É nos altos da região serrana de Venâncio Aires que o ar fresco supera o calor da cidade e o verde alenta rotinas já tão acostumadas com o caos urbano. Em Linha Silva Tavares, no distrito de Vila Deodoro, o casal Rejane e Rogério Schwinn prepara o chimarrão, corta a cuca recém-saída do forno e espera os visitantes em frente a uma antiga moradora da localidade: a figueira centenária.
Senhora que já perdeu as contas da idade – engenheiros florestais estimam 300 anos –, a árvore tem transformado a rotina da propriedade. Conterrâneos e turistas querem admirar, tirar foto ou, simplesmente, sentir-se abraçados por seus longos e curvos galhos. São 25 metros de altura, 12 de circunferência e 500 metros quadrados de área total que formam um dos mais estonteantes pontos de visitação do interior da Capital Nacional do Chimarrão. É o turismo rural que ganha força e fomenta a autoestima da comunidade.
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Foi em junho de 2017, por meio do projeto Redescubra Venâncio, que a primeira excursão subiu o morro da região serrana e viu, de perto, a figueira tombada desde 2012. Sete meses depois, muitos foram os avanços na propriedade. Atento às potencialidades turísticas, o casal construiu um pequeno mirante, deu forma a balanços para as crianças, construiu mesas de madeira ao redor da figueira e ainda delineou caminho para uma curta trilha que dá acesso a uma cascata.
“Sempre teve gente que vinha aqui admirar a figueira, mas era muito isolado. Nada se compara ao que é hoje. Teve um fim de semana que não tinha mais espaço para estacionar”, comenta Rejane. Incentivados pela coordenadora do Departamento de Turismo do município, Angélica Diefenthaler, os agricultores foram além. Se avisados com antecedência, preparam até uma galinhada de almoço e ainda vendem produtos da propriedade. Aos que desejam apenas visitar, é sugerida uma contribuição espontânea.
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Mas não é só a renda extra que empolga a família Schwinn. Segundo Rejane, trata-se de um mundo novo que se abre. “Estamos conhecendo tanta gente que tu não imaginas. Já recebemos pessoas da China, dos Estados Unidos e até um casal do Pará”, lembra. A propriedade também sedia eventos. No Natal, um concerto com tenor e apresentação de teatro lotou o gramado. Para 2018 também está sendo organizada a segunda edição do Bergamoteando de Inverno. “Nesse evento a ideia é fazer com que os próprios visitantes colham a bergamota do pé e depois comam embaixo da figueira”, explica Schwinn.
E os reflexos do fomento ao turismo no interior já podem ser observados em forma de cooperação entre a vizinhança. Exemplo é a estrada de Vila Deodoro, onde o Clube de Mães lidera um movimento de recuperação das hortênsias para mostrar que não só a chegada, mas os caminhos da região serrana também podem encantar. “Trabalhar o turismo rural valoriza as comunidades do interior do município e traz um ganho social muito significativo”, avalia Angélica.
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Quero ir
Interessados em cumprir o roteiro completo da região serrana podem entrar em contato com a coordenadora de turismo Angélica Diefenthaler pelo telefone 9 9730 3139 ou com a guia de turismo Sônia Lang, 9 9996 0350. Mas se a ideia for pegar o carro no fim de semana e simplesmente ir, antecipe a visita com o casal Schwinn pelo telefone 3793 1889. A figueira também está no Facebook por meio da página Figueira Centenária. O local fica situado a 27 quilômetros e a 40 minutos (de carro) do Centro de Venâncio. Para acessar, basta entrar na cidade e seguir as placas que indicam a ERS-422, estrada que também dá acesso a Boqueirão do Leão.
O QUE MAIS TEM PARA VER
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Acompanhados da guia de turismo Sônia Lang, os visitantes que cumprem outro importante itinerário, a Rota do Chimarrão, circulam pelo Centro de Venâncio e seguem para a Escola do Chimarrão. Depois conhecem a Chácara do Mel, Agroindústria Coutinho, o Viveiro de Mudas Flor da Terra e Artesanato Ideias Mil. Lá entendem de perto toda a produção da folha de erva-mate, desde o processo de dormência da semente até o período de colheita. Os visitantes também conhecem a história da Igreja de Vila Palanque (1904) e a Casa Paroquial (1930).
Um quilômetro antes da figueira, também no distrito de Vila Deodoro, o Mirante Lauro Erdmann exibe uma das paisagens mais impressionantes da região serrana. De lá podem ser observados os morros, a intacta mata atlântica, o terceiro distrito e a cidade de Venâncio Aires. O espaço, inaugurado em junho do ano passado, foi cedido por meio de uma parceria público-privada. Para acessar o local, basta seguir as placas “Mirante”, distribuídas pela estrada de Vila Deodoro, estacionar o carro em frente a uma cerca sem saída, andar dois minutos por uma pequena trilha e curtir a vista. O lugar conta com bancos e um deck onde os turistas aproveitam para fazer fotos ou tirar aquela selfie básica. Tudo isso acompanhado, é claro, do conjunto vento, silêncio e horizonte. Cenário perfeito para apenas apreciar. A visita é aberta ao público e não há cobrança de ingresso.
