A exatamente um ano da próxima eleição – o primeiro turno será no dia 2 de outubro de 2022 –, uma certeza e diversas dúvidas cercam a corrida pela Presidência da República. A certeza é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (ainda sem partido), que ponteiam as pesquisas de intenção de voto com uma vantagem variável para o petista, tentarão manter polarizada a disputa. Já as dúvidas envolvem quem serão os nomes que tentarão encabeçar a chamada “terceira via” para furar o favoritismo da dupla – e que até agora não demonstraram fôlego para isso.
O cenário, porém, ainda é nebuloso. Faltando 12 meses para a votação, as atenções estão voltadas à definição de quem será o presidenciável do PSDB – as prévias serão em novembro e a tendência é de uma queda de braço acirrada e com resultado imprevisível entre os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de São Paulo, João Doria. Também há expectativa sobre a decisão do ex-juiz Sérgio Moro, que vem sendo cortejado pelo Podemos e sinalizou que pode bater o martelo sobre concorrer ou não em novembro.
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Outro fator importante é a fusão entre o DEM e o PSL, que está em vias de ser formalizada e criará um dos maiores partidos do Brasil. O processo pode influenciar nos planos das duas legendas, que têm o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o apresentador José Luiz Datena, respectivamente, como pré-candidatos. Aguarda-se ainda um posicionamento do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), que pode migrar para o PSD e tem o nome defendido por integrantes da sigla para compor alguma chapa.
Além de Bolsonaro e Lula, o único nome praticamente certo é o de Ciro Gomes (PDT), que concorrerá pela quarta vez. Na semana passada, o Psol decidiu não ter candidato próprio em 2022, após disputar todas as eleições desde 2006. Outros nomes – como o dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB) e o do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) – também já foram mencionados.
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Com a ajuda da cientista política e fundadora do Instituto Pesquisa de Opinião (IPO), Elis Radmann, e do cientista político e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha, a Gazeta explica a situação e analisa o potencial – diferenciais e limitações – dos nove principais pré-candidatos a presidente.
O panorama da disputa hoje
João Doria (PSDB)
Quem é: atual governador de São Paulo.
Situação: disputará as prévias do PSDB em novembro.
Pontos fortes: à frente do maior colégio eleitoral do Brasil, destacou-se no enfrentamento da pandemia e na articulação da vacina CoronaVac, primeira aplicada no País. Conforme Elis, uma parcela do eleitorado enxerga Doria como “um gestor de ponta e visionário”.
Pontos fracos: ao contrário dos principais adversários, não tem identificação popular e é visto como oportunista político por parte do eleitorado.
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Eduardo Leite (PSDB)
Quem é: atual governador do Rio Grande do Sul.
Situação: disputará as prévias do PSDB em novembro.
Pontos fortes: aos 36 anos, tem a juventude e a capacidade de comunicação como méritos. “E o fato de ele ter tido a coragem política de assumir a condição homoafetiva. Isso é uma bandeira importante”, acrescenta Rocha.
Pontos fracos: ainda é pouco conhecido no Brasil e enfrentaria oposição ideológica pela linha conservadora quanto à política econômica.
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Luiz Henrique Mandetta (DEM)
Quem é: ex-ministro da Saúde.
Situação: deseja concorrer, mas os rumos do DEM ainda são indefinidos em virtude da fusão com o PSL.
Pontos fortes: consolidou uma imagem de “defensor do SUS” durante o período em que conduziu o enfrentamento da pandemia.
Pontos fracos: é visto por parte do eleitorado de direita como um traidor do governo Bolsonaro. “O seu posicionamento antinegacionista o coloca mais ao centro, mas a sua identidade política está mais à direita. Esse conflito é seu ponto fraco”, diz Rocha.
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Datena (PSL)
Quem é: apresentador de TV.
Situação: foi lançado pré-candidato, mas sua candidatura é incerta devido à fusão do PSL com o DEM.
Pontos fortes: é conhecido por praticamente 100% do eleitorado e associado à área da segurança pública.
Pontos fracos: sem histórico político, pode ser visto como um aventureiro. Além disso, tem perfil polêmico em meio a uma demanda por conciliação. “É um eterno ‘candidato a candidato’ e os eleitores afirmam que ‘ele deve ficar onde está’”, salienta Elis.
Jair Bolsonaro (sem partido)
Quem é: atual presidente do Brasil.
Situação: confirmou há poucos dias que irá disputar a reeleição, mas ainda precisa buscar um partido – é cobiçado por siglas como PTB e PP.
Pontos fortes: mantém uma base expressiva de eleitores alinhados, por quem é associado à antipolítica e a valores cristãos. “Ele tem uma audiência cativa. Em torno de um quinto do eleitorado é irredutível em relação a Bolsonaro”, analisa Rocha.
Pontos fracos: além da oposição ideológica, enfrenta rejeição por causa da forma como conduziu o combate à pandemia.
Lula (PT)
Quem é: ex-presidente do Brasil entre 2003 e 2010.
Situação: voltou a ficar elegível em março e sua candidatura é praticamente certa.
Pontos fortes: é associado ao período de maior crescimento econômico e mobilidade social do País e também a políticas de inclusão social. “Ele tem um parâmetro de comparação. A memória das pessoas remete a um tempo de bonança”, observa Rocha.
Pontos fracos: embora não tenha pendências com a Justiça no momento, teve a imagem muito danificada pela Operação Lava Jato e enfrenta forte oposição ideológica.
Ciro Gomes (PDT)
Quem é: ex-governador do Ceará.
Situação: pretende concorrer pela quarta vez à Presidência.
Pontos fortes: muito conhecido no País, tem simpatia de eleitores de esquerda e grande habilidade no debate econômico. “Ele é visto como um candidato que enfrenta as elites e se preocupa com a população”, observa Elis.
Pontos fracos: já sofreu desgastes por causa do comportamento irascível, além de enfrentar oposição ideológica.
Sérgio Moro (sem partido)
Quem é: ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça.
Situação: ainda não definiu se irá concorrer. É cortejado pelo Podemos.
Pontos fortes: por seu protagonismo na Operação Lava Jato, é visto por parte da população como uma referência no combate à corrupção.
Pontos fracos: sua atuação na Lava Jato foi colocada sob suspeita e parte das decisões foi revertida. Além disso, teve uma saída conturbada do governo. “Ele é amado e odiado. Há leitura de que seria um líder muito capaz, mas que se perdeu nas armadilhas da política”, analisa Elis.
Rodrigo Pacheco (DEM)
Quem é: atual presidente do Senado.
Situação: cortejado pelo PSD, é citado como um possível nome, mas ainda não confirmou intenção de concorrer.
Pontos fortes: tem uma imagem de sobriedade e perfil conciliador, além de transitar bem junto às elites das instituições.
Pontos fracos: ainda é pouco conhecido, o que impede que eleitores tenham um juízo de valor mais consolidado sobre ele. “Creio que demandaria uma ou duas eleições para consolidar essa imagem. Como presidente do Senado e pela sua aparência de postura sóbria, seria um bom candidato a vice”, comentou Rocha.
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