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SANTA CRUZ DO SUL

Parque da Cruz sofre com abandono após promessas não cumpridas; veja situação atual

Foto: Rodrigo Assmann

Quem sobe até o Bairro Monte Verde para visitar um dos cartões-postais mais emblemáticos de Santa Cruz do Sul tem se surpreendido. A própria placa indicativa do ponto turístico, na esquina das ruas Louro e Guatambu, dá sinais do que está por vir. Ao passar pelo portão de acesso ao Parque da Santa Cruz, já não é mais a vista da cidade que impressiona. O que tem chamado a atenção de moradores, visitantes e turistas é o estado de conservação do espaço.

Apesar da faixa de boas-vindas, fixada logo na entrada, o cenário faz com que muitos frequentadores não se sintam mais “em casa”, muito menos à vontade em meio ao descaso. Nos canteiros, as flores dão lugar ao inço. As demais plantas, de um ajardinamento de outrora, parecem ter se perdido no matagal. E não se trata de um espaço específico: a vegetação alta pode ser verificada por todos os cantos.

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Enquanto a falta de zelo impera sobre o verde, as demais estruturas, ao mesmo tempo, carecem de atenção. Na escadaria que leva ao restaurante panorâmico, pedras soltas pedem cuidado, enquanto o aspecto geral dá sinais de uma manutenção esquecida. Um cenário que faz com que muitos tenham questionado: “o que está acontecendo por aqui?”.

Situação lamentável

Foi justamente essa a pergunta feita pelo morador Pedro Severo, em publicação realizada nas redes sociais, no fim de março: “Até quando este parque vai ficar atirado?!”. Os comentários de amigos e conhecidos corroboram o que foi mostrado e o que tem sido motivo de indignação entre muitos.

O arquiteto e sua família residem no bairro desde 1991 e, por isso, acompanham o dia a dia do espaço desde a inauguração, em 1996. Durante 20 anos, contudo, prestaram serviço voluntário à comunidade, junto à Associação dos Moradores do Bairro Monte Verde (Ammov). “Nesse período, sempre acompanhamos de perto toda a evolução. Porém, após a construção do restaurante panorâmico, e sabendo de uma possível administração privada, entendemos que não nos cabia mais esse compromisso.”

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Severo: parque com tamanho potencial não pode ser largado

Apesar disso, os moradores sempre mantiveram o olhar atento sobre a área. “Infelizmente, é lamentável o estado de conservação do espaço. Poderia mencionar aqui o pior adjetivo para a situação. Até hoje não entendemos o real propósito acordado junto à concessionária. Um parque com tamanho potencial não pode ser largado e entregue para uma empresa que não sabe administrar”, afirma Pedro.

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Ainda segundo ele, outras questões são fundamentais e devem ser pensadas em paralelo à implantação da infraestrutura já existente para garantir o sucesso da área mal-aproveitada. “As secretarias de Educação, Cultura, Meio Ambiente e Esporte e o Gabinete podem desenvolver programas continuados que fomentem o uso, além de apoiarem eventos organizados pela sociedade e pelas demais entidades.”

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Pelo bem de todos

À frente da Associação dos Moradores como presidente, nos últimos dois anos, Thiago Gass também acompanhou de perto a evolução do Parque da Cruz. Morador do Bairro Monte Verde desde 1987, lembra quando a área começou a atrair visitantes. “Nós vimos as pessoas começarem a vir para cá para assistir ao pôr do sol, passear na pracinha e na pedreira. Com a construção da Cruz, em 1996, aumentou bastante o fluxo, tanto de gente do município quanto de fora.”

Durante todo o tempo, no entanto, o líder comunitário lembra que houve manutenção constante. “O corte de grama sempre foi feito e, quando não ocorria, entrávamos em contato com a Prefeitura e isso voltava a acontecer.” Desde o início de 2024, porém, essas movimentações não foram mais vistas, assim como a presença do público, que começou a diminuir gradativamente.

