Nos Estados Unidos, a partir de 1848, membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecidos como mórmons, viajaram por cinco meses para o oeste, percorrendo cerca de 1,3 mil quilômetros por locais relativamente selvagens para fugir da perseguição que sofriam no leste americano. Brigham Young, o líder da doutrina revelada por Joseph Smith Jr., em 1829, avistou o vale desolado do Grande Lago Salgado e afirmou: “Este é o lugar.” Os mórmons se estabeleceram no território conhecido como Utah, que na época ainda era parte do México. A intenção inicial era de criar o próprio país mas, décadas mais tarde, ficou claro que os Estados Unidos jamais permitiriam uma teocracia independente dentro do território. Em 1896, concessões de ambas as partes permitiram a criação do estado americano de Utah, onde, atualmente, mais de 70% da população é formada por mórmons.
Salt Lake City, às margens do vasto lago salgado que deu nome à capital estadual, é muito limpa, organizada e desenvolvida. A região central da cidade é dominada pela rica e imponente estrutura da denominação cristã, abreviada como LDS (Latter Day Saints). A Praça do Templo, com belos jardins e modernos prédios de negócios e de administração da igreja, tem como foco central o Templo Mórmon, encimado por seis torres e pela estátua dourada do anjo Moroni. O ser espiritual passou a Smith as tábuas douradas com as inscrições que geraram o Livro de Mórmon, o qual, para os 16 milhões de membros da igreja LDS pelo mundo – 1,5 milhão no Brasil, atrás somente dos EUA e México –, é escritura sagrada e testamento complementar da Bíblia.
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Em frente ao templo, visitei o Tabernáculo Mórmon, uma sala de concertos e assembleia construída em 1868, com foco no enorme órgão com 11.623 tubos. A espetacular acústica foi projetada também para receber o famoso Coro do Tabernáculo (recomendo uma busca no YouTube). Destaco ainda a Sala de Concertos Abravanel, o Edifício Memorial Joseph Smith e o mais recente Centro de Conferências. Este é um enorme palácio de granito e vidro que contém museus, amplos saguões e o maior auditório em forma de teatro do mundo, com 21 mil confortáveis assentos, onde acontece, a cada dois anos, a Conferência Geral dos Mórmons. O auditório, que também abriga outro vasto órgão de tubos, desbancou o recorde do Grande Salão do Povo, em Pequim, que tem 10 mil lugares.
Conversei demoradamente com algumas duplas de jovens que orientam os visitantes, sempre bastante assertivas na evangelização, e aprendi um pouco mais sobre essa peculiar denominação religiosa, cuja teologia difere razoavelmente do restante do cristianismo e é, por vezes, criticada de forma anacrônica por questões já resolvidas relativas ao racismo e à poligamia. Fui presenteado com uma cópia do Livro de Mórmon, que contém a história dos israelitas que teriam emigrado para a América – bem antes de ser América – em duas levas, seis séculos antes de Cristo e durante o tempo de Jesus. O Messias, que também teria visitado o novo continente logo após a ressurreição, prepara, segundo os mórmons, uma nova vinda.
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Um dos meus interesses por ali era visitar o prédio que abriga o Centro de História da Família (Family Search). Nos vários andares e nos servidores da organização, está o maior repositório de genealogia do planeta. Já na entrada, dezenas de monitores interativos permitem consultar a história de famílias do mundo todo. Ao apresentar minha árvore genealógica paterna, construída em exaustivas pesquisas nas igrejas do norte da Itália e que remonta ao início do século 18, fui imediatamente encaminhado a um especialista sobre a região italiana da Lombardia. Após observar em detalhes e incorporar vários elementos aos registros, o gentil pesquisador explicou a importância da genealogia para a igreja LDS, relacionada à salvação retroativa das almas de antepassados.
Espero que meus ancestrais, onde estiverem, não se sintam contrariados se, eventualmente, acabarem envolvidos nos chamados batismos vicários dos mórmons. Antes de nos despedirmos, ouvi do funcionário, ao pé do ouvido: “Todos nós temos três mortes: a morte natural, a morte espiritual e a terceira, que ocorre quando nosso nome é esquecido para sempre”. Lembrei-me dos egípcios, que diziam que enquanto o nome de alguém for pronunciado, aquela pessoa permanecerá viva.
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