Ainda cercado de muito mistério, o homicídio ocorrido em um apartamento da área central de Santa Cruz do Sul na tarde da última sexta-feira permanece em investigação. Autora confessa do assassinato do engenheiro Maurício Zart Arend, de 36 anos, Karine Ruppenthal Guerreiro, de 39, foi presa em flagrante pela Brigada Militar (BM) por volta de 16h30 e encaminhada para a delegacia.
Ao delegado Marcelo Chiara Teixeira, que é titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e estava como plantonista, ela confessou o crime, mas alegou legítima defesa sua e de seu filho, um adolescente de 15 anos. O delegado afirmou à Gazeta que considerou alguns aspectos para lavrar o auto de prisão em flagrante para a autora.
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“Levou-se em conta, entre outros elementos, o fato de a vítima apresentar mais de 20 perfurações no corpo causadas por golpe de arma branca (faca)”, detalhou. Ainda conforme Chiara, ao ser interrogada, limitou-se a dizer que agiu em legítima defesa, não fornecendo mais detalhes sobre o que causou as agressões. Segundo Marcelo, foram encontradas perfurações em diversas partes do corpo de Maurício, sendo pelo menos duas nas costas.
Duas armas brancas teriam sido utilizadas para golpear o homem. “Elas foram recolhidas pelos peritos. Uma acabou quebrando e foi encontrado só o cabo. É possível que a lâmina tenha ficado no corpo. Temos que esperar a necropsia para verificar”, complementou o delegado. Karine deu entrada no Presídio Estadual Feminino de Rio Pardo por volta de 22h30 de sexta-feira.
Titular da 1ª Vara Criminal e plantonista no sábado, a juíza Márcia Inês Doebber Wrasse homologou o flagrante e determinou a liberdade provisória para a mulher. No entanto, a magistrada registrou algumas medidas cautelares para a investigada, entre elas manter o endereço atualizado, comparecer a todos os atos do inquérito policial e do processo quando for intimada e comunicar se for se ausentar da comarca por mais de 15 dias. No meio da tarde do último sábado, Karine deixou a casa prisional.
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O assassinato aconteceu em um apartamento de um prédio localizado na Travessa Haun, no Centro. O corpo foi encontrado dentro de um dos dois quartos do imóvel, em meio a muito sangue, com golpes na cabeça, tronco, braço e perna. A autora do homicídio foi encontrada com a roupa suja de sangue. Entre as informações apuradas pela polícia, horas antes do assassinato os dois estiveram em um posto de combustíveis consumindo bebidas, e depois foram para o apartamento de Karine.
No local, teria acontecido uma discussão e luta corporal entre Maurício e o filho da mulher. Em virtude disso, ela teria interferido e passado a desferir golpes de faca no homem. A Gazeta do Sul conversou com o advogado constituído para fazer a defesa de Karine. Mateus Porto confirmou que, antes de o caso se desenrolar no apartamento, sua cliente e Maurício de fato estavam no estabelecimento comercial.
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Eles teriam saído de lá após o meio-dia. “Tudo leva a crer que foi uma situação passional. Desde o início, minha cliente externou para a Brigada Militar que agiu em legítima defesa, após ter sofrido agressões e a vítima ter tentado matar ela e o filho. Na delegacia também confirmou essa versão, assim como o filho”, comentou o advogado. Porto ainda detalhou que Karine e Maurício não tinham um relacionamento de muito tempo.
“Haviam se conhecido há poucos dias. Na hora do fato, na sexta-feira, a apuração preliminar é que ele estava bastante alterado e agressivo, o que acabou fatalmente nesse desfecho. Quanto à motivação da discussão, ela não prestou esclarecimentos, pois estava muito abalada durante a ocorrência.” Como acusada ou suspeita, na ficha policial de Karine constam crimes como posse de entorpecentes em Venâncio Aires, posse irregular de arma de fogo de uso permitido em Carazinho e ameaças e disparo de arma de fogo em Santa Cruz do Sul.
Com antecedentes por posse de entorpecentes, perturbação do sossego, perseguição (stalking), dano qualificado e crime contra a flora, Maurício Zart Arend havia deixado o presídio 11 dias antes do homicídio, em 1º de abril. Ele passou duas semanas atrás das grades, após ter a prisão preventiva autorizada pelo Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e cumprida no dia 16 de março.
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Sua captura ocorreu em virtude de um crime de violência doméstica, no âmbito da Lei Maria da Penha, contra uma ex-companheira de 44 anos, com quem ele teve um relacionamento de cinco meses. O caso investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) aconteceu em 10 de fevereiro, por volta de 21 horas, em um apartamento localizado no Bairro Santo Inácio.
Na oportunidade, após o casal ter encerrado o relacionamento, o homem teria tido uma crise e proferido xingamentos contra a mulher, terminando por quebrar objetos no apartamento dela. Depois, em 7 de março, por volta de 10h45, a mesma mulher foi abordada pela síndica do condomínio, que informou que Maurício estava tentando entrar no prédio.
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A vítima, então, retornou ao seu apartamento, mas o homem entrou no condomínio por um acesso secundário e passou a tocar o interfone de vários apartamentos, provocando danos e xingando moradores. Após esse fato, a mulher de 44 anos solicitou medidas protetivas de urgência. O nome dessa vítima foi preservado pelas autoridades.
Em entrevista nessa segunda-feira, 15, aos jornalistas Leandro Porto e Aline Silva, no programa Rede Social da Rádio Gazeta FM 107,9, a delegada Ana Luisa Aita Pippi, titular da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) e responsável pela investigação, confirmou que no momento a polícia apura se houve excesso de legítima defesa e o que motivou a discussão que resultou nas agressões e no homicídio.
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“Investigamos qual era a relação entre a vítima e a acusada. Já temos algumas imagens da entrada do prédio para averiguar. Vamos analisar outros materiais que foram coletados e apreendidos na hora do fato, assim como as perícias no local e instrumentos usados para a prática do crime”, comentou.
Sobre a possibilidade de que o autor do homicídio seja o adolescente, com sua mãe o acobertando, a delegada afirmou que foram realizadas perícias de DNA da acusada e do filho, que devem ser confrontadas com os materiais genéticos encontrados nas facas e no corpo.
Segundo a titular da 1ª DP, em depoimento, o adolescente disse que não teria esfaqueado e sim desferido golpes físicos em Maurício, e a única que teria agredido com facadas foi sua mãe. Ana Luisa ainda explicou o que configura a legítima defesa e o excesso de legítima defesa. No primeiro caso ocorre o uso moderado do meio para repelir uma injusta agressão, em que o autor, ao ser agredido, desfere um, dois ou três tiros ou golpes, dependendo da situação.
“No caso analisado, a acusada tinha facas, e ela usou para repelir uma injusta agressão que relatou estar sofrendo. Claro que o número das facadas vai ser levado em consideração, assim como todo o contexto do que aconteceu dentro daquele apartamento, para verificar se houve excesso ou não na legítima defesa.” Por fim, a delegada disse que o inquérito não tem prazo para ser concluído.
Isso se deve, em parte, às perícias genéticas, consideradas provas-chave do caso, que foram encomendadas ao Instituto-Geral de Perícias de Porto Alegre, sem prazo para retorno. O nome do jovem foi mantido em sigilo pelas autoridades policiais, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O caso emblemático foi o terceiro homicídio registrado em Santa Cruz do Sul neste ano. Todos esses crimes permanecem em investigação.
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