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Os sapos enterrados na ERS-403

A paciência dos brasileiros em alguns aspectos não tem limites. Principalmente quando dependem de decisões políticas. Chega a tal ponto que as pessoas desistem de esperar, por não acreditarem mais em sonhos, promessas e outras perspectivas. Vejam o exemplo das obras de asfaltamento da ERS-403, rodovia que liga dois dos municípios mais antigos no Estado: Rio Pardo e Cachoeira do Sul. Apesar da luta pela pavimentação existir desde os anos 70, com o início das obras no governo de Alceu Collares no começo da década de 90, atualmente 27 quilômetros da extensão total de 62 quilômetros ainda são de chão batido.

Quando um time de futebol vive uma fase ruim, com resultados nada satisfatórios em seu estádio, costuma-se dizer que há sapo enterrado no campo. No caso da ERS-403, deve ter muitos. Coitados dos animais, excelentes caçadores de insetos, nada têm a ver com a ineficiência do Estado. Já o ex-governador Alceu Collares quando governou o Rio Grande do Sul, ao se referir à lentidão da obra de construção de uma rodovia, usou a expressão “em passo de cágado”. Apesar do seu movimento lerdo, o réptil semelhante a uma tartaruga, nestes anos todos, desde a data da primeira ordem para o início do asfaltamento, certamente já teria ido e voltado pelo trajeto muitas vezes.

Certamente se a execução das obras na rodovia ocorresse com picaretas, pás e carroças, como há dois séculos, a ERS-403 hoje estaria duplicada. Para piorar, os trechos com asfalto já ficaram quase intransitáveis em consequência dos buracos na pista. E ao final do mandato de um governador, com a paralisação dos trabalhos, o Ministério Público Estadual teve que intervir para garantir as condições de trânsito nos pontos com serviços inacabados. Como essas, histórias do descaso não faltam.

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Na época do mandato do ex-governador Antônio Britto, ele participou de um grande churrasco em um ginásio à beira da estrada, no interior de Rio Pardo, para anunciar a retomada das obras. Foi um dos tantos anúncios. Tenho pena dos agropecuaristas que cederam os bois para o banquete. E não é por falta de representação política na região que as obras não andam. Afinal, faz tempo que tanto Rio Pardo como Cachoeira do Sul têm representantes na Assembleia Legislativa e, em alguns períodos, até aliados ao governo. E as tantas mobilizações também já cansaram de promessas e de esperar.

Difícil encontrar uma explicação para a obra demorar muito mais que novela mexicana. Afinal, a rodovia não liga apenas dois municípios históricos, mas é fundamental para o escoamento da produção de soja, tabaco, arroz, milho e pecuária da região. Além disso, pode se tornar rota de passagem do fluxo de caminhões e veículos procedentes da região de Cruz Alta em direção ao porto de Rio Grande. E fica a frustração com a perspectiva de mais um governador (o oitavo desde o início das obras) passar pelo Palácio Piratini sem inaugurar a rodovia com asfalto. Afinal, Eduardo Leite já anunciou dois pacotes de investimentos em estradas e nestes não houve a dotação de qualquer centavo para a ERS-403.

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