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Pelo mundo: 11 de setembro e as lições que, infelizmente, não foram aprendidas

Em 2001, ano em que me transferi para os Estados Unidos, estive na cidade de Nova Iorque algumas vezes em treinamento profissional, e lá encontrei Gregory Reda. Greg e eu, ambos razoavelmente introvertidos, logo nos identificamos e conversamos bastante nos intervalos dos cursos e durante as refeições. Ele não escondia o entusiasmo com o recente nascimento do filho Matthew, que, com o primogênito de 2 anos, Nicholas, e a esposa Nicole, completava sua bela família. O americano de 33 anos trabalhava na Marsh & McLennan, empresa que tinha seus escritórios na torre norte do imponente complexo do World Trade Center.

Na noite de 10 de setembro daquele ano, embarquei para uma viagem rápida de trabalho a Monterrey, México, onde teria uma reunião na manhã do dia 11 e já à tarde retornaria a Chicago. Durante o café da manhã no dia seguinte, minutos antes das 9 horas, o televisor do restaurante do hotel mostrava imagens de um incêndio que atingia a torre norte do World Trade Center, explicando que a provável causa seria o choque de uma pequena aeronave. Poucos minutos depois, assisti incrédulo ao choque do segundo avião contra a torre sul, confirmando que estávamos diante de um atentado terrorista de grandes proporções.

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Monumento às 184 vítimas do atentado ao Pentágono, em Arlington, Virgínia | Fotos: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

O avião é uma das mais notáveis invenções de todos os tempos. Nosso pioneiro da aviação, Alberto Santos Dumont, desiludiu-se profundamente com o uso das máquinas voadoras como parafernália mortífera de guerra no início do século 20, fator que certamente contribuiu para seu suicídio. O que diria ele ao ver o objeto que considerava uma arte transformar-se em instrumento de terror no século 21? Os ataques terroristas de 2001 foram cometidos por um grupo obscurantista pseudorreligioso e suas consequências mudaram o mundo. Analisando um pouco mais profundamente, contudo, vemos que são igualmente fruto da sequência de lições não aprendidas por países que, invariavelmente, acabaram se tornando vítimas de suas próprias criaturas.

Os Estados Unidos, cujo território continental jamais havia sido atacado, tomou medidas drásticas e sem precedentes, dentro e fora de suas fronteiras. No final de 2001, invadiu o Afeganistão e derrubou o regime do Talibã, organização formada a partir dos mujahedins, os soldados da resistência apoiada e financiada pelos próprios americanos nos anos 1980 quando os invasores da vez eram os soviéticos. O montanhoso país abrigou os principais centros de treinamento dos 19 terroristas que perpetraram os ataques suicidas, 15 dos quais eram cidadãos da rica Arábia Saudita. Em 2003, seguiu-se a injustificada invasão americana do Iraque, nação com vastas reservas de petróleo, enquanto outro saudita, o fundador e líder do Al-Qaeda Osama bin Laden, escapava no sentido oposto, refugiando-se no Paquistão.

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No topo da torre sul do World Trade Center, em foto de 1996, com meu irmão André

Vinte anos depois dos atentados, vimos a imagem do último soldado americano deixando o território afegão. No lugar da reconstrução prometida por George W. Bush e seus sucessores, o que ficou para trás, apesar de trilhões de dólares gastos e centenas de milhares de mortos, é um cenário muito semelhante àquele de 2001, com o mesmo grupo pré-medieval no comando do país conhecido como o “cemitério dos impérios”. De Alexandre Magno até os norte-americanos, passando por mongóis, persas, britânicos e soviéticos, os erros cometidos no Afeganistão foram incrivelmente parecidos. Mudanças políticas sustentáveis acontecem quando, além do afastamento do radicalismo, mentes e corações são acalentados e cativados com humanidade, respeito aos costumes e paciência de Jó com o progresso gradual. Fórmulas mágicas, truculência, frases de efeito em discursos e imposição de um governo nos moldes ocidentais sobre culturas tribais proporcionam a mesma estabilidade de um castelo de cartas.

Naquele fatídico 11 de setembro, vendo os ataques ao vivo, pensei automaticamente em meu amigo Greg, com quem mantinha contato regular. Desejei que ainda não estivesse no escritório ou que tivesse escapado rapidamente. Enviei-lhe uma mensagem naquela manhã e outras nos dias seguintes. Todas ficaram sem resposta. Semanas depois, recebi de sua esposa a triste notícia: Greg era uma das 2.977 vítimas dos ataques de Nova Iorque. O abalo de sentir a perda e o sofrimento de uma família que conheci de perto superou, em muito, o impacto causado por imagens e números nos noticiários. Resta-nos a esperança de que repetidas lições da História finalmente nos ensinem a não cometer os mesmos erros.

Vista parcial de Manhattan e das torres gêmeas, menos de um mês antes dos ataques

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