As protagonistas deste texto são mulheres guerreiras, cada qual com suas características e trajetórias vividas, mas com uma experiência em comum: a luta contra o câncer de mama. Mulheres, mães, profissionais, que se viram, em pouco tempo, diante de uma grande batalha. Com percursos diferentes, do diagnóstico ao tratamento, tiveram como esteio duas fortalezas principais: a fé e a família. Jaqueline e Maritê são, sobretudo, apaixonadas pela vida e mesmo em meio às dores, tiveram motivos para não desistir.
Foi há três anos, em 2018, que a empresária sobradinhense, Jaqueline Etges Hermes, sentiu o impacto do diagnóstico positivo, aos 52 anos de idade. “Ouvir a palavra câncer foi muito difícil”. Esposa e mãe de duas jovens, foi como se o chão se abrisse com a notícia. Logo após perceber um empedramento em uma das mamas, decidiu procurar auxílio médico e, a partir dali, uma nova jornada teve início. “Havia feito exames em dezembro de 2017 e estava tudo ok. Em abril de 2018, minha mama simplesmente empedrou. Em maio, consegui realizar a consulta com oncologista. No dia seguinte fui para Cachoeira do Sul, onde foi realizada a biópsia. Quando recebi o resultado foi um choque muito grande. A palavra câncer nos assusta muito ainda. Passei mal neste dia e precisei ir para o hospital”, contou Jaque sobre o abalo do diagnóstico.
Foi através da fé e da rede de apoio, familiares, amigos e profissionais da saúde, e no trabalho, que ela encontrou forças para ir levando os dias. “Eu chorava e pedia para minhas amigas que fizessem orações para pedir que me deixassem com a minha família, que é o que mais amo na vida. Meu marido Jair, minhas filhas Thiene e Louise foram minha base, juntamente com meus genros. Claro, houve momentos difíceis, em que chorávamos todos juntos, pois parecia que não ia conseguir. Mas ao mesmo tempo em que entrava em desespero, eu pensava: ‘Deus não vai me tirar deles’. E graças à Ele passou”, relatou emocionada. Dos momentos difíceis, destaca ainda quando foi necessário contar ao pai, com mais de 80 anos, sobre a doença. “Para ele foi bem difícil me ver doente”, recordou.
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O tratamento de Jaqueline teve início com sessões de quimioterapia. Foram oito no total, com intervalos de 21 dias cada. “Em todas elas fiquei muito mal. Nas quatro primeiras ficava fraca desde o primeiro dia. Nas últimas ficava fraca depois de uma semana”. Em um dos momentos mais complicados, a imunidade de Jaqueline ficou tão baixa, que chegou a desmaiar e necessitou ser levada para o hospital. Foi ainda no início do tratamento que o cabelo começou a cair. Jaqueline então raspou a cabeça e aderiu ao lenço nos dias mais frios. “Assim que terminou o inverno, assumi minha careca. Eu sabia o que estava passando e queria ser inspiração para outras pessoas. Para mim o mais importante era a cura, eu vencer e não deixar a doença me vencer”, declarou.
Com o fim das sessões, veio a cirurgia. “Não foi necessário retirar a mama, apenas o quadrante. A quimioterapia deu muito certo. Assim como meu tumor havia se desenvolvido muito rápido, com a quimio ele regrediu também. Então, dois meses depois da cirurgia, iniciamos a radioterapia. Foram 25 sessões. Ia de segunda à sexta, com o pessoal da Saúde”, contou. Além da falta de apetite, Jaqueline sentia muita fraqueza. “Sinto que o corpo, não a mente, envelheceu 10, 15 anos”, enfatizou.
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Hoje, passado este tempo, segue realizando exames periódicos, de seis em seis meses ou de ano em ano, a depender da especificidade e fazendo uso de medicação, o que deve ser mantido pelo período de dez anos. Para cada tipo de câncer de mama e a depender do caso, os tratamentos variam. O cateter, instalado junto ao peito, também ainda a acompanha.
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Vivendo um dia após o outro, Jaqueline diz hoje dar muito mais importância para as coisas simples. “Não viver em cima dos problemas. Isso tive de aprendizagem. E viver a vida da melhor forma possível. Não guardar mágoas, rancor, não ter maldade, sempre fui uma pessoa de ajudar os outros, tanto que até hoje as pessoas vêm me dizer: eu rezei por ti. Costumo dizer que quando Deus é nosso guia, não há caminho difícil. Minha gratidão a Deus por ter me deixado viver junto a eles”, ressaltou.
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Professora aposentada, Maritê Henriqueta Carniel, 71 anos, sobradinhense de coração, foi diagnosticada com câncer de mama durante a pandemia. Foi em novembro de 2020 que sentiu uma alteração no corpo. “Era pela manhã. Levantei, ainda de camisola, fui tomar chimarrão com meu marido Rogério e parece que Deus mandou e coloquei a mão sobre o peito, onde não tinha o costume e senti um caroço. Aí fiquei preocupada e comentei com ele”. No mesmo dia Maritê procurou o médico e realizou os exames que foram encaminhados para biópsia.
