Para onde foram os pedreiros?

Um dos autores mais comentados da literatura brasileira recente, o gaúcho José Falero usa uma metáfora interessante para apontar o abismo social no Brasil. Em uma das crônicas do livro Mas em que mundo tu vive?, publicado no ano passado, ele fala sobre animais que vivem nas profundezas dos oceanos e jamais conseguem subir à superfície, nem se aproximar dela.

Depois observa que, de modo análogo, há seres humanos que passam suas vidas em regiões remotas, no “fundão” das grandes cidades, e raramente ou nunca chegam às áreas centrais. Essas “profundezas”, nos termos de Falero, são conhecidas como “periferias”. E o contrário também é verdadeiro: muitos habitantes dos grandes centros não se aventuram nas zonas periféricas, pela mesma razão que exploradores submarinos não alcançam o fundo do mar – porque, diz o cronista, “não aguentariam a pressão”.

Entendemos melhor o significado de “pressão” quando sabemos que, conforme o IBGE, quase 35% dos trabalhadores no Brasil recebem um salário mínimo por mês. E eles se viram como podem. Pelos cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário ideal deveria ser de R$ 6.394,76. Em março passado, seria esse o pagamento mínimo para sustentar uma família de quatro pessoas no Brasil, levando em conta gastos com moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência.

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Mas temos o 1º de maio, esse feriado que se originou dos protestos de operários em Chicago, no século 19. Para lembrarmos anualmente dos trabalhadores, figuras por vezes “invisíveis”, mas essenciais. Que construíram o prédio onde moro, os veículos que circulam pelas ruas, criaram a mesa e o computador onde escrevo este texto. Não terão seus nomes registrados em placas de ruas e monumentos, dificilmente serão eternizados nos livros históricos.

De qualquer modo, sempre ficarão soando as palavras do escritor alemão Bertolt Brecht, no poema Perguntas de um trabalhador que lê: “No dia em que a Muralha da China ficou pronta, para onde foram os pedreiros?”. Ou: “Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas? Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram as pedras?”.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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