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Pelo mundo: Jordânia, a região que transcende o tempo

Com um olho no mapa do Oriente Médio e outro nos jornais, desembarquei com a família no Aeroporto Rainha Alia, ao sul de Amã. Em um raio de poucos quilômetros dali, seguiam os atrozes ataques de Israel em Gaza, mísseis do Hezbollah ameaçavam a antiga Galiléia, um atentado de extremistas iraquianos havia matado soldados americanos na fronteira Síria-Jordânia e, mais ao sul, fogo cruzado entre americanos e radicais iemenitas no Mar Vermelho. Felizmente, havíamos tomado e decisão de prosseguir com a viagem.

A turbulenta vizinhança do Reino Hashemita da Jordânia é também a origem de seu povo acolhedor e simpático, formado majoritariamente por antigos povos árabes beduínos, imigrantes palestinos, iraquianos, sírios e egípcios. A nação, definida por linhas retas de uma caneta britânica em 1921, engloba uma geografia diversificada, entre desertos montanhosos, terras férteis, as profundezas do Mar Morto e fascinantes formações rochosas. Por onde passamos, a bandeira e fotografias da família real são quase onipresentes, unindo a nação que congrega diferentes povos.

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Na cidade de Madaba, importante centro eclesiástico do período bizantino, conhecemos o mais antigo original sobrevivente da cartografia da Terra Santa. O mosaico do século 6 no piso da igreja ortodoxa de São Jorge inclui Egito, Turquia, Síria e até detalhes dos locais santos do cristianismo em Jerusalém. O mapa também identifica e destaca a importância de nosso próximo destino naquele dia: Betânia do Além-Jordão (João, 1:28), local do batismo de Jesus Cristo por João Batista no rio que dá nome ao país. No caminho, passamos pelo lendário Monte Nebo (Deuteronômio), onde Moisés viveu seus últimos dias e de onde avistou Canaã, a terra prometida onde ele jamais entraria. Acredita-se que o líder do Êxodo Israelita esteja sepultado na montanha sagrada.

No local do batismo, também conhecido como Betabara ou Al-Maghtas, assim como em todos os lugares onde estivemos, havia pouquíssimos visitantes, amedrontados pelos conflitos vizinhos. A partir da Guerra dos Seis Dias, em 1967, a militarizada região de fronteira tornou-se inacessível, até que o acordo de paz entre Israel e Jordânia de 1994 possibilitou a criação de um bem organizado centro de peregrinação, inaugurado no ano 2000 pelo papa João Paulo II.

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Na margem oriental do Rio Jordão, a bandeira jordaniana está frente a frente com a de Israel, em território palestino ocupado, na margem oposta, onde alguns fiéis estavam sendo batizados. Próximo dali, no Monte de Elias, tem-se uma vista panorâmica de Jericó, na Cisjordânia, uma das cidades habitadas mais antigas do mundo.

Seguindo o curso do rio, chegamos ao denso e salgado Mar Morto, a 437 metros abaixo do nível do mar. O uso do Jordão na agricultura diminui o nível do lago hipersalino em mais de um metro por ano. Na prática, o Mar Morto deve desaparecer dentro de três décadas.

Amã, um caldeirão

A capital dos amonitas dos tempos bíblicos (Rabbath-Ammon) também se chamou Filadélfia no período greco-romano. Hoje, a frenética Amã oferece pano de fundo histórico que perpassa civilizações. Segundo as escrituras, o Rei Davi (c. 1000 a.C.) invadiu a cidade por duas vezes e ali encontrou Betsabé, que, depois de história bastante controversa, tornou-se uma de suas esposas e mãe de Salomão, herdeiro do trono de Israel.

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No início do século 20, a população de Amã se resumia a 6 mil pessoas, quando os conflitos árabe-israelenses de 1948 e 1967 inundaram a cidade com refugiados árabes. Hoje, os palestinos são 70% dos 4 milhões de habitantes da capital que abriga um terço da população do país. No animado centro de Amã, a marca registrada é a hospitalidade. Navegamos pelo rumoroso, colorido e saboroso mercado público (souq), em uma festa para olhos, ouvidos e paladar.

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O local histórico mais visitado de Amã é o anfiteatro romano, construído por Antonino Pio em 138 d.C. para abrigar 6 mil espectadores em vertiginosas arquibancadas. A Mesquita al-Husseini está no coração da cidade, local de oração construído sobre as fundações da antiga catedral bizantina de Filadélfia. Do topo da citadela (Jabal al-Qala’a), entre ruínas de palácios, templos e fortificações dos romanos e do califado omíada (século 7), a visão panorâmica ajuda a entender a intricada rede de ruas, mesquitas e ruínas que constituem a incrível capital jordaniana.

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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