Você não sabe exatamente de onde ele veio e quem são seus parentes. Instalado em uma vila, em um lar improvisado, ele arma diversas trapalhadas com os excêntricos moradores do local. Entre eles, o malandro trambiqueiro que não paga o aluguel, a mãe superprotetora de um filho mimado e sem traquejo social, a menina levada e o dono das casas, que está sempre cobrando o aluguel dos inquilinos. Não, este não é o plot de “Chaves”, sitcom exibida a exaustão pelo SBT há 33 anos, mas sim de “A Vila”, produção inédita que o Multishow estreia nesta segunda-feira, 7, às 22h30.
Paulo Gustavo é o protagonista Rique, um ex-palhaço que viu seu circo falir e busca refúgio em uma vila. Em vez de um barril, ele mora em um trailer. Rapaz de boa índole, honesto e que só quer encontrar um emprego para ter uma vida decente. Sua melhor amiga é Violeta (Katiuscia Canoro), uma trambiqueira que não mede esforços para passar a perna nas pessoas. Impossível não relacionar esta dupla a Chaves e Chiquinha. E a sitcom de Roberto Gómez Bolaños (1929-2014) foi uma das principais inspirações para os criadores.
Foi numa conversa sincera de Paulo Gustavo com a cúpula do Multishow que nasceu “A Vila”. Ele já não estava muito feliz com o “Vai Que Cola” – “começou a configurar trabalho e eu me via obrigado a gravar”, justifica – e manifestou o desejo de trabalhar em uma nova série. “Sentia falta de aparecer em outro cenário, de usar uma roupa diferente. Isso não é uma coisa exclusiva minha, é de todos os atores. Tinha vontade de fazer um palhaço, botar um cabelo diferente, fazer uma coisa num cenário que fosse uma vila”, explica. Com essa deixa, a direção do canal logo citou Chaves, e ele consentiu. “Amo fazer humor pastelão. Amo torta na cara, funciona bem e o público ama.”
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Mas a ingenuidade do humor aplicado em “Chaves” não cabe ao estilo do humor praticado pelas séries do Multishow. Tampouco a Paulo Gustavo. E é por conta de sua “persona cômica”, e pela boa troca de todo o elenco, que “A Vila” se trata de uma versão brasileira do clássico mexicano. Estender as comparações, inclusive, seria leviano. Logo nos primeiros minutos do primeiro episódio – disponível na plataforma Globosat Play desde o dia 3 -, as diferenças ficam bastante evidentes.
“O Chaves é muito infantil, não tem a malícia. O Paulo Gustavo tem um humor muito atual. A maneira dele se colocar em cena não tem ingenuidade. Os códigos de Chaves são ingênuos e repetitivos, são ótimos e servem de inspiração. Mas Paulo não é o Chaves porque ele é mais malicioso. Seu personagem, Rique, tenta se virar para sair daquela situação, não é um ‘loser’ que está morando num barril”, explica Pedro Antonio Paes, que divide a direção da série com João Fonseca. “Chaves era um programa sempre no mesmo ambiente, tinha sempre o mesmo figurino, tratava das mesmas histórias, mesmos conflitos. Temos a mesma energia, pois estamos sempre no mesmo cenário e as histórias sempre finalizam da mesma forma. A gente tem um pouco desse código, que é parecido com o do Chaves”, acrescenta Paulo.
A Vila
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Também são poucos os elementos semelhantes aos de “Vai Que Cola”, fenômeno do Multishow que terá sua quinta temporada neste ano e do qual Paulo Gustavo se desligará. Enquanto a série veterana tem um tom histriônico, trânsito desenfreado de personagens e um texto adulto, “A Vila” tem um tom ameno. Os personagens não são figuras superlativas, não se interrompem, suas falas não são sexualizadas e os conflitos são muito menos maliciosos. Paulo Gustavo descobriu ser dono de uma legião de fãs mirins, e ele achava que sua série anterior não contemplava esta categoria.
“No Vai Que Cola a dinâmica é cíclica. Tudo é meio gritado, o cenário gira, os personagens brigam. A Vila é narrativa, conta a história de uma maneira mais calma, o cenário é estático, um pouco mais bucólica. E é menos agressiva. Não tem esse humor de bullying tão forte. Tem as brincadeiras, e é o que o público espera. O Paulo tem a preocupação de se comunicar com toda a família, incluindo as crianças”, diz Paes.
Rique tenta se reerguer como “frila”. Topa qualquer bico que lhe aparece para arranjar uns trocados. Vigia noturno, jardineiro, empacotador de supermercado, e muitas outras profissões são encaradas por ele. E se dá mal em todas elas. A culpada por seus fracassos é Violeta, sua melhor amiga, que sempre arranja uma maneira de sabotar qualquer chance de sucesso que o ex-palhaço possa vir a ter. A química entre Paulo e Katiuscia é a alma desta obra.
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“O Paulo é um gênio da comédia. E a Katiuscia tem uma inteligência para o humor que é especial. Quando a chamei para A Vila, fiquei muito atento em construir uma personagem mau-caráter e picareta, sem perder a atriz. Eu precisava contar uma história, não uma esquete de humor. Aí ela foi brilhante, porque ela não só é uma escada para o Paulo, não é só uma comediante de troca. Ela é especial”, avalia o diretor.
Aldo Perrota, Alex Pinheiro, Ataíde Arcoverde, Gil Coelho, Lucas Salles, Monique Alfradique, Teuda Bara e Zezeh Barbosa completam o elenco da série de 25 episódios produzida por A Fábrica, e é assinada por Andrea Batitucci, Leandro Muniz e Leandro Soares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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