de até 80 metros de altura que formam o desfiladeiro de acesso à cidade vão aos poucos ficando mais estreitos, bloqueando a luz natural. É então que surgem, entre as frestas, as luminosas esculturas rosadas do Tesouro, tumba real de 40 metros de altura construída há 2 mil anos. É o monumento mais famoso da região. Digno de síndrome de Stendhal diante de tamanho esplendor, foi um dos poucos lugares que já visitei que tiraram meu fôlego por alguns segundos.

A partir dali, são dezenas de quilômetros de caminhadas para conhecer as maravilhas de Petra. Destacam-se o Teatro Romano, com 3 mil lugares, as dezenas de tumbas reais, os banhos termais e os vastos templos. Uma escalada obrigatória é a que conduz a outro monumento, que faz valer as horas de escalada: o Monastério (Ad-Deir), com 50 metros de largura e 48 de altura.

Fotografias de Petra não representam minimamente o fantástico complexo construído pelos nabateus. A cidade é mais uma prova de que civilizações perdidas e avançadas podem nos ensinar tanto ou mais do que aquilo que hoje consideramos conhecimento moderno. Além da estrutura física, é admirável vislumbrar o vigor cultural e econômico de um povo que deixou tão fabuloso legado. Petra é um livro aberto, para quem souber lê-lo.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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