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Patti Smith: uma artista da música, literatura e fotografia

Prestes a completar seus 73 anos, no próximo dia 30, a norte-americana Patti Smith vive a condição de uma das artistas mais influentes da atualidade no universo pop, o que engloba a música, a literatura e a fotografia. Ela conviveu com alguns dos grandes nomes da música e o fez a partir de um gênero, o punk rock, ou art rock, que sempre se traduziu numa espécie de vanguarda, de inquietação ou de ultrapassagem de limites.

Patti é do mesmo naipe de artistas que incluem expoentes como o Prêmio Nobel Bob Dylan, hoje com 78 anos, forjados nas ruas, no contato íntimo com o público das grandes cidades. A exemplo de Dylan, aliás seu grande amigo, com quem chegou a fazer turnê, ela também é muito eficiente ao lidar com a palavra escrita, não apenas como compositora, mas como poeta e prosadora. Sua ligação com Dylan é tão intensa a ponto de ter sido ela a cantar “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” na cerimônia em que ele recebeu o Nobel, em dezembro de 2016.

Seu estilo é constatado com segurança a partir do lançamento de seus livros no Brasil, por iniciativa da Companhia das Letras. A editora acaba de colocar nas livrarias dois volumes: Devoção, que proporciona acesso generoso a seu processo criativo; e as memórias, misto de relato de viagens, de O ano do macaco. Juntam-se a dois outros títulos que a editora havia trazido ao País: Só garotos, de 2010, na qual contextualiza a sua relação com o fotógrafo Robert Mapplethorpe, nos revolucionários anos de 1970; e Linha M, de 2016, no qual aborda seus lugares prediletos enquanto artista, a partir do bairro nova-iorquino de Greenwich Village, sempre remetendo a escritores de sua predileção.

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Devocionário
O primeiro dos agora lançados, Devoção, embalado como cartilha, no formato 11×16 cm, em 144 páginas, é dividido em quatro partes, nas quais pensa e repensa a sua própria condição de artista. Num deles, usa como mote viagem a Paris, e ali dialoga com novelas do Nobel Patrick Modiano e a biografia de Simone Weil. Na segunda parte, usa a história de uma jovem patinadora como metáfora para seu próprio exercício de se dizer.

E narra visita à casa de Albert Camus para então, novamente em intertexto com outro Nobel (é leitora e fã de nomes efetivamente referenciais na cultura de todos os tempos), concluir que a vida sem a arte, a vida sem a possibilidade da expansão de horizontes oferecida pelas grandes obras em todos os gêneros e modalidades, seria uma espécie de danação. “Não podemos apenas viver”, é a conclusão. Por isso, é indispensável devotar-se à cultura, à arte.

O ano do macaco tem outra pegada. Nesse caso, em 168 páginas, o motivador é uma turnê realizada pela América com sua banda, em 2016, e Trump recém havia sido eleito presidente dos Estados Unidos. Com tal pano de fundo, em tom de memória, avalia o cenário para o futuro a curto e médio prazos. Mas ao mesmo tempo reflete sobre a iminência da chegada aos 70 anos, na época, e ainda de perdas recentes, como a de seu mentor, o músico Sandy Pearlman, e o escritor e dramaturgo Sam Shepard.

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Nascida em Chicago, Illinois, Patti teve inúmeros relacionamentos (afetivos ou de amizade e parceria criativa) com expoentes de diferentes artes (entre eles o poeta beat Allen Ginsberg), e sempre com uma personalidade que a fazia argumentar, expôr pontos de vista. Não por acaso, suas opiniões têm forte repercussão política, nos EUA e também no mundo. Mas é, essencialmente, uma artista ciente e consciente do mundo em que vive, e que o capta com antenas afetuosas e comprometidas.

Ficha

Devoção, de Patti Smith. Tradução de Caetano W. Galindo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 144 p. R$ 39,90.
O ano do macaco, de Patti Smith. Tradução de Camila von Holdefer. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 168 p. R$ 49,90.

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