José Alberto Wenzel
Geólogo, ambientalista e escritor da Academia Rio-Grandense de Letras
josealbertowenzel@gmail.com
Ao chegar ao local de suas pesquisas, feitos os cumprimentos iniciais, Pedro pedia licença aos proprietários. De muitos, a maioria agricultores, ele se tornara conhecido. A buzina da “Rural Willys” de cor laranja soava familiar. Mesmo assim, Pedro Augusto costumava explicar sempre de novo por que estava ali e apresentava seus acompanhantes. Se comprazia em convidar especialistas e aprendizes para suas investigações. Sentia satisfação em aproximar as pessoas, ao tempo em que as instruía acerca da técnica de suas pesquisas.
Feliz pelos achados, triste se continha frente à possibilidade de uma coleta precipitada ou mal feita. A seu tempo de Mauá e Unisc, antes e depois, Pedro Augusto Mentz Ribeiro nunca se contentou com as superfícies. Ia fundo. Através das escavações, feitas com metodologia e cuidado científico, pretendia a exatidão investigatória. Todo vestígio era valioso. Havia que se referenciar a localização, etiquetar o achado e saber do cenário original. Se bem analisada, cada ponta de flecha, fragmento de cerâmica ou lasca de rocha poderia revelar um pouco mais dos nativos que outrora por ali haviam usufruído do contato com a natureza. Realizada a parte de planejamento, campo e laboratório, Pedro Augusto publicava seus trabalhos. Sempre procurou disseminar cientificamente seus estudos.
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A região de Santa Cruz do Sul foi seu porto familiar e sede de suas atividades por longo tempo. Todavia, Pedro nunca deixou de prodigalizar seu conhecimento e esforço em outros municípios, estados e países. No “V Congressio Nacional de Arqueologia”, realizado em Atlantida, no Uruguai, em 1976, foi possível testemunhar o quanto era respeitado também fora do País.
Se cientista reconhecido, o afeto lhe prodigalizou um enlace especial. Do encontro entre Pedro e Catarina, sua “Cata,” nome da intimidade que os unia, emergiu a mutualidade realizadora. Cata era para Pedro o que ele foi para ela. Completavam-se. Museóloga, pelas coisas do dia a dia era ela quem zelava. Ela organizava, conferia. “A mãe cuidava da parte mais burocrática”, lembra com saudade sua filha Anaí.
Catarina e Pedro percebiam-se partes confidentes do mesmo todo, este abençoado pelos quatro filhos, cinco netos e amigos zelosos.
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Assim, através de Pedro e Catarina, homenageamos motoristas, colonos, arqueólogos e escritores que comemoram seu dia neste final de semana. Pedro, o arqueólogo, também foi motorista, sabia da lida com a terra e escreveu muito, tanto que se tornou o patrono da cadeira nº 3 da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul. Quem igualmente escreve – e muito bem – é o aniversariante de hoje, Romar Beling, que, através da Gazeta, nos proporciona este espaço.
Se esticarmos o olhar, veremos que todos temos muito a comemorar, até porque, na cultura indígena ancestral, científica e afetuosamente anunciada por Pedro e Catarina, somos todos uma só família, desde os primórdios.
Assim vos cumprimento, e pedimos licença para chegar
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