Ainda de acordo com Gass, muitas pessoas têm procurado a associação em busca de respostas. “A nós pouco importa quem esteja fazendo a gestão, mas que o espaço apresente condições de uso. Nossos moradores já não vão mais lá. Eu mesmo não vou mais.”

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RELEMBRE: Empresária confirma assinatura do contrato de concessão do Parque da Cruz

Eleito recentemente para assumir o posto, Joel Fischer compartilha da mesma opinião. “Como morador, e agora presidente, queremos alguma melhoria, ou que volte para o povo de novo. Hoje está muito pior do que quando a Prefeitura cuidava.” Há mais de 30 anos no bairro, ele espera por mudança. “Do que se tem hoje, teria que melhorar 100%. Da proposta que foi feita, nada foi concretizado.”

Barrados na Cruz

Pronto para receber mais de mil ciclistas de diferentes regiões do Estado neste domingo, o idealizador do 1º QuePedal Santa Cruz do Sul, Eduardo de Castro, visitou o Parque da Cruz na última terça-feira, na companhia de uma amiga ciclista. A ideia seria produzir um vídeo de divulgação do evento, do atrativo turístico e da cidade. A ação, contudo, foi censurada pela administração.

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Organizadores do 1º QuePedal foram impedidos de gravar na parte alta. Outros visitantes relataram a mesma situação

“Chegando lá, vi uma mulher sendo grossa com outras três meninas. Assim que elas foram embora, voltou-se para mim. Começou a me xingar porque eu tinha estacionado o carro próximo ao paralelepípedo e não mais longe, no oblíquo.” Em seguida, quando a dupla se preparava para as gravações, houve nova investida. “Ela ficou dizendo coisas do tipo ‘o que vocês vão gravar aqui?,’ ‘quem pediu autorização?’, ‘não estou sabendo de nada, agora quem manda aqui sou eu. Eu tenho que dar autorização’.”

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O relato, publicado nas redes sociais, repercutiu. “Recebi muitas mensagens de pessoas da cidade que já passaram pela mesma situação.” Para Castro, que promete realizar um dos maiores eventos de cicloturismo do Sul do Brasil, além do tratamento hostil, o aspecto da área também chamou a atenção.
“Fiquei assustado ao ver o mato alto. Senti que o parque está abandonado assim que chegamos no lugar. Nunca tinha visto ele assim.”

Iluminação e parte baixa

Se a parte de cima parece esquecida, espere até (tentar) percorrer a parte baixa. A começar pelos problemas de acesso, o ambiente também apresenta pontos de alagamento, vegetação alta e lixo jogado pelos caminhos. Chegar até o anfiteatro requer coragem dos visitantes.

A iluminação também gera tristeza, visto que o monumento continua apagado. Projetos de modernização, anunciados pela Prefeitura em 2023, não chegaram a ser colocados em prática. A imagem relembra o passado.

No calendário

Na próxima semana, o ponto turístico deve receber um dos eventos mais tradicionais do calendário do município. No dia 18, cerca de mil pessoas são esperadas na 15ª Caminhada da Paixão de Cristo ao Parque da Santa Cruz.

Segundo um dos integrantes da coordenação do evento, Carlos Eduardo Balparda, até lá será feita toda a limpeza do trajeto, que tem início em frente à Catedral São João Batista. “Eu e o vereador Edson Azeredo estivemos lá na quarta-feira para conferir a área. Os participantes podem ficar tranquilos, pois a Prefeitura também se prontificou a ajudar.” Antes disso, neste domingo ocorrerá a Missa de Ramos, às 10 horas, no salão de eventos.

O que diz a administradora

Questionada sobre a situação, a responsável pela administração do local, empresária Kátia Hermes, do Grupo Kátia Hermes Eventos & Serviços, disse que não seria possível atender a reportagem devido ao volume de compromissos relacionados à agenda.