Quando da chegada da notícia, sentiu-se muito triste. “Eu disse: ‘meu Deus, rezo para tantos doentes, agora isso para mim, nessa idade’. Fiquei realmente triste e bem apavorada. Aí comecei a comunicar meus irmãos. Eu chorava e meu marido chorava junto, todo mundo”, mencionou. Uma consulta com especialista foi agendada para o dia seguinte, em Santa Cruz do Sul, e novos exames foram realizados para ter mais subsídios sobre o problema. “Pessoas excelentes foram me atendendo e isso foi amenizando. Médicos, enfermeiras, todos os profissionais da saúde. As amigas foram vindo e sabia que vinham orações. A família sempre me atendendo. Meu marido faz tudo o que pode. Aí reagi bem ao tratamento, logo, eles me davam força”, contou.
O tratamento com quimioterapia iniciou em janeiro deste ano, mas no meio do percurso outro problema surgiu. “Com dois exames se constatou que tinha uma úlcera arrebentada, por isso tive sangramento. Aí passei trabalho no hospital, não foi fácil. Foi a única vez que precisei baixar. E muita fraqueza. Teve um período em casa que disse ao Rogério: ‘acho que não vou aguentar’, pois tinha muita canseira no coração. Não conseguia nem caminhar. Foi necessária transfusão de sangue também”, detalhou.
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Maritê, que diz ser desde sempre uma pessoa muito devota, agarrou-se ainda mais à fé. Nesse sentido, incluiu também o canto, pois a professora tem este dom e costuma mostrá-lo especialmente nas missas. Neste período mais recente, tem ensaiado em casa com a professora e amiga, Maria da Graça Lazzari. “Acredito que Deus conduz a minha vida e também Nossa Senhora. Isso foi me ajudando. Até que foi passando. Chegou a última quimioterapia. Foram 12. Foi uma alegria. Aí teve um espaço de dois meses e fiz a operação e foi tudo bem, não foi necessária retirada da mama, apenas uma partezinha no local do tumor”, destacou.
Ela conta que costumava fazer exames anualmente, mas, com a pandemia, acabou esperando um ano e alguns meses. “O baque quando vem essas notícias, só para quem passa. Até então, a gente sabe quem teve, que passa trabalho, mas não consegue imaginar o tamanho, a dimensão disso”, afirmou, dizendo ter sido bem difícil, um momento de muita correria e muitos exames. Ao se ver sem o cabelo, após algumas sessões de quimioterapia, Maritê se olhava no espelho e começava a chorar. “Aquilo me levava para a doença, me olhar daquele jeito. Foi difícil sim. Mas agora o cabelo começou a crescer, já estou até feliz com este pouquinho”.
Mãe de dois filhos, Rogerinho e Rafael, e avó, Maritê viveu um momento emocionante com os netos: eles também rasparam a cabeça durante o tratamento. “Quando começou uns fiozinhos na cabeça, eu tirei o lenço e meus netos estavam aqui em casa. Passaram a mão na cabeça e disseram: ‘vó, não precisa mais colocar o lenço’. Eles deram muita força. A família é a base”, enfatizou.
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Nesta sexta-feira, 1º, Maritê inicia a sequência do tratamento, com radioterapia, em sessões diárias. “Estou voltando à minha vida normal. É um momento feliz da minha vida, até porque vi que passou aquela etapa mais difícil, e acredito, não voltará tão cedo a ser tão difícil assim”, disse ela, entusiasmada, e com um sorriso largo, repleta de esperança. “Quero que todos tenham saúde. Minha palavra base é esta: saúde pra ti, saúde, saúde, que é a melhor coisa”.
A campanha Outubro Rosa busca conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. O período costuma ser marcado por diversas ações, com ênfase no compartilhamento de informações a respeito da doença. Conforme o médico ginecologista e obstetra, Gileno de Pelegrin, a importância do diagnóstico precoce está intimamente relacionada ao índice de cura. “Quanto mais cedo, maior o índice de cura. A importância do diagnóstico precoce está exatamente no alto índice de cura. Sabemos que muitas mulheres têm medo do diagnóstico pensando na mutilação da mastectomia e das quimioterapias devido à queda de cabelo. Hoje em dia se cuida muito disso, pois sabidamente a questão da reparação com cirurgias que corrigem a mutilação aumentou a procura pelo diagnóstico. Há 20 anos, diagnóstico de câncer de mama era sinônimo de mutilação, mastectomia e sem resultado. Por isso havia o medo do diagnóstico. Hoje, em função do diagnóstico precoce, o índice de cura é bastante elevado”, explica o especialista.
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo. Segundo Pelegrin, é importante procurar o médico todo ano para realização de exames, variando conforme a idade da paciente. O médico ainda acrescenta que é fundamental também estar atenta ao próprio corpo. “Os sinais são de nódulos fixos e indolores, modificações na cor da pele, secreções espontâneas, retrações do mamilo, nódulos axilares, mas sempre lembrando que o diagnóstico antes desses sintomas aumenta o índice de cura”, destaca o ginecologista, sendo recomendado sempre a consulta médica e a adoção de hábitos saudáveis.
Ainda, conforme explica Pelegrin, durante a pandemia a realização de exames regulares caiu, prejudicando a possibilidade de detecção precoce de doenças. Nesse sentido, acrescenta que o IPE Saúde está promovendo uma ação de incentivo. “Durante todo este mês de outubro, o IPE Saúde está promovendo um incentivo aos usuários do convênio, na faixa etária entre 40 e 75 anos. Temos muitas usuárias do IPE na região. Mulheres que realizarem exames de mamografia pelo IPE, neste mês, não pagam o valor de diferença. A Clínica de Imagens Centro Serra aderiu ao programa”, destacou.
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