Está causando perplexidade, em alguns setores da sociedade, o agir do presidente da República.
Na maioria das nações, principalmente as que aprendem com o passado, os governantes optam por comportamento discreto. A humanidade foi coletando, pelo andar dos séculos, normas, algumas consuetudinárias, outras legais, de comportamento, tanto das autoridades como dos cidadãos comuns.
É de bom alvitre, portanto, para todos nós, cuidar com o que se diz. Já antes de Cristo se dizia que “se ficasses calado, passarias por filósofo” (Si tacuisses, philosophus mansisses). E não é por nada que os germânicos advertiam que falar é prata, mas silenciar é ouro (reden ist Silber, schweigen ist Gold). Não aconteceu já contigo, que me lês, que a todo passo alguém, mesmo decênios depois, traz à tona uma frase infeliz que proferiste? Daí o outro provérbio: “és o dono das palavras não ditas, mas escravo eterno das ditas.”
O nosso presidente criou constrangimento, pela falta de clareza, quando disse que só há democracia com aquiescência das Forças Armadas. No que ajudou essa afirmação? Teria sido um afago aos militares? Era necessário expressar esse pensamento?
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A publicação, pelas redes sociais, de uma irresignação sua por uma postura de gosto condenável durante o Carnaval redundou no quê? Resultou no fato de que aquele proceder, de pouquíssima repercussão, percorreu o País, teve manchetes até no exterior. Muitos mandatários de países adiantados devem ter se perguntado: mas será que no Brasil não há outras autoridades, em nível inferior ao presidente, para tomar conta desse incidente? Teria sido de bom gosto o próprio presidente ter reproduzido o ato que achou condenável?
Daí chegamos a outra assertiva: o pretor não cuida de coisas pequenas (de minimis non curat praetor). Assim como não cabe ao juiz algemar o assaltante, não faz nenhum sentido o presidente se arvorar em guardião dos bons costumes.
Sinceramente penso que o presidente deveria trazer, para perto de si, pessoas que bem o aconselhassem. Cito como exemplo meu colega de bancos acadêmicos do Direito da Ufrgs, Nelson Jobim, deputado federal, ministro do STF e seu presidente, ministro da Defesa, advogado de escol. É desse padrão de conselheiros, não desdenhando os demais que o assessoram, que necessita Bolsonaro. Homens e mulheres experimentados, de uma vida inteira sem máculas, pessoas razoáveis e prudentes que possam ajudar a amenizar essa turbulência que está desnecessariamente ocorrendo. A saúde de que entrar em áreas em que há controvérsias técnicas? Ovelha não é para mato, senhor presidente.
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