Desde que Colombo pisou na atual Portobelo, em 1502, o destino do Panamá sempre esteve ligado aos interesses comercias de nações estrangeiras, na encruzilhada dos dois maiores oceanos do planeta e das grandes porções continentais das Américas. A primeira colônia foi estabelecida por Vasco Nuñez de Balboa, conquistador espanhol que “descobriu” a saída para o Oceano Pacífico a partir do Novo Mundo. O istmo se tornou o porto de saída das riquezas incas a caminho da Península ibérica.
Antes de pensar no canal artificial que liga o Atlântico ao Pacífico, convém conhecer o verdadeiro Panamá. Ao percorrer o país, passei por florestas fechadas nas terras altas, praias caribenhas cercadas por recifes de coral e uma capital cosmopolita que combina modernos arranha-céus com um interessante centro histórico (Casco Viejo). Os 2,5 milhões de habitantes do país refletem um panorama cultural que varia de povos originários (tribos Guaimís, Kunas e Chocós) aos recentes imigrantes, alguns em busca do paraíso fiscal, outros atraídos pela vibrante biodiversidade.
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Na carona da Grã-Colômbia, a independência da Espanha veio em 1821. Ao contrário dos demais países do conglomerado de Simón Bolívar, o Panamá foi controlado pela Colômbia durante quase um século. Em 1855, a construção de uma ferrovia transcontinental, de propriedade norte-americana, abriu o apetite intervencionista dos EUA e, com ele, a ideia de construir um canal que evitasse os mais de 15 mil km de contorno pelo aterrorizante Estreito de Magalhães.
A primeira tentativa de construir a ligação transoceânica foi da França, em 1848. Vencidos pela falta de planejamento e pela malária, os franceses fracassaram miseravelmente. Ressentidos pela resistência da Colômbia em concordar com a empreitada americana, os panamenhos apoiaram uma junta militar (afinal de contas, trata-se da América Latina) que declarou a independência, em 1903.
Duas semanas depois, a zona do canal foi concedida aos Estados Unidos, que levou dez anos para construir a passagem marítima. Além da importância econômica para o Panamá e para o comércio mundial, o canal de 82 km é considerado uma das maiores obras de engenharia de todos os tempos, pela qual passam cerca de 18 mil navios anualmente. A concessão da hidrovia incluía ainda o direito de intervenção governamental, exercido pelos Estados Unidos por 13 vezes ao longo de décadas. O descontentamento com as invasões americanas cresceu e culminou na revolta liderada pelo general Omar Torrijos Herrera. O ditador promoveu a construção de moradias populares, o aumento de salários e a melhoria da infraestrutura, além de criar as regras do segredo bancário, fazendo do Panamá um éden para a lavagem de dinheiro.
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Pouco antes de se tornar vítima de um misterioso acidente aéreo em 1981, Torrijos assinou um acordo com o presidente Jimmy Carter que acertou a passagem do controle do canal para o Panamá em 31 de dezembro de 1999. A morte de Torrijos abriu uma nova crise política que levou à presidência um ex-espião dos americanos, o general Manuel Noriega. Mais uma vez na história, interesses de curto prazo levavam Washington a criar e nutrir seus futuros inimigos.
Em eleições sempre fraudadas, Noriega e seus aliados permaneciam no poder. Não satisfeito com os recursos do canal, o general passou a administrar o comércio de cocaína que passava pelo país, gerando dissabores com Ronald Reagan em sua Guerra às Drogas. Em 1988, Noriega foi indiciado nos EUA por tráfico de entorpecentes e, em 1991, George Bush (pai) ordenou a invasão do Panamá com 24 mil tropas (Operação Justa Causa) para capturá-lo.
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O militar foi despachado para a Flórida e condenado a quatro décadas de prisão. Após 17 anos de bom comportamento, foi extraditado para a França, que então o enviou ao país natal. Previamente julgado in absentia a 60 anos de reclusão, Noriega foi preso assim que desembarcou no Panamá e faleceu, em 2017, devido a um tumor cerebral.
Passada a supressão de lideranças progressistas que as ditaduras militares sempre causam, a redemocratização trouxe novo fôlego ao país. O canal foi modernizado e expandido, e o Panamá avança na economia e na maturidade democrática. Em maio de 1999, Mireya Moscoso se tornou a primeira mulher eleita presidente. Foi uma doce vitória, já que o adversário era Martin Torrijos, filho do general que havia deposto o marido de Mireya, Arnulfo Arias, no golpe militar de 1968.
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