Houve um tempo em que eu era capaz de trabalhar em Candelária de manhã, estagiar aqui na Gazeta de tarde, ir para a faculdade à noite e, ainda mais à noite, ir para o ensaio no CTG. Hoje eu me pergunto de onde eu tirava essa energia, se quase não dou conta de tanto cansaço por trabalhar durante oito horinhas. É claro que ainda tem as coisas da casa, uma atividade que outra, um treino para não perder o ritmo, mas não tem sido fácil. Os tempos são outros e eu também.
Essa sensação de exaustão me incomoda. Sabendo o que eu conseguia fazer há uns cinco anos, parece que não estou sendo produtiva o suficiente ou que não mereço me sentir cansada. Afinal, se antes eu podia me desdobrar três, quatro turnos e ainda curtir um rolê de vez em quando, como que eu posso dizer que não aguento mais com um ritmo tão menos intenso? Gastei uma sessão de terapia inteira falando sobre isso.
O que recebi da psicóloga, além do “veredicto” de que eu não deveria invalidar o meu esforço – oras, é uma jornada inteira de trabalho, além do que aparece no dia a dia –, foi a seguinte analogia:
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– O tanque desse carro não está mais tão cheio. Não adianta querer chegar onde se ia antes, se não tem o combustível necessário.
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Apesar dos espirros, a primavera sempre foi minha estação preferida. Uma época com eventos legais, um clima bom, flores etc. Outubro, por exemplo, via de regra, é um dos melhores meses do ano. Também pudera, né? São poucas as pessoas que não adoram um chopinho na Oktober. Mas, ultimamente, tenho ouvido relatos recorrentes de que outubro não está sendo fácil.
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Quer dizer, outubro é o novo agosto? Parece que sim. Hoje, quando escrevo estas linhas, pouco mais de 20 dias deste mês se passaram. Mas a sensação coletiva é de que já é dia 52 de outubro de 2022. Esse clima estranho, pesado, com dias cinzentos, que faz as pessoas se prepararem para enfrentar uma chuvinha todos os dias, além de reclamações, também motiva questionamentos. O que tem feito esse outubro ser tão sofrido?
Para a gente, aqui na redação, dá para dizer que é um período de safra: evento atrás de evento. Começou com primeiro turno de eleições, três fins de semana de Oktoberfest, vem aí Procissão das Criaturas e, para encerrar, o segundo turno. Ufa? Não sei se já dá para comemorar, porque a retomada definitiva dos eventos presenciais promete um novembro também movimentado.
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Um parêntese: as eleições, ao meu ver, são o principal fator pelo desgaste coletivo. A ansiedade pela polarização instalada, pelo que vem por aí – e por esse outubro que não termina (a campanha do segundo turno parece estar durando mais do que a do primeiro) – está sendo um desafio para todos.
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De fato, o tanque do carro não está cheio, mas ainda vai fazer uns bons quilômetros. O negócio é saber quando pisar no acelerador e quando frear, aproveitar a paisagem do caminho e ser gentil quando as paradas forem necessárias. Está todo mundo cansado – e tá tudo bem.
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