A poucas horas do início da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, qualquer projeção é precipitada. A oposição garante possuir os 342 votos para dar continuidade ao rito, o que também é indicado pelos placares dos principais jornais do País que, neste momento, sugerem que há entre 347 (Folha de S. Paulo) e 350 (O Estado de S. Paulo) deputados decididos a votar a favor. O Globo aponta 348.
Por outro lado, pessoas ligadas ao governo, que atuaram intensamente durante todo o fim de semana para arregimentar apoio, se dizem confiantes na vitória. Há menos de 36 horas, no fim da noite de sexta, os mesmos placares sugeriam a possibilidade de uma reviravolta após a lista pró-impeachment perder alguns nomes.
Esse placar apertado e o receio de ambos os lados de cantar vitória antes da hora é a prova da profunda divisão nas forças políticas, apesar de a base de apoio Dilma Rousseff (PT) ter se fragilizado muito nas últimas semanas. O quadro de hoje é muito diferente do que levou ao afastamento de Fernando Collor de Melo em 1992, quando a aprovação na Câmara se deu por ampla maioria – foram 441 votos a favor e apenas 44 contra.
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Essa divisão, porém, é reflexo, além da pressão do governo para evitar a derrota, da divisão na sociedade. Enquanto no episódio de Collor, a marcha nas ruas era única em favor do impedimento, Dilma, mesmo desgastada, mantém uma militância aguerrida ao seu lado, bem como o apoio de intelectuais e artistas e parcela significativa da comunidade jurídica, afora os cidadãos que, embora descontentes com seu governo, não depositam confiança nos seus sucessores do PMDB ou não julgam que a abreviação de seu mandato seja justa.
O fato é que essa divisão, se for confirmada na votação deste domingo, só torna a discussão ainda mais complexa: deixa também incerto o resultado no Senado, estimula confrontos nas ruas e, principalmente, gera o risco de que, independente do que aconteça, a crise continue.
*Pedro Garcia é editor de política e economia do jornal Gazeta do Sul
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