Minhas três filhas andam muito interessadas no estilo de vida dos uga-bugas, que é a forma como decidiram chamar os homens das cavernas. Pelo que entendi, as gurias apelidaram nossos ancestrais pré-históricos de uga-bugas por entender que era essa estranha expressão que utilizavam para tudo, em tempos onde as formas de linguagem ainda eram muito rudimentares. Segundo me explicaram, quando um camarada pré-histórico avistava um tigre-dentes-de-sabre, por exemplo, tratava de avisar aos demais sobre o perigo aos gritos:
– Uga-buga! Uga-buga!
Então o líder do bando, já de lança em punho, se aproximava para questionar:
– Uga-buga?
E o sujeito que dera o alerta confirmava, agora aos sussurros, em tom de cumplicidade para com seu chefe:
– Aham… uga-buga…
Estranhamente, conforme as gurias me relataram, a mesma expressão seria usada quando um rapaz das cavernas se apaixonava por uma moça das cavernas. Em tais ocasiões, o pretendente, vestido com suas melhores peles, oferecia à jovem uma das mais lindas flores dentre as que brotavam nas exóticas matas daqueles tempos. E, ruborizado, pedia-lhe a mão em casamento:
– Uga-buga?
Nesses casos, só poderia haver duas respostas. Se a moça não simpatizasse com o pretendente, ia logo avisando:
– Uga-buga!
Mas, caso gostasse do moço, olhava para a flor e suspirava:
– Ahhhh… uga-buga…
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Outro dia, as três marotas passaram a discorrer sobre como ocorreu a domesticação dos cães na Idade da Pedra Lascada. Relataram que a longa amizade entre homens e cachorros começou quando lobos passaram a se aproximar das pessoas, interessados nos restos de comida que eram deixados, displicentemente, no entorno das cavernas e acampamentos (sim, no que toca ao descarte de alimentos, nossos ancestrais não eram muito asseados).
E uma das gurias – não revelarei qual, para evitar constrangimentos – largou esta pérola:
– Os lobos vinham para revirar as lixeiras dos restaurantes.
Aí não tive como deixar barato:
– Restaurantes? No Paleolítico?
Para confirmar a hipótese, as três argumentaram que, se nossos ancestrais eram caçadores-coletores, os mais arrojados, de espírito empreendedor, certamente cogitaram abrir restaurantes, onde serviriam os resultados de suas caçadas e coletas. No menu, sopa de tartaruga, na entrada, seguida por costeletas de mamute ao ponto. De sobremesa, frutas silvestres, sem agrotóxicos. Mas também haveria pratos vegetarianos: raízes de plantas diversas acompanhadas por brotos de araucária.
Sempre muito atenciosos, os garçons acomodavam os clientes em assentos de pedra, junto a mesas de pedra, apontavam o menu – exposto em pinturas rupestres, nas paredes da caverna-restaurante – e, para anotar o pedido, perguntavam:
– Uga-buga?
E o cliente, uma vez tendo escolhido o prato, respondia:
– Humm…, uga-buga, com uga-buga e uga-buga.
O garçom então curvava-se em uma mesura, e assentia:
– Uga-buga.
E retirava-se à cozinha, para repassar o pedido ao chef:
– Uga-buga, com uga-buga e uga-buga. E pra já!
O problema é que, também naquela época, comer bem não saía barato. E muitos clientes, quando chegava a conta, se assustavam:
– Uga-buga!!!
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Claro que, em uma dessas conversas com as gurias, surgiu aquela velha questão que sempre deixa as crianças confusas:
– Pai, afinal, os homens das cavernas enfrentavam dinossauros? – quis saber a caçula, Ágatha.
Expliquei que não, dado que os dinossauros foram extintos há 65 milhões de anos, enquanto o homo erectus, antecessor do homo sapiens, surgiu há apenas 1,8 milhão de anos.
– Jamais houve um encontro entre homens e dinossauros – garanti.
Mas a traquinas, com semblante desconfiado, não ficou de todo convencida.
– Resta saber quem está mentindo – disse, com ares de reflexão. – Se o pai ou os criadores dos Flintstones…
E eu, aborrecido, ralhei com ela:
– Uga-buga!!!
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