São ao menos quatro os motivos pelos quais a eleição de 2016 não será como as outras. Há quase três décadas, a corrida pelo poder não era tão disputada em Santa Cruz. Após um período marcado por turbulências e reviravoltas – com partidos entrando e saindo do governo, novas siglas sendo criadas e uma migração sem precedentes de pessoas entre os quadros das legendas –, o cenário eleitoral se pulverizou e serão cinco frentes cobiçando o Palacinho. A última vez que tantos candidatos se lançaram foi em 1988, quando houve seis chapas.
Também pesa o fato de a campanha ser bem mais curta do que as anteriores. Até 2014, os partidos dispunham de mais de 60 dias. Desta vez, serão somente 45, já que o período eleitoral inicia oficialmente após 15 de agosto e a votação será no dia 2 de outubro.
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Telmo se lança e ataca: “Populismo não serve”
Telmo Kirst levou a sério a promessa de esperar até o último instante para confirmar sua candidatura à reeleição. A convenção do PP começou por volta das 19 horas, no Restaurante Di Capri, mas Telmo chegou pouco antes das 23 horas. E até aquele momento, nem mesmo pessoas próximas a ele e membros da alta cúpula do partido tinham certeza da sua pretensão.
A demora, que causava angústia à militância, se deu por dois motivos. O primeiro foi que, até cerca de 21h30, o PP ainda tentava formar um “frentão” com o grupo liderado pelo PSB – a ideia só foi abandonada quando Fabiano Dupont descartou a aliança em entrevista à Rádio Gazeta.
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O segundo foi que, embora repetir a dobradinha de 2012 fosse o projeto original do partido desde o princípio, Telmo resistiu fortemente à ideia de concorrer. Aquartelado na casa da vice-prefeita Helena Hermany, teve que sofrer forte pressão até ceder. A senadora Ana Amélia Lemos (PP) foi acionada e conversou com Telmo por telefone. O presidente do SD, Ilário Keller, também foi chamado à residência, na última hora, para ajudar a convencê-lo. Dirigentes do PP chegaram a cogitar anunciar que o partido não tinha candidato e que outro nome precisaria ser escolhido.
Sob a vibração de integrantes dos oito partidos que o apoiam, Telmo fez um pronunciamento marcado por comparações veladas entre seu governo e gestões anteriores do PTB – o que deve ser o mote de sua campanha. Diante de um banner com a frase “Santa Cruz não pode parar”, iniciou falando sobre sua família e trajetória e logo fez menção ao Lago Dourado, menina dos seus olhos, o qual descreveu como “uma dádiva de Deus”. Disse que, quando chegou ao Palacinho, Santa Cruz “não estava no rumo certo” e exaltou feitos de sua gestão, como o pagamento do piso dos professores, o acordo com a AES Sul e os investimentos na saúde. Ainda resgatou um dos bordões da campanha passada, afirmando que acabou com a “gastança”. “Não posso permitir que voltem as aventuras. Populismo não serve mais. As pessoas querem gestão. Não queremos a volta daqueles que endividaram o município.” Buscando afastar a pecha de que entra em desvantagem na eleição, finalizou: “Eu nunca perdi uma eleição na vida. E não vou perder essa.”
Após lançar candidato, PMDB recua e fica com PP
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Horas antes de confirmar a candidatura à reeleição, Telmo obteve de volta o apoio do PMDB, que retirou a indicação de Alex Knak para concorrer a prefeito, lançada na noite de quinta-feira. O PMDB ficou isolado após o PSDB, com quem vinha negociando há vários meses para formar uma nova via na disputa, migrar para o grupo do PSB. Diante da necessidade de fechar a ata da convenção dentro do prazo previsto na lei, acabou por aceitar a proposta do PP – que previa uma coligação do PMDB com o PDT para a Câmara. Ao abrir os trabalhos, Henrique Hermany elogiou “a grandeza de Alex Knak”.
Em nota, o PMDB disse que as “convenções partidárias, que são soberanas, apontaram um novo caminho”. “Nos unimos ao grupo que tem apresentado uma gestão pública aprimorada, no qual participamos e contribuímos”, diz o texto.
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Gerri quer “romper o ciclo de duas famílias”
Diferente de outras frentes, o PT iniciou a convenção, no auditório do Sindibancários, com os candidatos definidos. Embora o nome de Gerri Machado, que estreia em uma corrida eleitoral, já estivesse sacramentado, a expectativa era em torno do candidato a vice, escolhido durante a tarde. Será o funcionário público aposentado Marco Antônio Ferreira Schorner (PT) . Desde 2004, esta é a primeira vez que o partido coloca candidato a prefeito. Em 2008 e 2012, concorreu com o PTB.
Cerca de cem pessoas acompanharam o encontro, entre elas militantes do PT e da Rede Sustentabilidade, representantes de entidades e militantes petistas conhecidos no Estado, como o ex-deputado Selvino Heck, o deputado Luiz Fernando Mainardi e o ex-secretário João Motta. Os discursos focaram na ideia da renovação e do fim do revezamento entre PTB e PP no Palacinho. “Santa Cruz precisa romper o ciclo de duas famílias, fazendo a mesma política, da mesma forma”, defendeu o candidato do PT.
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Em seu pronunciamento, Gerri associou o PT à obra do viaduto do trevo Fritz e Frida. “Isso já prova que esse é um grupo que está comprometido com a cidade”, afirmou. O candidato também comentou algumas de suas propostas, como a implantação de reservatórios de água e a construção de moradias populares.
