Esse sábado, 11, foi um grande dia para Santa Cruz do Sul e para a sua Academia de Letras – a posse solene de Osvino Toillier. Aqui eu revivo sua valiosa contribuição para o início de minha caminhada na apropriação do idioma pátrio.
Ao final do ensino primário, não sem muito esforço, e sempre decorando tudo feito papagaio, eu havia conseguido me apropriar minimamente da língua portuguesa. Meu Mundo, até então, era vivenciado por meio do idioma alemão, como era o da absoluta maioria dos moradores da Alte Pikade de então.
Meus parcos conhecimentos, um tantinho mais desenvolvidos na compreensão do que na expressão e, principalmente decorando tudo, possibilitaram-me a aprovação no Admissão ao Ginásio, porta de entrada para o Ginásio Científico do Mauá.
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Minha alegria por poder, finalmente, dar continuidade a minha ampliação de visão de mundo foi logo substituída pelas inúmeras dificuldades em relação ao idioma. Amigos, entre os colegas, não os tive. Na sala de aula, bastava o professor me chamar e todo mundo se virava para mim, para poder rir do meu jeito, sem jeito de falar.
Minha primeira professora de português ficava horrorizada com meus parcos conhecimentos do idioma. Meu caderno, recolhido semanalmente por ela, voltava com um grande e redondo zero, reproduzido por extenso para não deixar dúvidas sobre sua avaliação em relação a minha escrita.
Mas eu sabia falar em alemão e isso me proporcionava um certo conforto. Conforto este que foi enterrado pelo Vô Max, pai do deputado Norberto Schmidt – em sua casa na frente do colégio, eu pernoitava. Vô Max era um intelectual.
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Ouvia música clássica e possuía uma vasta biblioteca. Nela eu tomava conhecimento dos grandes escritores alemães no original. Em sua avaliação – de pessoa com domínio da língua alemã – considerava meu alemão muito pobre.
Sem saber, nem bem português, nem bem alemão, eu me encontrava no limbo. Senti uma enorme necessidade e desejo de me apropriar bem das duas línguas. Muito precisei pular sobre minha própria sombra – über meinen eigenen Schatten springen.
Naquela situação de insegurança, eu me habituei a escrever e reescrever meus pequenos textos de redação. No colégio era sempre a última a entregá-los, cheios de cortes e de rabiscos. Mas o universo conspirou para que um grande mestre entrasse em minha vida escolar – OSVINO TOILLIER – pessoa que muito reverencio – meu eterno Mestre.
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Professor Osvino acendeu uma nova luz por meio de seus muitos incentivos, com seu jeito tranquilo, atencioso e motivador. Sua presença foi o grande impulso de que precisava, para a ampliação de minha compreensão, expressão e de meu repertório linguístico em língua portuguesa. Fazíamos muitas leituras e resumos de livros lidos.
Aliás, as muitas leituras contribuíram também para ampliar meu mundo criativo de pensamentos e ideias e foram fundamentais para o início de minha imersão no mundo da literatura. Com professor Osvino, iniciei de verdade minha longa caminhada de apropriação da língua portuguesa. A presença de meu mestre em minha vida foi valiosa para vencer inúmeros obstáculos.
Nunca me esquecerei de uma de suas muitas frases em meu caderno de redações: “Quem te viu e quem te vê, como melhorou a tua redação.” Também nunca esquecerei de sua fala, quando nasceu seu primeiro filho. Com rosto iluminado pela felicidade, nos disse: “Filho não criamos para nós, seus pais, filhos criamos para o mundo”.
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Como assim? Por muito tempo fiquei matutando a respeito. Acompanhando o crescimento de meus próprios filhos, finalmente entendi. Quando terminei o segundo grau, sua figura motivadora me valeu na escolha de curso na hora de fazer vestibular.
Assim, em dezembro de 1974 concluí o segundo grau; em janeiro de 1975 prestei vestibular na Universidade Federal de Santa Maria, em Licenciatura Plena, para o qual fui aprovada; em fevereiro casei e me mudei para Santa Maria (meu parceiro de vida era, na época, gerente regional da CRT de lá) e em março ingressei na universidade. A presença de Osvino foi tão marcante em minha vida que ele e sua esposa foram meus padrinhos de casamento.
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