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Tá vendo esta foto aí acima? Foi um passeio na localidade de Cerro do Baú em agosto. Também por meio do projeto Redescubra Venâncio, um grupo de 50 pessoas pôde aproveitar a área verde para descansar, meditar e caminhar pela natureza. A região tem vestígios arqueológicos, blocos rochosos e fontes d’água. A ideia é promover mais passeios como esse em 2018.
Que tal adicionar mais uma experiência na visita ao interior de Venâncio? No caminho em direção à região serrana, o Balneário Paraíso oferece a versão caipirinha da erva-mate. Batizada de caipimate, a bebida é feita à base de cachaça fervida com erva. O gosto pouco remete ao chimarrão como conhecemos e mais parece um suco refrescante. “No último fim de semana, foi uma sensação”, disse o autor do drinque, Saron Hann. O copo da bebida custa R$ 7,00, mas a receita não é divulgada de jeito nenhum. Na temporada, o balneário fica aberto todos os dias, até as 20 horas.
Segundo a coordenadora do Departamento de Turismo de Venâncio Aires, Angélica Diefenthaler, a procura por lazer em lugares com características mais naturais contribui para o crescimento e a valorização do turismo no interior. “A vivência nos ambientes rurais proporciona uma volta ao passado, resgate afetivo que os pais querem repassar aos filhos.” Nesse contexto, Angélica acrescenta que o contato das pessoas com o ambiente faz desses passeios uma experiência única e enriquecedora. É o turismo rural que ganha força no Vale do Rio Pardo.
Cultura, gastronomia e mate cevado
Há quem diga que uma das mais ricas bagagens de viajar é conhecer pessoas e culturas e aproveitar o que de melhor a experiência in loco pode oferecer. Na Rota do Chimarrão, essa vivência é sentida desde os primeiros minutos. Em Linha Travessa, Rejane Rüdiger Pastore faz questão de compartilhar conhecimento e espalhar aos quatro cantos a herança cultural deixada por seus pais. À frente da Escola do Chimarrão, recebe os visitantes de cuia na mão e sorriso no rosto, e logo no “olá” de boas-vindas, ela expressa confiança de quem domina – e ama – o que faz. “É um projeto cultural educacional que atende qualquer cidadão interessado em descobrir mais sobre o mundo da erva-mate.”
Dentro do galpão rústico que por muitos anos foi a sede da primeira ervateira da família, fala sobre a produção da erva e explora as propriedades medicinais do chimarrão. A experiência fica, literalmente, melhor quando é servido um bolo de erva-mate. Mas não associe o amargo do chimarrão ao lanche. O bolo mais parece um pão de ló: docinho e de desmanchar na boca. Se a visita for em um dia quente, Rejane também oferece o tererê, este servido na cuia de porcelana.
E não para por aí. Durante a visitação, os turistas aprendem a elaborar 36 tipos de chimarrão, ganham um certificado de especialista na bebida e fazem jus ao slogan da entidade: “Tão bom quanto tomar é saber fazer”. A escola também inventou a astrologia do chimarrão. Aí tem que ir pessoalmente mesmo e descobrir como se comportam os “chimarreiros” de cada signo.
Quer conhecer a escola? Entre em contato com Rejane, pelos telefones 9 9708 9574 e agende um horário. Para fazer a rota completa, excursões devem ser combinadas também com Angélica ou Sônia.
Fuja do calor na Cascata Chuveirão
A Cascata Chuveirão é o destino ideal para quem quer escapar do calor da cidade e curtir uma bela queda d’água. Situado em Linha Harmonia da Costa, a dez quilômetros da principal rua da cidade, o local tem estrutura de camping com churrasqueira, banheiro e cabana comunitária para preparo de refeições. Se a intenção for passar o dia, é importante que os visitantes levem lanches e água, pois não há vendinhas por perto.
A cascata fica aberta das 8 às 20 horas. Para entrar, o proprietário Irio Erni Posselt cobra uma taxinha de R$ 8,00. Quem sai do Centro de Santa Cruz deve programar uma hora até chegar ao local. Ao entrar no Centro de Venâncio, a orientação é seguir em direção à Linha Grão Pará. A cascata foi cenário do filme “A Paixão de Jacobina”, estrelado pelos globais Thiago Lacerda e Letícia Spiller em 2002.
O que diz quem já foi
Melyana Apolinário Almeida, 33, e Lucas Almeida Sobrinho, 36 – Belém do Pará
“Depois de visitar Gramado e Canela, Melyana e eu decidimos fazer alguns roteiros alternativos onde buscamos a experiência de conhecer como as pessoas dessas localidades vivem. O mais interessante foi ter contato com a produção da erva-mate e conversar com os produtores. Foi muito rico descobrir que há diferentes tipos de erva-mate e existem outras formas de fazer chimarrão. Voltei ao Pará com dez pacotes de erva, cuia e bomba. Pretendemos voltar e explorar ainda mais o interior do Vale do Rio Pardo.”
Andreia Haas, 39, coordenadora de universidade –Venâncio
“Por ser venâncio-airense eu já conhecia um pouco do nosso interior, mas depois que fiz a Rota do Chimarrão pelo projeto Redescubra Venâncio, vi o quanto ele é fascinante. É a oportunidade que temos de entender sobre a história, descobrir as origens, enfim, mergulhar na nossa cultura. A rota serrana também me marcou muito com sua beleza natural sem igual. Indico para todos os meus amigos. Sendo de Venâncio ou não.”
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