Apesar da crescente redução no uso do cheque pelos brasileiros em transações financeiras, ele não será extinto. Essa é a avaliação de especialistas. Para eles, o dinheiro de papel continuará tendo uma utilização residual, principalmente em operações nas quais é necessário manter um registro formal do pagamento.
A origem desse meio de negociação, muito popular no Brasil até o fim dos anos 90, é incerta. Segundo o Banco Central, há relatos de que os romanos teriam inventado o cheque, por volta de 352 antes de Cristo. Outras informações dão conta de que o cheque teria nascido na Holanda, por volta de 1.500, quando as pessoas começaram a depositar seu dinheiro com cashiers (caixas).
A única coisa que parece clara é que os talões de cheque estão perdendo espaço. Pesquisa divulgada este mês pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou que, em 20 anos, o número de cheques compensados no país despencou 79,84%, passando de 3,3 bilhões, em 1995, para 672 milhões em 2015. Paralelamente, o número de contas bancárias aumentou de 39 milhões, em 1995, para 108 milhões em 2014, uma alta de 176,9% em 19 anos. Ou seja, a derrocada do cheque ocorreu paralelamente a um período de forte inclusão financeira no país.
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Segundo o diretor de Operações da Febraban, Walter Farias, o fator decisivo para o abandono do cheque foi a popularização dos meios de pagamento eletrônicos. Ele cita como marco a implementação da Transferência Eletrônica Disponível (TED), em 2002. “Ali, começou a ter uma migração da utilização de cheques para a TED, que faz com que o dinheiro caia no mesmo dia. O cheque, pode demorar de 24 a 48 horas”, comenta. Ele lembra que a TED começou com um limite mínimo alto, de R$ 5 milhões, para que fosse permitida a transferência.
No entanto, ao longo do tempo, a modalidade foi se tornando mais acessível, até ser eliminada a exigência de limite mínimo para a TED, em 13 de janeiro deste ano. Walter Farias lembra que também houve crescimento maciço na utilização dos cartões. “É mais fácil usar o cartão, tanto de crédito quanto de débito, do que passar um cheque e correr o risco de falsificação”, observa.
O economista Gilberto Braga, professor de finanças da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Ibmec, concorda que o cheque traz riscos superiores aos das opções mais modernas. Ele lembra que a segurança dos cartões de crédito e débito tem melhorado. “À medida que o tempo passa, o cartão vai ficando mais seguro, são colocados mais mecanismos de proteção”, comenta, citando a introdução do chip. Braga ressalta outras melhorias que influem no conforto e na satisfação dos usuários. “Pode-se usar crédito e débito no mesmo cartão. Antes, tinha que levantar para digitar a senha, hoje [a máquina de ler cartões] é portátil”, diz. Para ele, por tudo isso, o dinheiro de plástico é uma tendência “irreversível”.
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Mesmo assim, tanto Gilberto Braga quanto Walter Farias acreditam que o cheque continuará existindo. “Na verdade, o cheque nunca vai morrer. Mas vai ser usado só para grandes transações, em que forem requeridas as formalizações do pagamento. Por exemplo, uma compra e venda de imóvel em que você quer constar na escritura [que foi feito o pagamento]. O cheque você escaneia, copia. Existe uma cultura jurídica dele como meio de pagamento. Uma transferência em dinheiro não deixa evidência muito clara”, comenta Braga.
Walter Farias ressalta que países avançados em transações eletrônicas continuam utilizando o cheque. “Se você pegar países mais desenvolvidos que o Brasil em termos dessas transações, eles usam muito ainda. Não acredito que venha a ser extinto”, comenta. Apesar da queda acentuada na utilização do dinheiro de papel em 20 anos, ele acredita que, de um ano para outro, os números tendem a ser mais equilibrados. Entre 2014 e 2015, segundo a Febraban, a queda no número de cheques compensados ficou em 11%.
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