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Pelo mundo: a pérola do Mar Adriático

A nação croata habita os pescoços estrangulados de muitos de nós. A gravata (a palavra vem de Hravatska, nome do país na língua eslava) é original da Croácia, país de 5 milhões de habitantes independente da antiga Iugoslávia desde o início dos anos 1990. Localizada na convergência do Mediterrâneo, dos Alpes e da Planície da Panônia, situa-se também ao longo de perigosas fronteiras políticas – impérios bizantino e franco no século 9, católicos e ortodoxos desde o século 11, Europa cristã e Turquia islâmica entre os séculos 15 e 19 e, nas últimas décadas, entre grupos étnicos que causaram o último conflito devastador na Europa do século 20 (Guerras dos Bálcãs), entre 1991 e 1995.

Por mera sorte, ou quem sabe intuitiva antecipação, visitei certos lugares antes que se tornassem superlotados de turistas. Um exemplo é Chernobyl, antes da série de televisão de mesmo nome transformá-la em atração macabra. Dubrovnik é outro, onde estive meses antes de a cidade se tornar cenário para o seriado Game of Thrones e para o filme Star Wars – O Último Jedi. Motivos relativamente mundanos, como produções cinematográficas, acabam poluindo um pouco o real significado e a rica história de certos locais.

Cidade medieval serviu de cenário para recentes filmes e séries de TV

Separada fisicamente do restante do país por uma faixa de terra que liga a Bósnia e Herzegóvina ao Mar Adriático, e distante 600 quilômetros da capital, Zagreb, Dubrovnik é uma das fortificações medievais mais espetaculares da Europa. A pérola do Adriático, como a chamou o romântico poeta inglês Lord Byron, tornou-se a sede da República de Ragusa entre os séculos 14 e 19. O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw chegou a escrever que “aqueles que buscam o paraíso na terra devem vir até Dubrovnik”. Um exagero, é claro, mas caminhar pela cidade antiga e sobre os 2 quilômetros de muros que resistiram a séculos de ataques nos ajuda a entender por que a cidade de 43 mil habitantes merece tamanha reverência. Mostrando ser uma sociedade progressista desde a origem, Dubrovnik baniu a escravidão em 1416, condenando-a como “prática errada, vergonhosa e repugnante”. O Brasil só chegaria a esse ponto, sem a mesma ênfase, quase 500 anos depois.

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As muralhas, construídas entre os séculos 12 e 17 com até 6 metros de espessura, jamais foram transpostas por forças inimigas. O portão principal dá acesso ao Stradun, rua com aparência única e calçamento liso de pedra calcária. No final da alameda, o viajante é recompensado com a magnífica Catedral da Assunção da Virgem Maria, construída sobre um templo bizantino do século 7 e financiada pelo Rei bretão Ricardo I (o Coração de Leão). Foi uma forma de o monarca agradecer por ter sobrevivido a uma tempestade na costa de Dubrovnik em seu retorno das Cruzadas.

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Próximo dali, uma das 1,2 mil ilhas da costa da Dalmácia chama a atenção pela beleza e por ser beneficiária de uma tradição inventada, de que ali teria nascido o lendário Marco Polo. Quarenta minutos de barco levam até Korcula, ilha que, como Dubrovnik, fazia parte da República de Veneza quando Marco nasceu, em 1254. Tudo indica que o renomado explorador, na verdade, nasceu na cidade de Veneza; porém, quando uma anedota torna-se benéfica para o turismo local (o monstro do Lago Ness é outro exemplo), acaba virando tradição popular, ainda que tenha sido fabulada.

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Os moradores da ilha de Korcula acreditam que ali nasceu Marco Polo

Entre 1991 e 1992, as montanhas que pairam sobre Dubrovnik foram ocupadas pelo Exército Popular da Iugoslávia, que bombardeou ferozmente a cidade durante a Guerra da Independência Croata. Quase tudo foi reconstruído, mas ainda há vestígios da violência das batalhas étnicas entre sérvios e croatas. A escalada pode ser feita em um teleférico, de carro ou a pé. A caminhada é interessante, porém é bom ficar atento aos alertas de minas terrestres fora da trilha principal.

Stradun, a principal rua da cidade antiga de Dubrovnik

O gênio Nikola Tesla declarou várias vezes ter orgulho tanto da pátria natal, a Sérvia, quanto de sua origem croata. Infelizmente, essa clareza de pensamento e humanidade faltaram aos seguidores de líderes genocidas como Radovan
Karadžic e Slobodan Miloševic, posteriormente condenados pelo tribunal de Haia. Sobre isso, ouvi de um nativo no Museu da Guerra, em Dubrovnik: “Um doido pode, eventualmente, produzir um rebanho de adeptos que, aconteça o que acontecer, o seguirão cegamente”.

Os arredores de Dubrovnik guardam vestígios da Guerra dos Bálcãs

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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