O cenário dos últimos tempos na agricultura familiar novamente se mostra desafiador para aqueles que produzem boa parte do que vai todos os dias para a nossa mesa de refeições. A elevação do valor dos insumos a percentuais múltiplas vezes mais altos que a inflação e o preço pago pelo que sai do campo, em alguns casos até com queda no valor, colocam o agricultor mais uma vez diante do desafio de tentar se reinventar para viabilizar a sua sustentabilidade e a permanência nas atividades rurais.
A exemplo do Vale do Rio Pardo, a região onde vivi a infância e adolescência, o Noroeste Gaúcho, caracteriza-se por muitas pequenas propriedades. E até há poucos anos, quase todos os produtores vendiam leite para garantir uma renda mensal. O plantel de vacas nunca era grande, com até meia dúzia de animais. A ordenha da noite ia para a geladeira para no dia seguinte, muitas vezes antes do sol nascer, ir para estrada com a produção da manhã, onde o leiteiro fazia a coleta. Os 10, 15 ou 20 litros diários eram importantes para a compra de alguns mantimentos no fim do mês, ajudar nas despesas dos filhos para os estudos e outros gastos.
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Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais difícil a manutenção dos produtores de leite que vendiam de balde ou pequenos tarros. As novas normas exigiram investimentos para a adequação, custos muitas vezes distantes das condições de viabilidade financeira dos pequenos agricultores, ainda mais com a instabilidade no preço pago pelas indústrias. E mesmo entre aqueles que investiram nas adequações, não são poucos os que desistiram nos últimos anos diante da falta de compensação pelo trabalho e dos custos de produção com o retorno financeiro.
Assim, não é surpresa que a soja toma conta de cada vez mais espaço. E quem tem terras sem condições do trabalho mecanizado, dificilmente resiste no campo. Ainda mais aqueles que moram mais distantes da cidade, sem condições de comercialização de verduras e frutas nas feiras da área urbana. Com o aumento do custo de produção, fica difícil imaginar como o pequeno agricultor manterá a produção. Levantamento da Fetag há poucos dias apontou a elevação de 160% no preço da ureia no último ano, 139% nos fertilizantes, 22% na ração, 53% no diesel, 64% na gasolina e 49% na energia elétrica.
O impacto da alta nos custos de produção foi de 32% no milho, 38,3% na soja, 45% no trigo e 33% no leite, com tendência de escalada ainda maior nos próximos meses, e redução das cotações aos produtores. Com essas diferenças, como chegar ao fim da safra com alguma margem de lucro? Como investir em tecnologia, melhorias nas propriedades, em equipamentos e no estudo dos filhos?
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Todos sabem da necessidade de evoluir em qualquer área, inclusive nas pequenas propriedades, com novas tecnologias e formas de produção. Mas isso fica difícil para o pequeno produtor, sem capital e sem garantia de preço para a sua produção. As políticas de diversificação rural sempre são bem-vindas, desde que incluam mercado para o produto final e garantia de preço. Por isso, para que não ocorra cada vez maior esvaziamento populacional das áreas de pequenos produtores, os governos precisam dar mais atenção a esse segmento, que ocupa muitas pessoas e é fundamental pela produção de alimentos saudáveis e, na maioria das vezes, cuida da preservação do solo e do ambiente.
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