Paulinho Cunha, de 49 anos, completou dois anos e quatro meses de atuação como massagista da federação de futebol dos Emirados Árabes Unidos. Residente em Dubai, o rio-pardense que se criou no bairro Santa Vitória, em Santa Cruz do Sul, esteve na Gazeta Grupo de Comunicações durante o período de férias, para relatar algumas experiências vividas por ele no Oriente Médio, com as dificuldades de adaptação por conta da alimentação, do idioma e da cultura.
Ele foi indicado pelo massoterapeuta Nerinaldo da Silva, do Al Hilal, da Arábia Saudita. Um contato construído como tantos outros ao longo da carreira, após trabalhar em nove estados brasileiros. Paulinho foi contratado após a situação da pandemia ter sido amenizada. Edimar Silva, massagista carioca com 27 anos no país árabe, foi quem o auxiliou no início. Serviu de intérprete e de professor de inglês. Também forneceu as dicas em relação às regras exigidas em uma cultura islâmica. “O médico queria o Neri, mas ele me indicou. Ele disse que não precisava falar inglês, mas saber trabalhar. Foi o suficiente”, relata Paulinho.
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Segundo o massagista, o tradutor do celular é uma ferramenta de auxílio importante. Outro fator é o carisma dos brasileiros, que são bem recebidos pelos árabes, também pela popularidade dos jogadores brasileiros. No início, Paulinho teve contato com o médico local e o fisioterapeuta indiano. Aos poucos, começou a falar algumas palavras em inglês e a entender o que os outros diziam. Também aprendeu um pouco de árabe. A programação de trabalho, por exemplo, sofre interrupções para os momentos de oração dos muçulmanos. “Existe um respeito mútuo. Como em qualquer lugar do mundo, precisamos seguir as regras do local em que estamos”, observa.
De acordo com Paulinho, o futebol está em evolução no país. Há rivalidade entre os clubes locais e a seleção masculina esteve perto da Copa do Mundo de 2022. Foi eliminada na repescagem asiática em duelo contra a Austrália. Com mais vagas em 2026, a expectativa de classificação é alta. A busca por excelência pode ser vista em outras modalidades e categorias, como na seleção feminina, nas categorias de base, no futsal e também no beach soccer.
Para ele, o que muda em relação às principais seleções é a qualidade técnica dos jogadores. A estrutura da federação é a mesma dos principais clubes europeus. Por conta das viagens com as seleções nacionais, Paulinho teve a oportunidade de conhecer 15 países. Inclusive, um deles foi a Ucrânia, que vive um conflito com a Rússia. “É um dos lugares mais bonitos que já estive. Lamento bastante a situação atual.”
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Os estrangeiros formam praticamente 80% da população nos Emirados Árabes Unidos. Segundo Paulinho, o governo auxilia a população local, principalmente com subsídios em serviços públicos. Além dele, a federação conta com outros quatro massagistas brasileiros, três fisioterapeutas, um treinador do beach soccer e um analista de desempenho. Na pandemia, a vacinação avançou com rapidez e a cobertura foi quase total, amenizando as consequências da circulação do coronavírus.
Apesar da riqueza do petróleo e a ostentação dos magníficos edifícios de Dubai e Abu Dhabi, existe uma parcela de imigrantes em situação de vulnerabilidade, com salários aproximados de 1 mil dólares. São famílias oriundas de países como Índia e Bangladesh. Discriminados entre os moradores locais, servem de mão de obra barata. O clima desértico é desconfortável, com temperaturas na faixa de 50 graus entre junho e setembro. O que ameniza é a climatização em praticamente todos os recintos fechados.
A alimentação é variada. O país recebe produtos de diversas parte do mundo. A carne brasileira, segundo Paulinho, é vendida no varejista francês Carrefour. O problema é o preço. Os cortes são restritos e vendidos por cerca de R$ 90 o quilo. A proteína mais comum é de carneiro. Verduras e legumes são inflacionados pela dificuldade de transporte. Pelo clima desértico, praticamente tudo precisa ser importado. Por questões culturais, os árabes não poupam na pimenta. “Já experimentei de tudo. Até por uma questão de respeito. Tem que adaptar o paladar aos poucos”, explica.
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Os Emirados Árabes Unidos mantêm um conjunto de regras que devem ser seguidas. Pedestre que passa fora da faixa de segurança pode ser multado. O mesmo vale para quem joga lixo na rua. Durante a pandemia, qualquer desvio da rota previamente informada ao aplicativo do governo também era passível de punição. O sistema de transporte, por exemplo, funciona com pontualidade, seja ônibus ou metrô. O estilo de vida é bastante similar ao que vimos no Catar, durante a Copa do Mundo.
Paulinho não pensa em voltar ao Brasil. Apesar das exigências do país, o massagista admira a postura correta dos emires. “Recebemos no dia exato. Não há aquela pressão do futebol brasileiro. Sabemos que existem clubes sem estrutura, que contratam sem a garantia de ter o dinheiro no fim do mês. As distâncias também são desgastantes”, afirma o profissional, que acumula 20 anos de carreira.
A esposa e a filha visitaram Paulinho e ficaram três meses no país, durante o período de validade do visto de turista. A esposa conseguiu a liberação como residente neste ano e está com ele desde julho. “Em alguns momentos, fico somente no apartamento. Depende das convocações. Ter a esposa junto é bem melhor. Ela sente falta do nosso verde. Lá só tem areia e prédio”, detalha.
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