Um paciente teve remissão completa de um linfoma de Hodgkin – tipo de câncer que se origina no sistema linfático – em apenas um mês. A evolução foi celebrada por pesquisadores, pois ele é um dos 14 pacientes que participam de estudo com a terapia CAR-T Cell desenvolvido pelas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, em parceria com o Hemocentro da cidade do interior paulista e pelo Instituto Butantan.
Os dados e o detalhamento do caso ainda não foram publicados pelos cientistas. Essa nova terapia usa células de defesa do próprio corpo, modificadas em laboratório, para atacar linfomas e leucemia. Os testes com este novo modelo continuam.
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O escritor e publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, foi diagnosticado com o primeiro linfoma de Hodgkin em 2018. Ele já havia tentado de tudo para acabar com a doença: passou por quimioterapia e transplante autólogo – quando as células-tronco hematopoiéticas do próprio paciente são removidas antes da administração da quimio de alta dose e infundidas novamente após o tratamento. Mas nada disso adiantou. O paciente estava no terceiro linfoma.
O quadro de Peregrino era grave e ele sentia muitas dores no corpo quando começou a ser acompanhado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP pelo hematologista Vanderson Rocha, professor de terapia celular da universidade e coordenador nacional de terapia celular da Rede D’Or. “Não tinha mais opções. A única opção seria o CAR-T Cell”, diz o médico.
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Um dos tipos mais promissores de tratamento contra o câncer, a terapia com células CAR-T consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, modificação genética dessas células e reinserção delas no corpo do doente para atuarem no reconhecimento e no combate do tumor.
No total, nove pacientes tiveram remissão completa. Comparando a imagem de exames pré e pós tratamento, é possível ver a remissão dos linfomas no corpo do paciente.
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O primeiro produto de CAR-T Cell lançado no Brasil ficou disponível em novembro de 2022, assim como dois estudos clínicos pioneiros em instituições brasileiras, entre eles o da USP. O tratamento é indicado para pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B que não responderam a duas ou mais linhas de tratamento ou que voltaram a manifestar a doença após as terapias padrão.
Também pode ser usado em crianças e jovens até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B que não responderam ao tratamento padrão, inclusive ao transplante de medula óssea. Estudos sobre a utilização de terapia semelhante em outros tipos de tumores vêm sendo desenvolvidas fora do País. “Existe um grande potencial, mas para isso precisamos de pesquisa. E, para pesquisa, precisamos de dinheiro, mas nos últimos anos tivemos pouco investimento nesse setor no Brasil”, afirma Rocha.
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Do tratamento à cura
O processo de tratamento de Peregrino com o CAR-T Cell começou em dezembro de 2022, quando ele foi internado no Hospital das Clínicas para ter as células de defesa colhidas. “Ele precisou ficar um mês sem fazer quimioterapia para conseguirmos colher as células nas condições recomendadas”, explicou o médico.
A equipe entrou com pedido de aprovação e liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para participação do paciente no estudo e, assim que aceito, foram colhidas as células de defesa do organismo de Peregrino e enviadas ao Hemocentro de Ribeirão Preto, onde foram colocados em cultura. “Quando começamos o tratamento pré-reinserção (das células), em que utilizamos dois tipos de quimioterapias para garantir que as células estarão funcionando bem, ele pegou Covid”, relata Rocha, explicando o atraso no tratamento, que em geral leva poucos meses.
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“Ele tratou a Covid e, então, fizemos a infusão das células, em Ribeirão Preto. Depois, ele teve quadro de infecção, que é comum nesses casos. Tratamos a infecção também até que ele teve alta nesse domingo, 28”, completa o médico.
Segundo Rocha, em geral, o tratamento funciona da seguinte forma:
- O paciente fica cerca de um mês sem quimioterapia e tem o quadro monitorado pelos médicos enquanto isso para garantir que o tumor não vai crescer de forma acelerada;
- É feita a colheita das células de imunidade do paciente;
- As células colhidas são levadas para o laboratório de modificação genética, onde ficam em cultura, na maioria dos casos, por aproximadamente duas a três semanas;
- Paciente faz quimioterapias para ter quadro estabilizado até a reinserção;
- Cerca de cinco dias antes da reinserção das células, o paciente inicia um pré-tratamento, que leva três dias, com dois tipos de quimioterapia para garantir o bom funcionamento celular;
- Dois dias depois do fim do pré tratamento, é feita a reinserção das células.
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“Foram quase 90 dias aqui e mais 17 internado em Niterói (no Rio), onde moro. Ainda ficarei mais 30 dias em São Paulo, sendo monitorado de fora”, disse Peregrino, em uma postagem no Instagram, nessa segunda-feira, 29. “A sensação, ao fim de tudo, é de uma gratidão infinita a Deus, no tamanho e no tempo. A todos que fizeram e fazem parte dessa jornada de cura. Médicos, enfermeiros/as, técnicos de enfermagem, pessoal da manutenção, etc, pelo comprometimento e humanidade que me fizeram suportar melhor cada momento.”
Estudo do SUS para tratamento de câncer
O tratamento de terapia celular CAR-T Cell vem sendo estudado para utilização no Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento já é adotado nos Estados Unidos e em outros países para tratar linfomas e leucemias avançadas, como último recurso. Nessa forma de tratamento, as células T do paciente (um tipo de célula do sistema imunológico) são alteradas em laboratório para reconhecer e atacar as células cancerígenas ou tumorais. O termo CAR refere-se a um receptor de antígeno quimérico (chimeric antigen receptor, em inglês).
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Nos Estados Unidos, o FDA (agência reguladora de saúde do país) fez a liberação para uso da indústria farmacêutica em 2017. Já no Brasil, a utilização começou em janeiro deste ano. Para quem pode pagar o tratamento, o custo é de cerca de R$ 2 milhões. O desafio brasileiro é tornar a terapia acessível em larga escala por meio da saúde pública, mas ainda há um caminho a percorrer para que esteja disponível gratuitamente.
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