“Desgraça pouca é bobagem.” Talvez nunca o ditado fizesse tanto sentido quanto agora, com a pandemia do coronavírus no Brasil. Além das consequências já vividas desde março deste ano, quando começaram a pipocar os casos de pessoas contaminadas e até mortas pelo coronavírus, governadores e prefeitos impuseram o isolamento social, com restrições de atividades, como forma de evitar que a doença se propagasse em escala geométrica, levando ao colapso o sistema de saúde.
Com relação à doença do coronavírus propriamente dita, além das internações hospitalares e até mortes, especialistas afirmam que o potencial de estrago indireto causado por boatos e teorias da conspiração é muito grande, bem maior do que é registrado. A BBC News investigou dezenas de informações erradas sobre a Covid-19 propagadas pelo mundo, inclusive no Brasil, e que resultaram em episódios de ataques, incêndios, mutilação e até morte de pessoas.
Existem casos de pacientes que se envenenaram por ingestão excessiva de cloroquina, convencidas da eficácia do remédio, defendida até por presidentes de países, com base sabe-se lá em quê. No Irã, dezenas de pessoas morreram por tomarem álcool depois que viralizaram boatos sobre supostos efeitos terapêuticos da bebida sobre o coronavírus. Um americano ingeriu sabão desinfetante líquido, após ouvir a fala do presidente que o produto de limpeza poderia eliminar o vírus em um minuto. No Reino Unido, mais de 70 torres de transmissão de telefonia celular foram vandalizadas por causa de falsos rumores de que a tecnologia de comunicação 5G seria responsável pela doença.
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No Brasil, diversas receitas “caseiras” de combate ou cura do coronavírus circularam pela internet. Uma das últimas é a receita do alho fervido; outra, a mistura de maçã, inhame cru e água de coco; ou, ainda, entre tantas, a exótica afirmação de que pessoas que usam maconha estão imunes à covid-19.
Na área econômica, os efeitos estão sendo devastadores. Excetuados alguns segmentos, como o de supermercados, favorecidos com um acréscimo na demanda, milhares de empresas, principalmente pequenas e médias, fecharam total ou parcialmente suas portas, reduzindo salários ou demitindo colaboradores.
Para minimizar o problema financeiro de pessoas que ficaram sem emprego ou sem sua atividade de sobrevivência, como os catadores de materiais recicláveis, o governo federal criou o auxílio emergencial de R$ 600, a ser pago em três parcelas mensais, além de outras liberações, como o saque de um valor do FGTS.
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A partir desses auxílios emergenciais, criminosos estão se aproveitando para aplicar golpes e roubar dinheiro que, certamente, vai fazer falta para muitas pessoas. A pessoa recebe um e-mail, informando que o aplicativo da Caixa mudou e necessita de um recadastramento do número de celular. Para convencer o usuário a realizar a suposta operação, o e-mail informa que tudo pode ser feito por SMS, sem sair de casa, alertando, todavia, que se o procedimento não for providenciado, o acesso ao internet banking e ao aplicativo da Caixa serão perdidos.
A recomendação é de nunca clicar em links dessa espécie, ainda mais que os bancos enviam e-mails para atualização cadastral. Na dúvida, entrar em contato com a instituição para verificar se há alguma pendência cadastral.
Golpes virtuais – roubo de dados pessoais, clonagem de cartões, entre outros – que já eram frequentes, com a pandemia dispararam. Com mais pessoas em casa por causa do isolamento social e aumento de operações no comércio eletrônico, as tentativas de fraudes virtuais estão em alta. O mais comum é aquele em que a pessoa recebe, de um amigo ou de algum contato, uma mensagem de WhatsApp pedindo ajuda financeira. A mensagem diz que está com problemas com o aplicativo do banco, não conseguindo efetuar depósito em sua conta, solicitando ao amigo a transferência de um valor com a promessa de devolver o dinheiro no dia seguinte.
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Outro golpe comum é alguém ligar perguntando se a pessoa fez uma compra num determinado valor. Diante da negativa do usuário, o meliante diz que é do banco e que, provavelmente, houve clonagem do cartão, prontificando-se a providenciar o bloqueio da operação. Para isso, passa dados do cliente, pedindo que os confirme, e solicita outros, nos quais inclui a senha do cartão que o cliente informa, sem dar-se conta. Para finalizar a “operação”, o meliante diz que um motoboy vai recolher o cartão, solicitando ao cliente inutiliza-lo, sem danificar o chip. De acordo com o diretor da comissão de Prevenção a Fraudes da Febraban, Adriano Volpini, “são golpes que parecem simples, mas muita gente cai.”
Nos últimos cinco anos, o mundo do cibercrime evolui e muda, constantemente, migrando para novas plataformas (canais de comunicação, produtos e serviços), já que os cibercriminosos procuram aproveitar novas formas de trabalhar e vulnerabilidades sistêmicas. Normalmente, quem rouba ou consegue os dados pessoais das pessoas não é quem aplica o golpe, o que dificulta a ação da polícia, mas não a impede. Cabe a cada um que utiliza os recursos tecnológicos inteirar-se de seus riscos, principalmente com relação à senha. Afinal, a tecnologia que facilita nossa vida é a mesma que serve aos meliantes.
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