Os seis dias em Capão da Canoa, no Litoral gaúcho, prometiam ser de tranquilidade e descanso em família. O santa-cruzense Roger Luis Simianer, de 31 anos, morador do Bairro Pedreira, havia marcado de alugar a casa de um vizinho seu, mas precisou reprogramar suas férias no trabalho. Isso fez com que tivesse de descartar o imóvel do conhecido e procurar na internet uma opção para as datas em que teria disponibilidade.
Como o objetivo era sair no dia 15 de fevereiro, precisava agilizar o aluguel, pois a maioria dos locais já estava agendada. “Já estávamos na terceira casa, as outras com que entramos em contato acabaram fechando com outras pessoas para aquelas datas e tínhamos que agilizar. Começamos a procurar num grupo no Facebook e entramos em contato com um homem. Era R$ 380,00 a diária, pedimos desconto e ele baixou para R$ 250,00. Ali a gente já deveria ter desconfiado”, disse Roger.
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Hoje, o leiturista da Corsan sabe que caiu num golpe e identifica a maioria dos sinais em posts de estelionatários no grupo chamado Aluguéis Temporada Capão da Canoa, no Facebook. Mas na semana passada, durante a negociação, mal fazia ideia de que muitas características do chamado golpe do falso aluguel do Litoral, como a redução repentina no valor, faziam parte de uma estratégia muito bem montada pelos criminosos.
“Ele fez um contrato de locação, com dados nossos e dele. Assinamos e mandamos. Fechamos as seis diárias em R$ 1,5 mil. Queríamos garantir logo o local, que era bom e próximo à praia, pois já tínhamos perdido outros por não confirmarmos logo. Fizemos dois depósitos via Pix, um de R$ 500,00 e outro de R$ 250,00, totalizando 50% do valor total que ele pediu. Na sexta-feira, pedimos umas informações e ele não respondia mais.”
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Quem estava tratando com o golpista via WhatsApp era a esposa de Roger, Graziela Martins, de 41 anos. Foi quando a despachante no CTK Clube de Tiro teve a ideia de sugerir ao marido que contatasse o estelionatário pelo WhatsApp dele, passando-se por um terceiro interessado. “Disse que queria fazer uma reserva para as datas que tínhamos marcado com ele pelo perfil da minha esposa, e ele disse que estava disponível. Foi a prova do golpe”, contou Roger.
A família do Bairro Pedreira registrou o boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Eles afirmam que, com o nome do golpista, chegaram à informação de que ele seria um detento do Presídio Regional de Bagé, que estaria cumprindo pena por tráfico de drogas. Em alguns momentos, após descobrir a farsa, Roger tentou conversar com o estelionatário, que admitiu o crime. “Ele me disse: ‘É o meu trabalho. Golpe não escolhe vítima’.”
O criminoso afirmou ainda que uma familiar dele havia sofrido com o mesmo golpe e agora as pessoas “iam sentir o mesmo”. “Eu sou vagabundo, ‘mano véio’”, disse em outra mensagem à vítima. “Vi uma mulher comentando sobre não acreditar que ainda tinha gente que caía. Agora, sabendo como é, é fácil de entender, mas na hora não. Acabamos caindo de inocentes”, comentou Simianer.
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A perspicácia do golpista foi tamanha que um dos pedidos para fechar o contrato foi um documento pessoal do contratante. Roger forneceu cópia de sua carteira de motorista. Com o documentos da vítima, o estelionatário acaba utilizando as informações para se passar por locador. “Tu acaba virando um laranja dele sem nem saber”, diz o morador do Bairro Pedreira.
Para completar, Roger e Graziela passaram a divulgar as situações de golpe no grupo no Facebook, visando alertar as pessoas. O golpista viu e, rapidamente, alterou a foto no seu perfil no WhatsApp, para não relacionar com as postagens dos santa-cruzenses. Por fim, já nessa segunda-feira, o estelionatário colocou a foto do casal do Pedreira no perfil dele. “Uma amiga, que adicionou ele para confirmar o golpe, viu que estava usando a nossa foto.”
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Agora, com os dados pessoais e fotos dos santa-cruzenses, as vítimas podem ser mais facilmente enganadas, por acreditarem que estão falando com a pessoa dona de um imóvel. “Registramos novo boletim de ocorrência em virtude dessa utilização de imagem e possível uso indevido dos nossos dados”, complementou o morador do Bairro Pedreira.
O casal, junto dos filhos Davi, de 8 anos, e Gabriel, de 12, continua buscando um local para passar as férias, mas com cautela. “Estamos procurando para as mesmas datas, porém somente se for com um conhecido, ou pelo aplicativo. Estamos conversando com uma pessoa de Vera Cruz, que tem casa em Arroio do Sal. Mas vamos ir até a casa dela antes de fazer o pagamento.”
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Desde o fim da última semana, já são duas famílias santa-cruzenses que caíram no golpe do falso aluguel no Litoral. Na edição da segunda-feira, a Gazeta do Sul revelou outro caso, de uma mulher de 29 anos, moradora do Bairro Avenida. Ela perdeu R$ 1 mil em situação semelhante à da família do Pedreira, após tentar reservar uma casa no valor de R$ 7 mil, referente a sete diárias na região de Bombinhas, Santa Catarina. O caso na Zona Norte também foi registrado na DPPA e é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP), sob responsabilidade da delegada Ana Luisa Aita Pippi.
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Sobre o da Zona Sul, o delegado Alessander Zucuni Garcia, titular da 2ª DP, confirmou que está investigando os detalhes apurados na ocorrência. “Nesta época do ano torna-se comum essa tentativa de estelionato, que muitas vezes acaba se consumando. As pessoas precisam ficar bem atentas nas redes sociais, porque há sempre possibilidade de estarem falando com um estelionatário. Por isso é sempre bom, se tiver condição, mandar alguém no local e confirmar na cidade a existência do imóvel, se é o número de telefone que tem para contato e cuidar nos depósitos, se não serão no nome de um terceiro. Essas são ações para se evitar um dissabor”, comentou Zucuni Garcia.
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