Em menos de 48 horas, a campanha de financiamento coletivo lançada pela Escola de Artes Visuais (EAV), do Parque Lage, no Rio, para montar a exposição “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” já arrecadou mais de 10% de sua meta de R$ 690 mil.
No ano passado, a mostra, que tem obras de artistas brasileiros seminais, como Candido Portinari, Alberto Guignard, Lygia Clark e Adriana Varejão, foi cancelada no Santander Cultural, em Porto Alegre, e vetada pela prefeitura do Rio no Museu de Arte do Rio (MAR), por ser considerada imoral por movimentos conservadores.
A meta da EAV é chegar ao montante total até o fim de março e inaugurar a exposição em maio. A campanha foi lançada no site Benfeitoria na quarta-feira, 31. Até as 14 horas desta sexta-feira, 2, mais de 350 pessoas já haviam apoiado, num total de cerca de R$ 70 mil. A contribuição mínima é de R$ 20; a máxima, R$ 50 mil. A ajuda dá direito a recompensas como visitas particulares à exposição antes da abertura oficial, catálogos e obras de arte assinadas por nomes como Carla Chaim, Guto Lacaz, Marcos Chaves, Matheus Rocha Pitta, Nino Cais, Paulo Bruscky e Rosângela Rennó.
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Os R$ 690 mil serão utilizados para trazer as 263 obras, de 85 artistas, ao Rio, e para montá-las na área das Cavalariças do Parque Lage. O valor também será investido na produção de um ciclo de debates com temas como a censura às artes, que marcou o debate cultural em 2017 na esteira das críticas à Queermuseu – a exposição foi acusada de fazer “apologia à zoofilia e à pedofilia”.
O texto de apresentação da vaquinha no site faz menção ao veto do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), à exposição. Ele agiu pessoalmente para tirar a mostra da pauta do MAR, museu municipal, em outubro do ano passado. Um mês antes, o Santander a havia interrompido em Porto Alegre. A Queermuseu ficou só um mês em cartaz por lá. Crivella é tachado de “moralista” no site. “Essa campanha é sobre liberdade de escolha, expressão e opinião, direitos tão duramente conquistados e que nos foram cerceados. É sobre democracia”, diz a apresentação.
“A exposição Queermuseu foi criada como uma plataforma de diálogo e debate sobre a diferença na arte brasileira. E foi justamente a intolerância com a diferença que levou ao fechamento da exposição e à autoritária interrupção desse diálogo. A censura se torna ainda mais grave quando parte do prefeito de uma das cidades mais diversas do mundo. E ainda por cima baseada em mentiras e suposições falsas. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, afirmou que a população carioca não quer a exposição. Ninguém nos perguntou nada”, continua outro trecho.
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O diretor da EAV, Fabio Szwarcwald, lembra que a qualidade das obras já foi atestada. “São artistas importantes, que participaram de bienais de arte. A qualidade já foi referendada. A nossa grande motivação para trazer essa exposição é dar a oportunidade para toda a população do Rio de vê-la, já que isso foi cerceado. A mostra foi muito comentada, mas não foi vista”, apontou.
Segundo ele, o fórum de debates vai tocar em assuntos como a diversidade sexual, a violência contra a população LGBT e a importância das manifestações culturais afrobrasileiras. “A EAV é de vanguarda, isto está no seu DNA. Realizamos aqui a primeira aula de modelo vivo trans, no ano passado. As artes têm de ter liberdade plena. A sociedade precisa mostrar que não aceita censura.”
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