Até ingressar no serviço público, Senoir não via luz em sua vida. Tomado pelo vício do alcoolismo, mesmo estando sob o amparo de Nair e Aures, teve que buscar ajuda fora de casa para superar aquele período de trevas. “Minha vida era só sofrimento naquela época”, conta. Morador do distrito de Alto Paredão, distante 50 quilômetros de Santa Cruz do Sul, foi após frequentar o grupo de Alcoólicos Anônimos da localidade que um sopro de esperança lhe indicou caminhos novos.
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Hoje, aos 51 anos, ao fazer uma retrospectiva, Senoir Paulo da Rosa e Souza acredita ter nascido duas vezes. A primeira, em 29 de fevereiro de 1972, sob as mãos de uma parteira habilidosa. A segunda, em 12 de julho de 2001, quando, ao superar o vício, obteve três conquistas: a nomeação como operador de máquinas da Prefeitura; o enlace com Silvani, com quem vive até hoje, e o nascimento do filho Tiago, agora com 22 anos. “Minha vida começou neste ano, porque aconteceram essas três coisas que me fizeram voltar a respirar”, revela.
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Com o sonho de trabalhar com máquinas concretizado, foi de cima de uma delas que ele passou a vislumbrar uma nova era em sua vida. Em sua linha do tempo, aliás, há realizações que o orgulham por fazer a diferença na vida de muitas pessoas no interior do município. Abriu estradas e fez terraplenagens para construção de casas, aviários e fornos de tabaco. “Não tem uma propriedade que não conheço, em especial no distrito de Monte Alverne; trabalhei por dez anos naquela região”, recorda.
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A profissão mudou tanto os rumos de Senoir que ele tornou-se, além de um bom filho, pai e esposo, um líder admirado por seus colegas no trabalho. Há pouco mais de dez anos, passou a liderar os cerca de 60 operadores de máquinas da Prefeitura, que reivindicavam reconhecimento em sua profissão. De tanto mobilizar pela elevação de padrão, que representa aumento salarial, veio a recompensa neste ano.
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Emociona-se ao relembrar a trajetória de luta, como ele mesmo reforça. “Ficamos muito agradecidos pelo reconhecimento da administração municipal, porque é do trabalho que a gente leva o pão de cada dia. Ser valorizado financeiramente é muito importante, traz mais qualidade de vida para todos.”
O senhor de fala tranquila e quase contemplativa atribui sua postura à espiritualidade sempre presente em sua vida. “Há algo maior acima de nós. Acredito muito nisso, pois a parte espiritual sempre me deu respostas muito boas em minha vida. E continuo acreditando nisso”, conta Senoir. A saúde emocional, possivelmente, reflete-se também na saúde física. A célebre frase Mens sana in corpore sano. Senoir nunca precisou, em mais de cinco décadas, ficar hospitalizado. “Nasci em casa e só precisei ficar em hospital para cuidar dos outros. Graças a Deus, nunca precisei ficar internado.”
Se Senoir já fez muitas estradas em sua trajetória de trabalho, Thiusi Goularte, de 38 anos, perdeu as contas do número de crianças que já atendeu em 14 anos como atendente de escola de Educação Infantil. Após trabalhar por um tempo em outro emprego, em 2009 foi chamada para assumir a função na Emei Raio de Sol, do Bairro Belvedere, que é onde passa as manhãs cercada de crianças. “Vivia infeliz no meu trabalho anterior, agora não troco esta profissão por nada”, conta.
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Mas optar por mudanças não foi simples. A espera por quatro anos até ser chamada para atuar na área a angustiava, e ao mesmo tempo lhe trouxe recompensas. “Eu não via a hora de começar a trabalhar, só que neste período fiquei mãe, o que para mim foi um presente. Pude acompanhar os primeiros anos de minha filha, e essa relação entre mãe e filha não tem preço.”
A função dela na instituição vai muito além do recebimento da criança do colo dos pais e das mães logo cedo. A rotina inclui cuidado com a higiene, contação de histórias e, inclusive, o cuidado com a saúde dos pequenos. “A gente fica com as crianças por mais tempo que os pais. Essa interação precisa ser com responsabilidade, porque influencia diretamente na formação do caráter e da personalidade delas”, diz.
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Thiusi está ainda mais satisfeita no trabalho. Sua categoria de atendente de Emei também teve aumento de padrão, assim como a de Senoir, e agora ela até planeja reduzir a carga horária no outro trabalho.
“Nossa categoria merecia isso, agora sim fomos vistas, porque estávamos nos sentindo invisíveis há vários anos. Esse aumento de padrão também é um aumento em qualidade de vida, e assim vou poder dar mais atenção à minha filha.”
Em sua vivência de mais de uma década, entre as situações que Thiusi não esquece estão aquelas em que pôde auxiliar as famílias em pequenas coisas que, muitas vezes, passam despercebidas aos pais. Em uma delas, ela recorda, ao perceber que uma criança poderia apresentar problemas de visão, sugeriu que a família procurasse um especialista da área. “Em um episódio da hora do conto, a gente viu que uma criança piscava muito enquanto prestava atenção, e alertamos a mãe. Ela levou a filha no médico e veio um dia aqui só para nos agradecer”, conta.
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A atendente de Emei Carla Lúcia Watte afirma que o aumento de padrão é uma mudança significativa no orçamento familiar. “Este aumento no salário vai dar um bom impacto, tanto na valorização pessoal como na financeira. Embora a Prefeitura sempre nos proporcione cursos de qualificação, com o aumento de padrão podemos buscar outros cursos pessoais que queremos.”
Falando em realização no trabalho, tem um número do qual Dilson Miguel Linhares da Silva, de 55 anos, muito se orgulha em sua profissão: 150. Na função de pedreiro, essa é a quantidade de casas que ele imagina ter ajudado a construir em 22 anos atuando na Prefeitura. “Construí muitas casas em Santa Cruz, especialmente entre os anos de 2001 e 2009, quando trabalhei no setor de habitação”, recorda. E não foi somente isso. Em seu ofício, já perdeu as contas de quantas praças, brinquedos, sanitários e outras obras já ergueu em espaços públicos.
Morador da vizinha Rio Pardo, é de lá que ele sai todas as manhãs para vir a Santa Cruz, há mais de duas décadas. “Eu saio de casa de noite e volto de noite, porque quando acordo de manhã para pegar o ônibus, ainda é escuro”, comenta.
A categoria de pedreiro é mais uma das contempladas com o aumento de padrão neste ano. Além de Dilson, outros 33 colegas receberam o benefício. “A gente fica feliz com esse reconhecimento. Faz a diferença na vida da gente e na de nossa família também”, reconhece.
Neste ano, 969 servidores da Prefeitura de Santa Cruz do Sul tiveram aumento de padrão em várias funções. Além de pedreiro, atendente de Emei e operador de máquina, foram contemplados motoristas, mecânicos e instrutores de oficinas de cultura, entre outros. Em média, a elevação de padrão representou cerca de 20% de aumento no salário.
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