No perfil do empreendimento no Instagram (@parquedacruz), porém, foi divulgado vídeo anunciando novas ações. “Em breve nós vamos ter novidades aqui no Parque da Cruz. Vamos abrir o nosso gastropub.”

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Na publicação, Kátia Hermes orienta que os frequentadores acompanhem a página para mais informações, e ainda convida para que apreciem o espaço no fim de semana para “aproveitar o pôr do sol mais lindo da região central do Rio Grande do Sul”.

Roçadas

Após o contato da Gazeta e a visita da coordenação da Caminhada da Paixão de Cristo, ao longo da última semana, a concessionária deu início a roçadas na parte alta do Parque da Cruz, na quarta-feira, 9.

Visita da Gazeta

A reportagem esteve no parque na terça-feira, 8, o que deu forma ao relato sobre a situação do espaço. Durante a visita, inclusive, os banheiros estavam trancados, o restaurante fechado e a guarita, em frente ao portão de acesso, também estava desocupada.

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Termos do contrato

Confira alguns tópicos do documento assinado pela Prefeitura de Santa Cruz e pelo grupo Kátia Hermes, no fim de fevereiro de 2024.

  • A Concessionária será responsável pela sua manutenção, limpeza e conservação, incluindo cortes de grama, podas de árvores e roçadas de vegetação. Quando necessário, benfeitorias deverão ser realizadas como: pintura do prédio principal, da Cruz, da guarita, dos banheiros externos, portões, meio-fio.
  • Arcar com todas as despesas relativas ao uso, reformas, modernização, administração, manutenção e conservação do Complexo do Parque da Santa Cruz, incluindo os gastos com o funcionamento e gerenciamento do prédio principal e exploração do complexo turístico/cultural como: eventos gastronômicos, culturais, turísticos, artísticos, sociais, religiosos e de entretenimento.
  • Deverá manter todo o complexo do Parque da Santa Cruz, inclusive as edificações, objeto do Edital, em perfeitas condições de higiene e limpeza, zelando para que o local de frequência do público mantenha caráter familiar, sob pena de autuação.
  • A Concessionária deverá zelar pelo espaço verde, conservando-o e mantendo-o em condições, sem agredir o seu estado natural e obedecendo às normas estabelecidas.

O que diz a Prefeitura

Em nota enviada na sexta-feira, 11, a Prefeitura lembrou que o contrato de concessão do Parque da Cruz foi assinado com a vencedora da licitação em 26 de fevereiro de 2024. O que diz o texto:

Neste ano, ao tomar conhecimento da situação em que o local se encontra, e considerando que a empresa não cumpriu com suas obrigações no contrato, a Secretaria Municipal de Turismo a notificou em duas ocasiões. Atualmente, estão sendo avaliadas, pela Procuradoria Geral do Município, as medidas a serem tomadas. Quanto à instalação da nova iluminação da Cruz, a empresa pediu adiamento devido à dificuldade de aquisição de materiais. O processo de instalação de lâmpadas de led e projetores deve se iniciar na próxima semana.

Saiba mais

Inaugurado em 1996, o Parque da Santa Cruz tem uma área verde de 12 hectares, com paredões de 40 metros de altura. Na parte alta encontra-se uma cruz de 20 metros de altura, que, por muitos anos, podia ser vista de diferentes pontos da cidade, devido à iluminação com neon. No mirante, também é possível ter uma visão panorâmica da cidade.

A concessão do espaço foi formalizada em fevereiro de 2024, em contrato assinado pela Prefeitura e o Grupo Kátia Hermes Eventos & Serviços, vencedor da licitação. Em entrevista à Gazeta, na época, a empresária anunciou iniciativas para o espaço, como café colonial durante o período de Oktoberfest, venda de comidas e bebidas em diferentes formatos, realização de shows, espetáculos ou open air e locação do prédio para formaturas, aniversários, casamentos e outros eventos.

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