A espera que os pacientes do SUS enfrentam para receber atendimento de fisioterapia em Santa Cruz do Sul pode levar até quatro meses. Pelo menos, é esse o tempo máximo que a Central de Regulação e Agendamento (antiga casa) estima para a execução de atendimentos eletivos. Ao todo, 16 profissionais prestam até 4 mil atendimentos por mês. Nenhum deles, entretanto, atua pelo SUS. A defasagem da quantia paga pelo sistema – R$ 4,67 por consulta – afasta os profissionais e obriga a Prefeitura a viabilizar o tratamento por meio do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale) e a custear a diferença, já que por esse sistema são pagos R$ 9,23 ao profissional.
Conforme o coordenador da Central de Regulação e Agendamento, David Nóbrega, a Secretaria da Saúde tem feito um intenso trabalho a fim de acelerar a execução dos atendimentos. “Estávamos registrando muitos casos de pessoas que já eram atendidas há cinco anos, mesmo sem avaliação médica. Agora não há mais pacientes perdidos na rede, que tiram o lugar de quem realmente precisa desse atendimento.” Segundo ele, na nova diretriz, o médico pode prescrever, no máximo, até dez sessões por paciente.
Após a realização do tratamento, o fisioterapeuta é obrigado a encaminhar um laudo para reavaliação médica. “Neste momento, o médico avalia se é necessário encaminhar mais sessões ou se o estado do paciente já é considerado satisfatório.” Nóbrega ressalta, entretanto, que em casos de alta prioridade, o atendimento precisa ocorrer em até uma semana. Outra medida que será colocada em prática a partir de 1° de junho é a cota especifica de atendimentos por unidade de saúde. “Esse cálculo será feito por média histórica de lançamentos e por critério populacional em cada bairro.” O tratamento é feito diretamente no consultório de cada fisioterapeuta.
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VALORES
- O SUS paga hoje R$ 4,67 por consulta, e o Cisvale, R$ 9,23.
- Quem paga a diferença de custeio é a Prefeitura.
- Já o atendimento particular varia entre R$ 45,00 e R$ 100,00 a sessão (conforme levantamento realizado pela Gazeta do Sul em três clínicas de fisioterapia de Santa Cruz).
Os riscos da demora
Conforme as fisioterapeutas Carla Classen e Carla Sartori, da Clínica Evoluir, a fisioterapia tem atuação cada vez mais abrangente, sobretudo nas áreas ortopédica, respiratória e neurológica. É de extrema importância que os pacientes sejam atendidos no tempo certo. Segundo elas, em um pós-operatório de quadril, por exemplo, se a pessoa não receber atendimento fisioterapêutico em tempo hábil, poderá apresentar encurtamentos e fraqueza muscular, muitas vezes, irreversíveis. Também na área neurológica, como em casos de derrames cerebrais (AVCs), uma abordagem imediata pode minimizar sequelas.
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Em meio à espera, a angústia
Foi em julho do ano passado que o porteiro Ernani Aloísio Ludtke, 41, caiu ao resvalar em uma pedra. Como consequência, rompeu o músculo do joelho e teve ligamento cruzado. Após ser atendido por um traumatologista, ele encaminhou, por orientação do especialista, a demanda de dez sessões de fisioterapia junto à Central de Regulação ainda em janeiro. Até agora, entretanto, não recebeu o atendimento. “O médico disse que a fisio serviria para fortalecer a musculatura antes de fazer a cirurgia. Preciso dessas sessões para ser operado. É uma angústia”, lamenta.
A espera também faz parte da rotina da secretária Maria José Dorneles, 56. Com tendinite no polegar da mão direita, ela solicitou sessões junto à Central há três meses. “À época, a médica disse que os outros dedos já estavam começando a ser afetados e a fisioterapia seria importante para não agravar o caso. Tenho medo que piore.” Por enquanto, Maria precisa lidar com dores diárias e dificuldades para fazer trabalhos manuais.
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Categoria cobra mais valorização
O valor praticado pelo SUS hoje está muito aquém do referencial de honorários sugerido pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito). Segundo o presidente da Associação dos Fisioterapeutas do Vale do Rio Pardo (Afivarp), Régis Severo, muitos profissionais credenciados ao sistema ou mesmo ao Cisvale precisam ampliar o volume de atendimentos diários como forma de compensar o baixo valor. “Neste cenário, os profissionais não conseguem utilizar todos os recursos que a fisioterapia é capaz de oferecer. Muitas vezes isso se transforma em frustração tanto para o usuário como para o profissional, gerando descrença na profissão”, lamenta.
Para Severo, é necessário que haja um movimento de valorização do fisioterapeuta. “É preciso haver uma consciência do sistema público de saúde, dos convênios e até dos usuários sobre a importância da abordagem fisioterapêutica. Trata-se de um profissional que está em constante aprimoramento e apresenta condições de trabalhar com atenção primária (prevenção), proporcionando, inclusive, economia ao sistema.”
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