Torcer. Essa será a palavra de ordem para o setor primário neste ano. Pelo menos foi assim que o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, prospectou a safra 2022/2023, em entrevista ao jornalista Leandro Porto no programa Radar, da Rádio Gazeta FM 107,9. Além de apontar as dificuldades que serão enfrentadas, criticou iniciativas do Ministério Público e de setores da Justiça que, acredita, atrapalham o desenvolvimento do agronegócio gaúcho.
O economista vê a luz no fim do túnel se apagando no que diz respeito aos custos da produção. Entende que a partir das consequências da pandemia, como a parada da indústria e a deficiência da área de logística, haverá reflexo em aumento dos preços dos insumos e até escassez em determinados momentos. “Temos um risco de escassez de determinados produtos, em alguns períodos, só que a lavoura não espera. Ela precisa naquele momento. Essa escassez é um combustível de novas elevações de custo. Traz um panorama preocupante para 2022”, afirmou.
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Outro inconveniente para o setor, apontou, é a questão climática, com uma série de anos com estiagem, o que se repete agora. Luz alfinetou iniciativas de ordem ambiental do MP, na Justiça, que seriam as responsáveis por atrapalhar ações preventivas, como a reserva de água e os projetos de irrigação. “O aumento dos investimentos totais dos produtores, em 2021, em máquinas e equipamentos foi de 73%. Foram R$ 8 bilhões. Pouquíssimo em equipamento de irrigação, porque não conseguimos reservar água, por conta da intransigência, má vontade, extremismo, radicalismo de alguns poucos membros do Ministério Público e da Justiça”, atacou.
Contudo, Luz resumiu o ano que terminou com agradecimento. Mesmo com as condições adversas, o agronegócio gaúcho conseguiu números positivos em produção e produtividade. Também reforçou o pedido de torcida, sem deixar de salgar na crítica. “Enquanto não fizerem uma ação na Justiça que nos proíba de torcer, vamos continuar torcendo. Já que não podemos reservar água por conta de extremismo, radicalismo e delírios ambientais, que pelo menos a gente possa torcer”, finalizou.
Confira a entrevista completa:
- Como foi 2021 para o agronegócio gaúcho, tendo ainda a experiência da pandemia de coronavírus?
Não tem como não olhar para um problema que aflige a humanidade como um todo e não participarmos da tristeza deste momento. Independentemente dos negócios, a dor humana, seja pela perda, pelo enfrentamento da doença, pelo afastamento entre as pessoas, faz com que vivamos um tempo ruim. Do ponto de vista dos negócios, não tivemos grandes interrupções de produção no pico da pandemia. Mas vamos viver uma ressaca desse problema, que já estamos vivendo, que diz respeito à logística. A pandemia fez com que não se conseguisse produzir, em muitas indústrias, mas não impediu de receber pedidos.
Quando a pandemia dá um refresco e as empresas voltam a trabalhar a pleno, tu tens que atender à demanda do momento mais a lista de pedidos que ficou para trás. Todo mundo quer trabalhar 24 por 7 em três turnos. Isso começa a dar problema de escassez de energia elétrica, como está acontecendo na China e na Europa. Começa a faltar contêiner, navio, espaço em porto, em escala global. Afeta enormemente o agronegócio. Estamos com problema de fornecimento de insumos, sobretudo para a safra 2023, temos um desafio muito grande, com menos produto disponível e preços absurdamente elevados.
A pandemia não fechou uma fazenda, por ser uma produção de primeira necessidade, mas não adianta eu produzir e a fábrica que produz embalagem estar fechada. Então, indiretamente, fomos atingidos e continuamos sendo bastante atingidos, mais do que estávamos em 2020, quando a pandemia foi deflagrada. Aqui no RS, em 2020, além da pandemia, tivemos uma estiagem muito forte, com perdas imensas para o agronegócio gaúcho. O próximo ano, para a agropecuária, iniciou em 1° de julho de 2021. E começou com o pé esquerdo, porque estamos vivendo de novo a estiagem. É um cenário complicado, que requer bastante cuidado. Em 2021, de maneira geral, o Rio Grande do Sul teve uma safra muito boa, vendida a preços bons. Não posso deixar de ser grato por 2021. - O quanto as questões de logística podem levar ao aumento do custo de produção?
O índice de inflação no custo de produção, que mede de forma generalizada, desde janeiro de 2010, nunca teve uma inflação acumulada, em 12 meses, como temos agora. Em novembro, os dados apontavam 45% de inflação no custo de produção. Imagina eu vendendo o produto e tendo que comprar insumo para a próxima safra 45% mais caro do que no ano anterior.
Tenho certeza de que podem estar dizendo que compraram adubo, que pagaram 200%, 400% a mais, mas a média fica em 45%. O pró-labore do produtor não aumentou em nada, mas teve insumo que aumentou 200%. Para a gestão do fluxo de caixa, é um terror. Temos um risco de escassez de determinados produtos, em alguns períodos, só que a lavoura não espera. Ela precisa naquele momento.
Essa escassez é um combustível de novas elevações de custo. Traz um panorama preocupante para 2022. Os produtores vão ter uma pressão de caixa imensa para fazer as compras dos insumos de 2023, vamos viver a escassez e, ainda por cima, teremos a estiagem. Ainda não dá para dizer a extensão, mas se sabe que cada dia sem chuva, hoje, terá perda imensa amanhã.
Imagine o produtor tendo custo maior e colhendo menos. Tomara que chova, que as perdas se estanquem, essa é a torcida, porque é algo que foge do nosso domínio. Torcemos que chova e a chuva venha em boa quantidade e espalhada.
Não posso deixar de falar por que não estamos irrigando. É importante que a sociedade saiba. Tenho certeza que devem estar pensando: por que esses caras não irrigam? E têm razão. O aumento dos investimentos totais dos produtores, em 2021, em máquinas e equipamentos foi de 73%. Foram R$ 8 bilhões. Pouquíssimo em equipamento de irrigação, porque não conseguimos reservar água, por conta da intransigência, má vontade, extremismo, radicalismo de alguns poucos membros do Ministério Público e da Justiça – não todos, não é o órgão, o colegiado.
São dois ou três que radicalizam, têm pensamentos extremos, que ingressam com ação na Justiça e, com a morosidade da Justiça, simplesmente, não conseguimos fazer reservação de água no Estado. Daí, todo ano temos esse drama que é a estiagem. É fácil não ter pressa em um problema desses quando se tem um salário garantido, e um salário alto. Agora, para o coitado do produtor, é uma situação bem complicada.
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