Quatro triunfais cavalos de bronze decoram a fachada da basílica bizantina de São Marcos, em Veneza. Durante a ocupação napoleônica da região, em 1797, as estátuas foram levadas pelos franceses para Paris e colocadas no cume do Arco do Triunfo do Carrossel. Após a queda de Napoleão, em 1815, a quadriga foi devolvida à Itália e, desde 1980, cópias estão no lado de fora enquanto as originais ocupam local de destaque no museu da principal igreja da “Sereníssima”. As estátuas, contudo, não são venezianas. Como tantas outras obras de arte espalhadas pela Europa, elas contam um pouco da fascinante história de Constantinopla. Produzidas no século 3 para decorar o hipódromo da capital do Império Bizantino, foram saqueadas durante a Quarta Cruzada e levadas para Veneza, em 1204.
O estratégico Canal do Bósforo divide Istambul entre Europa e Ásia. É o único acesso marítimo ao Mar Mediterrâneo para embarcações vindas do Mar Negro, incluindo as que partem dos únicos portos “quentes” da Rússia. A história da milenar cidade iniciou sete séculos antes de Cristo como Bizâncio, colônia grega fundada na margem europeia do canal. Tomada por Roma em 196 a.C., a cidade se tornou a nova capital do Império Romano em 330, rebatizada pelo imperador Constantino como Constantinopla.
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No século 6, no reino de Justiniano I, a cidade se tornou a maior do mundo ocidental, com cerca de 500 mil habitantes, e seguiu como capital do império bizantino até a chamada queda de Constantinopla, em 1453, seguindo posteriormente como capital do sultanato turco otomano, até 1923. O império otomano, que durou 470 anos, decorou a cidade com mesquitas, palácios, fontes e piscinas termais. Em seu auge de poder e riqueza artística, os domínios iam da Pérsia a Viena e do norte da África até o sul da Rússia.
Solimão, o Magnífico (1520-1566), foi o sultão mais poderoso. No século 19, os egípcios avançaram sobre Anatólia (península asiática da Turquia também conhecida como Ásia Menor), países dos Balcãs iniciaram a luta pela independência e os russos ameaçavam invadir pelo nordeste. Em 1911, Grécia e Bulgária se tornaram independentes e a subsequente Primeira Guerra Mundial selou a divisão do império entre os aliados vencedores. Com a fundação da República da Turquia, em 1923, o herói nacional turco Mustafa Atatürk levou a capital para Ancara e mudou o nome de Constantinopla para Istambul.
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Apesar de termos decorado na escola o ano da queda de Constantinopla, o declínio da cidade iniciou bem antes, causado pela pressão dos países normandos a oeste e pelas Cruzadas, que sugaram recursos do império na sede pela dominação da Terra Santa. A Quarta Cruzada transformou o reino por algumas décadas em um império ocidental (católico romano), forçando a fuga do imperador bizantino no início do século 13 e dando origem a um vácuo de poder que alavancou a ascensão gradual do Império Otomano, culminando na tomada de Constantinopla por Maomé II, o Conquistador, em 29 de maio de 1453. Por vezes, lembramos o Império Bizantino por sua derrocada, esquecendo os 1.123 anos de arte, ciência e filosofia que deixaram marcas e nos influenciam até hoje.
Conflitos e turbulências geopolíticas precisam ser avaliados com uma perspectiva de longo prazo e, culturalmente, de forma ampla. Análises míopes levam a conclusões equivocadas. Quanto mais se sabe sobre as raízes e o comportamento dos povos, mais acertada, ainda que complexa, se torna qualquer avaliação. O surgimento e o ocaso de impérios e nações jamais se dá pontualmente ou de forma abrupta. Indícios surgem gradual e inequivocamente, resultando em ruptura ou renovação, dependendo da perspectiva.
Anos antes de conhecer Istambul, comprei de um camelô em Moscou um CD da Liturgia Divina de São João Crisóstomo, de Konstantin Shvedov (1886-1954). São João (347-407) foi arcebispo de Constantinopla, santificado nas igrejas ortodoxa, católica, anglicana e luterana. Brilhante escritor do início do cristianismo, foi aclamado doutor da Igreja pelos católicos. O coral soviético entoando a liturgia que é usada até hoje nas igrejas orientais ortodoxa e católica foi o fundo musical em minha mente quando, em 2006, entrei pela primeira vez no magnífico templo que há muitos anos eu sonhava conhecer: Santa Sofia.
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