“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”
– Shakespeare (1564-1616)
A raiva, o ressentimento e o ódio estão entre os mais poderosos e autodestrutivos sentimentos e emoções do repertório humano. Costumamos ouvir ou até pronunciar frases do tipo “ele me passou pra trás”, “ele acabou com os meus sonhos”, “ele me roubou”, “o que você fez não merece perdão”, etc. Por maiores que sejam os motivos que geraram esses sentimentos, não vale a pena guardá-los e muito menos alimentá-los. Ruminar alguma raiva, mágoa ou qualquer sentimento negativo de alguém é como carregar uma mala “pra cima e pra baixo”, inclusive dormindo e acordando com ela – isso quando não tiver insônia.
Em algum momento, todos perdemos alguma coisa. Mas só porque temos toda a razão para nos sentirmos magoados, tristes, desapontados, roubados, injustiçados, vitimados não precisamos ressentir essas emoções o tempo todo, indefinidamente. Acreditamos que infortúnios financeiros, especificamente, sempre são resultado de atos de injustiça, cometidos pelo outro. Permanecemos ressentidos, às vezes por muitos anos, tornando-nos reféns do passado e até ajudando aquela pessoa a livrar-se de nós.
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Como, então, libertar-se de sentimentos e emoções negativas e recomeçar? Através do perdão. É uma das respostas, entre várias, que podemos dar quando nos sentimos magoados, raivosos e injustiçados. Não é algo esotérico ou sobrenatural, nem precisa ser, necessariamente, religioso. É uma habilidade que se pode aprender e que se torna mais fácil com a prática. Estudos científicos comprovam que perdoar faz bem para a saúde mental e física. Não muda o passado, mas modifica o tempo atual.
Perdoar não significa achar que o que aconteceu estava certo, nem fechar os olhos à conduta grosseira, desatenciosa, interesseira ou desonesta de alguém. Também não é sinônimo de esquecimento, de “deixar pra lá”, o que às vezes é difícil, principalmente quando vemos o devedor ou outro desafeto pousando sorridente em páginas sociais; ou, quando desfila com o carro do ano ou exibe outros bens, mesmo devendo a parentes, amigos etc.; ou, quando fica sentado em mesa de bar, no calçadão, tomando tranquilamente uma cerveja e fazendo de conta que não conhece o credor. Perdoar também não significa desistir do pleito por justiça ou indenização. Perdão tem a ver com nós mesmos, não com o outro que, às vezes, nem está interessado nisso. Perdoar é abrir mão de usar o comportamento de alguma pessoa para concluir que ela não presta, que é cretina, irresponsável, desonesta ou bandida.
Embora pareça estranho, o perdão tem algo a ver, também, com o dinheiro. A consultora financeira americana e autora de livros, Suze Orman, diz que os maiores obstáculo internos na busca de uma vida financeira mais equilibrada e até próspera são o medo, a vergonha e a raiva. Quando os amigos convidam para jantar fora e a pessoa não tem dinheiro, mas acaba aceitando o convite por vergonha, mentindo para si mesma. Então, o medo da rejeição e do julgamento também levam a pessoa a mentir e a gastar impulsivamente. O mesmo acontece com a raiva. Com ela, deixamos a emoção tomar conta e saímos gastando mais do que temos em nossa conta bancária.
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O perdão é raramente discutido e muito pouco praticado, mesmo entre membros de religiões que o prescrevem nos ensinamentos ou até o incluem em orações, como o Pai Nosso, do cristianismo. Na prática, é mais fácil pedir perdão a Deus do que perdoar a si mesmo e aos outros. É uma das atitudes mais difíceis para a maioria dos seres humanos. Para alguns, um ato de fraqueza de quem não possui amor próprio. Para outros, uma demonstração de grandeza, um excelente exercício de humildade, uma atitude libertadora, porque rompemos com as amarras que nos mantém presos ao passado, a alguém ou a alguma situação especial.
Perguntado sobre quantas vezes se deveria perdoar, Cristo foi taxativo: “Perdoarás não sete vezes, mas setenta vezes sete”. Ninguém precisa vingar-se porque o autor de qualquer crueldade, injustiça, roubo – mesmo sob forma aparentemente inocente da não devolução de valores – está fazendo o mal a si mesmo.
O grande momento da Páscoa, pelo menos para os cristãos, é certamente a ressurreição de Cristo, sem a qual a morte na cruz, depois de vários dias, submetido a torturas físicas e psicológicas, não teria o mesmo sentido. Em sua dor inimaginável, antes de morrer, tendo todos os motivos para estar revoltado, Cristo olhou para o céu e disse: “Pai, perdoai a essas pessoas, elas não sabem o que fazem”. É a demonstração de atitudes extremas do ser humano: de um lado, provocar as maiores crueldades; de outro, ser capaz de perdoar os semelhantes.
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Feliz Páscoa!
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