Glenn Close já havia sentido no ano passado como o Oscar pode ser uma caixinha de surpresas. Este ano, foi Sam Mendes. Melhor diretor do presumível melhor filme, 1917, ele viu os prêmios migrarem para o sul-coreano Bong Joon-Ho, que fez história ao vencer como melhor filme e melhor filme internacional, e ainda levou o Oscar de roteiro original. 1917 permanece em cartaz no Cine Max Shopping Germânia. E o premiado Parasita estreou nesta quinta-feira, na Sala 1 do mesmo cinema, com sessão às 21h30.
Os prêmios contemplam uma obra que, desde a vitória com a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, tem sido tema de admiração e polêmica. Realizado com precisão absoluta, o filme também segue uma tendência expressa no brasileiro Bacurau, no francês Les Misérables e no norte-americano Coringa – a revolta dos excluídos diante das desigualdades do mundo.
Parasita conta a história de uma família de baixo (é pobre, habita um porão) que ocupa os espaços na casa de uma família rica. Obviamente, dirá o leitor, os parasitas são os pobres, mas na visão do diretor, conforme entrevista à Agência Estado que você pode conferir abaixo, são os ricos que dependem deles, totalmente.
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O processo dessa ocupação é narrado de forma tão sucinta como brilhante e a primeira parte do filme equivale a uma aula de cinema – direção, roteiro, interpretação, filmagem. Os problemas, se forem considerados como tal, estão no desfecho. Face aos conflitos armados por Joon-Ho – e há uma surpresa no porão da mansão –, a questão, para quem assiste ao filme, é como ele vai terminar.
O diretor, para expor sua tese, não deixa de recorrer a um final de disaster movie, valendo lembrar que já frequentou o gênero com Expresso do Amanhã. Mas nada diminui o impacto de Parasita e o significado dessa vitória. Depois dos Oscars para autores mexicanos, a Academia elege os sul-coreanos. Hollywood deve estar em pânico. Só resta Quentin Tarantino, como disse Brad Pitt ao agradecer seu Oscar de coadjuvante (por Era Uma Vez em… Hollywood).
Massacre
Quando recebeu a estatueta de melhor diretor, Bong Joon-Ho disse, visivelmente emocionado: “Quando era jovem, existia um ditado: ‘O mais pessoal é o mais criativo’. Quando eu estava na escola de cinema, estudava os filmes de Scorsese. Nunca achei que ganharia. Quando as pessoas não conheciam meus filmes em Hollywood, Tarantino sempre os colocava em suas listas. Todd Phillips e Sam Mendes também são grandes diretores. Se a Academia permitir, quero fazer um massacre da serra elétrica e dividir essa estatueta em cinco”.
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Bong Joon-Ho também dirigiu filmes como Okja (2017), sobre uma garota que parte em uma jornada para resgatar seu animal de estimação, e Expresso do Amanhã (2013), distopia sobre uma sociedade dividida em classes que vive dentro de um trem, além de O Hospedeiro (2006), Mother (2009) e Barking Dogs Never Bite (2000). Os norte-americanos ficaram muito empolgados, como nunca estiveram antes, com um filme de língua não inglesa. Agora, chegou a nossa vez de ver como esse “parasita” se move.
ENTREVISTA: Bong e a diferença de classes
Diretor sul-coreano Bong Joon-Ho fala ao Mix por intermédio da Agência Estado sobre seu novo longa, Parasita, vencedor da Palma de Ouro e do Oscar neste ano, que estreou nesta quinta em Santa Cruz do Sul.
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Mix – Seu filme marca seu retorno à Coreia após experiências internacionais. Nasceu do seu desejo de comentar a situação no país?
Bong Joon-Ho – Não tenho um projeto de carreira, conto as histórias dos personagens que me fascinam no momento. A ideia surgiu em 2013. Gostei, claro, de trabalhar com uma equipe toda coreana, em outra história que se passa na Coreia, mas não creio que seja um retorno, não nesse sentido. O retorno é a outra escala de produção, mais próxima de filmes anteriores. Gostei de trabalhar com uma produção menor, mais focado nos problemas da narrativa e dos personagens.
Mix –No começo, a gente pensa que os pobres são os parasitas, mas, na verdade, os ricos precisam deles e talvez sejam parasitas também. Faz sentido para você?
Bong – Sem dúvida. Na história, como a família pobre se infiltra na casa dos ricos, parece óbvio que eles sejam os parasitas. Mas a família rica vive em uma situação de dependência para sobreviver. Precisa de alguém que dirija, cozinhe e, do ponto de vista do trabalho, também é constituída por parasitas.
Mix – A ideia surgiu de alguma observação sua?
Bong – O argumento e o roteiro são originais, mas, quando jovem, ainda na faculdade, trabalhei como tutor na casa de uma família rica. Dava aulas particulares e, quando os pais não estavam, meu estudante me levava para conhecer os ambientes. Mostrou-me a sauna privativa, e aquilo me passou uma ideia de invasão de privacidade, como se eu fosse um voyeur, fantasiando sobre a vida daqueles estranhos. A ideia ficou comigo e, de alguma forma, germinou no que virou Parasita.
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Mix – As duas famílias têm a mesma composição e número de integrantes. Por quê?
Bong – Nos primeiros estágios de desenvolvimento do roteiro, o título era Decalcomania. Dividíamos o papel, criávamos alguma coisa de um lado e tentávamos algo similar ao outro, mas diferente. Originalmente, a ênfase estava na simetria, mas eu terminei por mudar a estrutura para que o público pudesse entender melhor a forma como a família pobre se infiltra na casa dos ricos.
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