Durante uma aula do curso de Geologia um professor nos alertou: “Quem não estiver motivado passa por cima de um pontilhão e não enxerga, sob a água, o ouro que pode estar esperando para ser descoberto.” Um silêncio inundou a sala. Na época, ainda ao final dos anos 1970, a ênfase mineradora economicista era bastante trabalhada. Agora, há poucos dias, em uma “live”, ouvimos outro professor, o Rualdo Menegat, dizer que precisamos de geólogas e geólogos do Antropoceno, evidenciando um enfoque naturalista.
Também Balduino Rambo e José Lutzenberger acentuaram a necessidade de formar naturalistas, pois estes tendem à percepção abrangente dos acontecimentos ao tempo em que centram focalidades, até porque as ciências não se separam, mas convergem. Todavia, as convergências se fazem no âmbito da diversidade criativa e crítica, especialmente num cenário em que as certezas se diluíram, o que ficou reafirmado com a calamidade de maio.
Calamidade que vem se anunciando através do tempo que nós próprios criamos. Cabe lembrar o que escreveu Freud, no último parágrafo da obra O Mal-Estar na Civilização: “Atualmente os seres humanos atingiram um tal controle das forças da natureza que não lhes é difícil recorrerem a elas para se exterminarem até o último homem. Eles sabem disso; daí, em boa parte, o seu atual desassossego, sua infelicidade, seu medo.” Sigmund Freud escreveu isso em 1929.
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Nos dias de hoje agrega-se a veemente reflexão de Romar Beling, apresentada no jornal Gazeta do Sul em sua coluna de 15 e 16 de junho. Disse o jornalista: “Argumenta-se que a sociedade atual é especialista em construir; na verdade ela é especialista mesmo em destruir a natureza.” Que o digam as guerras, o Pantanal e outros biomas em chamas.
Assim, para que nossos erros não nos exterminem, o que precisamos buscar? A título contributivo, pois cada um encontrará sua resposta, podemos dizer que é tempo de uma sólida e continuada formação transversal, grande motivação solidária, significativa sensibilidade intuitiva, propensão à proatividade e inovação, alta capacidade de compartilhamento investigatório e atenção ativa às galopantes transformações sociogeobioambientais, que englobam os extremos climáticos, mas essencialmente suas interações multilaterais.
Talvez o professor que nos movia para a prospecção minerária hoje nos abrisse os olhos também para a água, já sobre o pontilhão, não enquanto uma substância isolada, mas em íntima correlação interfacial. Condicionalidade que nos convoca para a pedagogia instruída pela própria natureza. O melhor dos livros, em suas letras mais ilustradas, oferta-se na ambiência natural não artificializada, exigência convocatória para um novo tempo, de todas as profissões, atividades e iniciativas.
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Movimento Cinturão Verde
Encontre-se neste endereço com a “Biblioteca do Cinturão Verde”: https://linktr.ee/cinturaoverde. No acervo, você encontrará mapas, atas, artigos e informações pertinentes aos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelo Movimento Socioambiental. Inclusive o livro Cinturão Verde, e agora? (Editora Gazeta, 2013) encontra-se disponível.
Informamos que a cada segunda quarta-feira do mês, às 16 horas, no salão nobre da Prefeitura, são realizadas as reuniões públicas do Conselho Municipal de Gestão Socioambiental do Município de Santa Cruz do Sul. Em julho deverá ser aprofundada a temática dos geoparques, em agosto do IPTU ambiental e em setembro a ênfase se dará sobre as sub-bacias hidrográficas urbanas. Em outubro e novembro pretendemos ter construído um sólido e consistente painel com as diferentes proposições e definição das respectivas ações, de acordo com o proposto na cartilha de lançamento do Movimento, que aconteceu no dia 19 de janeiro deste ano.
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