“Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
es como descifrar signos sin ser sabio competente.”
(Violeta Parra)
Ainda falta muito para eu completar “un siglo”, mas nem me preocupo. Está bem assim e que a natureza “siga el corso”. O que me encanta é poder, já sem medo de críticas e muxoxos, observar o viver das pessoas.
Já descrevi aqui uma das primeiras lições que meu falecido pai me deu, quando eu tinha 15 anos. Eu estava num momento de folga e me encontrei com amigos na frente do Colégio São Luís, em Santa Cruz. Calçava meus sapatos Vulcabrás. Aproximou-se um engraxate e permiti que fizesse uma graxa caprichada (naquele tempo se engraxavam os sapatos de couro). O guri sentou-se aos meus pés e se pôs ao trabalho. Nisso meu pai passou com sua Dodge e me olhou, seguindo logo seu caminho. Na hora do almoço estava triste. Minha mãe lhe perguntou: “was ist los” (o que houve?). E meu pai perguntou a mim, também em alemão: “não poderias ter engraxado teus sapatos em casa?”
Meu pai, portanto, achou grave e sério o desperdício de dinheiro.
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É aí que quero chegar. No Brasil não está arraigada nas pessoas a virtude da poupança, do não às coisas supérfluas.
Criei filhos e filhas dando valor à poupança. Quando uma roupa não servia mais, o filho repassava para o mais novo. Todos levavam suas próprias merendas de casa. Na época não havia merendas gratuitas.
Tenho constatado desperdício até nas pessoas pobres. Temos empregada doméstica e eventuais faxineiras. Isso implica convivência, respeitosa, cuidadosa.
Por vezes é inevitável se flagrar a irresponsabilidade financeira. São sérias, trabalhadoras, mas muitas gastam em itens não urgentes, se endividam com o celular e o cartão, acabando no abismo da inadimplência.
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Uma nossa colaboradora, que tem carteira assinada e tudo, atualmente está nervosa porque sua filha vai fazer 15 anos. Relatou que percorreu vários “espaços” de festas e não encontrou nada por menos do que R$ 2 mil. Fora comida para 100 pessoas, bebidas, book, roupa etc. A mãe da menina vem de bicicleta para o serviço, se mata trabalhando nas faxinas eventuais e está desesperada por não poder dar uma festa condizente para a pimpolha que nem a louça lava em casa.
Nenhum filho meu foi para a Disney, nem teve casamentos suntuosos. E acreditem, ninguém morreu nem fez beicinho. Com todos, negociei o valor da pretendida festa por uma aplicação financeira módica. E, de inhapa, uma comemoração familiar restrita. Resumo árabe: ou se poupa, ou se perde o carro e se volta a andar de camelo.
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