À Gazeta do Sul, Gerri destacou sua experiência por 20 anos em gestão e exaltou o seu trabalho enquanto secretário do PAC no governo Kelly Moraes, como a obtenção de recursos para a obra do Residencial Viver Bem. “O PT acreditou que nós precisávamos colocar uma candidatura que tivesse a experiência para fazer as coisas, e não apenas um político tradicional. Então me chamaram, apesar de eu nunca ter concorrido a nada, para que eu viesse com o compromisso de desenvolver um grande projeto para Santa Cruz.”
Presidente do PT local, Renato Araújo falou na reconstrução do partido – que teve a imagem abalada com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e os escândalos de corrupção – e da importância de estar representado na região, e fez críticas ao governo de Telmo Kirst e ao apoio de Sérgio Moraes ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Sérgio Moraes dispara: “Queremos comparar”
Em convenção realizada na noite de sexta-feira, no salão de festas do Esporte Clube Avenida, o PTB confirmou o nome do deputado federal Sérgio Moraes como candidato a prefeito no pleito de outubro. O vice será o ex-secretário municipal da Educação, João Miguel Wenzel.
Em sua manifestação, Sérgio deixou claro o discurso que vai usar na campanha. “Queremos comparar os governos do PTB com a atual administração, do PP. Vamos mostrar o que fizemos na saúde, na valorização dos bairros e do interior, em pavimentação, transporte coletivo e outros. E o povo poderá analisar como a situação está hoje.” Também reafirmou seu desejo de disputar contra o atual prefeito Telmo Kirst (PP). “Finalmente, ele saiu de debaixo da cama.”
Moraes alertou os candidatos a vereador e a militância para que mantenham a humildade. “A eleição é em outubro e ninguém ganhou nada ainda. O lado de lá não está morto.”
Também pediu respeito aos adversários. “Assim como nós, eles têm votos. O que fará a diferença na campanha será a união, a nossa presença junto ao povo.” Disse que a campanha do PTB será desenvolvida com poucos recursos e que o grupo não aceitará dinheiro de empresas. “Não pretendo gastar com santinhos, pois todo mundo me conhece. Os candidatos a vereador terão seu material fornecido pelo partido.”
Lembrou que o tempo da campanha será curto e que será preciso aproveitar muito bem os espaços no rádio, na TV e nas redes sociais. “Vamos caminhar muito, para conversar com os eleitores.” Disse que está pronto para a campanha. “Tomara que a Rádio Gazeta nos convide para um debate já neste fim de semana”, brincou.
Coligados com o Povo
O PTB concorre com o apoio do PSD, PTdoB, PR e DEM. Moraes explicou que o grupo irá denominar-se “Coligados com o Povo”. No início da próxima semana, será definida a sede da coligação e os nomes que irão coordenar a campanha. Disse que, a princípio, não pretende se licenciar na Câmara. “Mas em setembro, voltaremos a analisar esta questão.”
A direção do DEM chegou à convenção por volta das 21h30 e foi muito aplaudida. O presidente Norberto Frantz salientou que o partido está entre amigos. “Decidimos seguir por outro caminho e já estamos em campanha para eleger Sérgio e João Miguel.”
Na avaliação do dirigente, o grupo liderado por Moraes tem a melhor proposta para Santa Cruz. Ainda destacou que o partido terá um candidato a vereador. A Coligados com o Povo terá 34 candidatos ao Legislativo. Desses, 23 são homens e 11 são mulheres. Como existem nomes sobrando, a nominata somente será anunciada na segunda.
“Santa Cruz precisa de renovação”, diz Fabiano
Com discursos pregando a renovação na política santa-cruzense, a convenção municipal do PSB confirmou a candidatura de Fabiano Dupont a prefeito. Sem quadros dispostos a ocupar o posto de vice na chapa, o PSDB, que chegou a avaliar os nomes de César Cechinato, Paulo Jucá e Eliceu Scherer entre quinta e sexta-feira, se contentou em apenas apoiar a chapa na eleição majoritária – além de coligar na eleição para a Câmara. Assim, os socialistas vão para a disputa com chapa pura: a professora Seli Flesch foi escolhida como candidata a vice durante o ato.
Como parte de uma estratégia nacional do partido para se fortalecer no cenário municipal, o socialista será o primeiro candidato a prefeito pelo PSB desde 1988 em Santa Cruz. Além do PSDB, o PHS, PSL, PTN, PMB, PMN, PSC, PEN e o PCdoB irão apoiar Dupont. As dez siglas também estarão juntas na coligação proporcional. Serão, ao todo, 34 nomes que tentarão uma vaga na Câmara de Vereadores.
Com o slogan “É Possível Mudar”, Dupont foi ovacionado por cerca de 400 militantes que acompanharam o encontro no Grêmio Esportivo Olaria. Em seu discurso, o candidato preferiu evitou críticas a governos e se apresentou como “a verdadeira mudança”. “Vamos entrar nessa eleição de peito aberto, querendo mudar essa cidade que merece um prefeito que olhe para as pessoas”, destacou.
Ainda um nome pouco conhecido, o candidato aposta na influência do deputado federal Heitor Schuch (PSB), sobretudo para conquistar o eleitorado do interior. “Santa Cruz precisa de uma renovação de verdade para crescer. O povo está cansado da velha política, que não é comprometida com as pessoas”, afirmou Schuch. Além do deputado, outros correligionários de Dupont se reuniram em torno da coligação. Ao lado dele, ainda estavam o presidente estadual do partido e ex-candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque, e os deputados estaduais Catarina Paladini e Elton Weber.
A tentativa do PP de oferecer a Dupont o posto de vice-prefeito na chapa de Telmo Kirst, quando as convenções já haviam sido iniciadas, foi lembrada pelos socialistas. “Se cogitaram o nome de Fabiano é porque sabem da competência que ele tem”, afirmou Albuquerque. Dupont minimizou a tentativa. “Não se muda a política traindo a própria palavra. Se eu disse que seria candidato a prefeito, assim vai ser”, concluiu.
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