Aquela não era minha primeira mudança de país, mas ficou especialmente marcada por não ter expectativa de retorno à terra natal. O destino era a Grande Chicago, metrópole que domina o nordeste do estado americano de Illinois, às margens do gigantesco Lago Michigan. Na virada do milênio, tratava-se de uma transferência profissional para a matriz da montadora de caminhões Navistar International, empresa remanescente da McCormick Harvesting Machining Company, fundada em 1847.
No final do século 19, a empresa foi foco do protesto que reivindicava uma redução da pesada carga de trabalho de 60 para 48 horas semanais. Em primeiro de maio de 1886, uma greve deflagrada pelos funcionários começou como manifestação pacífica. Nos dias seguintes, porém, terminou em violento conflito com a polícia, culminando no chamado Massacre de Haymarket, com 15 mortes, centenas de feridos e prisão de grande número de trabalhadores, incluindo os sete que acabaram condenados à morte em um julgamento sem prova concreta alguma. A maior parte dos funcionários da McCormick eram germânicos, o que se comprova nos panfletos da época, impressos também na língua de Goethe. Antes de ser executado na forca, as últimas palavras do imigrante alemão August Spies foram: “Virá o dia em que nosso silêncio será mais poderoso do que as vozes que os senhores sufocam hoje”.
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Por causa desse trágico acontecimento, que serviu de exemplo para protestos semelhantes pelo mundo, o Primeiro de Maio é comemorado como Dia Internacional do Trabalhador em quase todos os países. Uma exceção, ironicamente, são os Estados Unidos, onde a homenagem aos trabalhadores ocorre em setembro, talvez pelo Primeiro de Maio ser considerado um feriado “comunista”. Um monumento no centro da cidade marca o local da revolta de Haymarket.
Chicago sempre foi um local de operários, e levas de empregos perdidos e sonhos destruídos geraram problemas sociais que até hoje não foram completamente solucionados. Por outro lado, o ambiente proletário deu origem também a uma sociedade vibrante e ao gênero musical chamado Electric Blues, que uniu melodias tristes de descendentes de escravos do sul do país com guitarras e sintetizadores do século 20. A amálgama de músicos locais com talentos que migraram de estados como Mississipi e Louisiana segue sendo um dos grandes atrativos da cidade.
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Em uma das visitas ao bar e clube de Blues Buddy Guy’s Legends, tive a sorte de assistir ao lendário proprietário, George “Buddy” Guy, mostrando por que se tornou influência de músicos do porte de Jimmy Page, Jimi Hendrix e Eric Clapton. Hoje com 85 anos, o virtuoso da guitarra ainda sobe frequentemente ao palco do lugar. O clássico filme Blues Brothers (Os Irmãos Cara de Pau), de 1980, registra Chicago de forma musical e cômica, terminando em uma cena apoteótica na Praça Daley, entre as monumentais esculturas de Pablo Picasso e Joan Miró.
Entre os vários pontos de interesse da cidade estão a Milha Magnífica, com seus edifícios, do estilo gótico ao moderno, perfilados ao longo da avenida paralela ao lago, museus de arte, ciência e belos parques, como o contemporâneo Parque do Milênio. A zona central, também conhecida como Loop devido ao circuito de trens urbanos suspenso sobre as ruas, contém uma espetacular concentração de ícones construtivos, como os edifícios Willis Towers (antes conhecido como Sears Towers), John Hancock, Tribune Tower, além do Navy Pier, cais construído para receber a Exposição Mundial de 1893, que avança quase 2 quilômetros sobre o Lago Michigan.
O pitoresco subúrbio de Oak Park atrai admiradores de Frank Lloyd Wright, criador da filosofia conhecida como Arquitetura Orgânica. Wright tinha seu escritório no bairro, onde 25 de suas centenas de casas e estruturas recebem milhares de visitantes todos os dias. O arquiteto considerava Chicago uma das cidades grandes mais bonitas do mundo. Eu, humildemente, concordo. Para mim, nos Estados Unidos, Chicago só é superada por San Francisco, na Califórnia.
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