Em uma viagem de última hora para o distrito de Wesel, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, não tive tempo de pesquisar detalhes sobre o destino. Hospedei-me em Xanten, única cidade alemã com a letra X, próximo à fronteira com a Holanda. Antiga colônia romana de Ulpia Traiana, a localidade de 20 mil habitantes está entre as mais antigas do país, com um enorme parque arqueológico ligado à colonização dos romanos.
Ao chegar ao Hotel Van Bebber, as fotos nas paredes e as informações do funcionário me surpreenderam. O prédio com quase três séculos hospedou Napoleão Bonaparte, Rainha Vitória, Voltaire, Friedrich Engels e outras personalidades mais contemporâneas, como Winston Churchill, Montserrat Caballé, Bob Geldof, Angela Merkel e José Carreras.
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Uma caminhada pela pequena cidade às margens do Reno, contudo, revelaria uma surpresa, para mim, ainda mais interessante. Na bela catedral gótica de São Vítor, desci até a cripta e encontrei o túmulo de Karl Leisner, único padre católico ordenado em um campo de concentração. Ainda adolescente, Karl fez parte de grupos do Movimento de Schoenstatt e tinha forte ligação com a Mãe Três Vezes Admirável e o Santuário original, que visitava sempre que possível.
Durante o período nazista, Leisner estudou teologia em Münster e organizou secretamente grupos de jovens, o que era proibido pelo Reich. Sem demora, a polícia secreta (Gestapo) passou a seguir seus passos. Logo após ser ordenado diácono, em 1939, Karl foi preso por suas críticas a Hitler e enviado ao campo de concentração de Sachsenhausen. Um ano depois, transferido para o campo de Dachau, fundou um círculo de Schoenstatt no chamado “Bloco dos Pastores”, o mesmo que, em 1942, receberia o próprio fundador do movimento, Padre Josef Kentenich.
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Em dezembro de 1944, Leisner foi ordenado padre por outro prisioneiro, o bispo francês Gabriel Piguet. Em abril do ano seguinte, durante a libertação do campo, Karl deixou Dachau acometido de uma grave tuberculose. A doença tiraria sua vida poucos meses depois, aos 30 anos. Karl Leisner foi beatificado pelo papa João Paulo II em 1996, no Estádio Olímpico de Berlim.
Em uma viagem ferroviária de Colônia até Düren, eu estava entusiasmado em uma conversa com um companheiro de viagem quando me dei conta de que havia passado do destino. Desci na estação seguinte, em Aachen, na tríplice fronteira Alemanha-Bélgica-Países Baixos.
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Capital do Império dos Francos de Carlos Magno (748-814) no século 8, Aachen, com 250 mil habitantes, é também chamada de “cidade das águas”. Fontes termais que correm pela região assustaram os primeiros colonizadores, que acreditavam que a água cálida vinha das profundezas do inferno. Os romanos, no século 1 d.C., logo descobriram a vantagem dessa água “satânica”, construindo os primeiros banhos termais públicos. Hoje, os antigos spas fazem parte do luxuoso Carolus Thermen, complexo com oito piscinas e numerosas saunas.
Meu interesse maior na cidade, contudo, estava na Catedral (Dom) de Aachen. O estupendo templo, consagrado em 805, teve o seu núcleo romanesco inspirado na Basílica de São Vital de Ravenna, na Itália, com a posterior adição do coro, em estilo gótico. Trinta e um reis alemães foram ali coroados entre 936 e 1531. Atrás do altar, um relicário guarda os restos mortais de Carlos Magno, considerado o “Pai da Europa” (Pater Europae), por unificar a maior parte da Europa ocidental, fragmentada desde o ocaso do Império Romano três séculos antes.
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Adjacente à catedral, o Tesouro (Domschatzkammer) contém um busto de prata do rei dos francos (768), rei dos lombardos (774) e imperador do sacro império romano (800). Dentro da obra de arte, a caveira do imperador. O chamado Renascimento Carolíngeo, por outro lado, não foi visto com bons olhos pela Igreja Ortodoxa Oriental, contribuindo para a posterior divisão de Roma e Constantinopla, no Grande Cisma de 1054.
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